Análise do jogo Syphon Filter
19 de novembro de 2020Por: Cosmão
Ficha do jogo: |
Data de lançamento do jogo original: 17 de fevereiro de 1999 Gênero: Tiro em terceira pessoa Desenvolvedores: SIE Bend Studio, Sony Interactive Entertainment Publicadores: 989 Studios, Sony Interactive Entertainment Plataformas: PlayStation One | PlayStation 3 |
O fim da década de 90 nos reservou grandes surpresas no mundo dos videogames. O Playstation já estava consolidado, o Sega Saturn desfilava como um zumbi e o Nintendo 64… bom, o 64 sempre teve sua parcela fiel de público, mas, diferente do sucesso da rival Sony, a Nintendo satisfazia seus fãs basicamente com seus próprios jogos, ao invés de depender de thirds.
Para se ter uma pequena ideia do cenário na época, em 1999 o Nintendo 64 recebia Donkey Kong 64 e Pokémon Snap, dois jogos que fizeram um bom sucesso no console.
Syphon Filter foi lançado para Playstation no mesmo ano. Buscando um jogo baseado em operações secretas, o estúdio Eidetic (atualmente first party da Sony com o nome de Bend Studio) finalmente conseguiu um grande sucesso depois do fracasso de Bubsy 3D (sim, foram eles que criaram essa bomba também). Em Syphon Filter controlamos Gabriel Logan, um agente secreto treinado em operações especiais. Logan possui uma parceira, Lian Xing, que nesse primeiro game fica mais como coadjuvante e ajuda Gabe pelo comunicador, geralmente passando coordenadas sobre as missões. Ambos são enviados pela Agência atrás do rastro de um perigoso terrorista chamado Erich Rhoemer, que andaria desenvolvendo um arma biológica com grande potencial chamada Syphon Filter.
A trama do jogo é recheada de cutscenes mostrando o desenvolvimento dos dois agentes, as discussões entorno do paradeiro do terrorista e também as consequências que vão sendo causadas conforme o avanço do jogador.
De fato, Syphon Filter foi um jogo bastante elogiado na época pelo seu enredo, que mistura investigação e terrorismo biológico de um jeito bem interessante. Cada personagem embutido no jogo tem sua razão para estar ali, ou seja: todo um background foi criado para que o enredo não se perdesse ou ficasse sem sentido. Gabe Logan conversa o tempo todo através do comunicador, o que aumenta bastante a imersão do jogador com a história e com o gameplay também, além de familiarizá-lo com os personagens do jogo.
Sendo um jogo de ação com espionagem, é natural esperar uma boa dose de gameplay denso e inúmeras funções. De fato, Gabe pode rolar, se abaixar, mirar livremente pelo cenário 3D e até escalar algumas plataformas, no melhor estilo Tomb Raider de ser. Apesar de todas essas funções, o jogo foi bastante comparado à outro petardo que tinha saído um ano antes, Metal Gear Solid. John Garvin, diretor criativo do Bend Studio, numa entrevista ao blog Playstation para a seção “Behind The Classics“, deu seu parecer sobre essa comparação:
“A ideia original de Syphon Filter nasceu de um produtor da 989 Studios, que tinha escrito uma sinopse de uma página e entitulado de Syphon Filter. Nada além disso era citado, nem personagens, nem história. Na verdade, somente uma idéia de que o jogo seria baseado na ação furtiva e contaria com armas e equipamentos desse tipo. Nossa meta era deixar o jogador se sentindo um super espião. Nosso designer naquela época era bastante influenciado pelo título Goldenye, do Nintendo 64, que pode te dar uma vaga ideia do que encontraria Syphon Filter.“
Mesmo com a inevitável comparação, Syphon Filter fez um grande sucesso no console. A grande variedade de missões, atrelada aos montes de armas e equipamentos que até então não eram comum nos jogos, fizeram com que ele se tornasse rapidamente um clássico do console, gerando continuações e spin-offs futuramente.
Mas, nem tudo foram flores no desenvolvimento do jogo. “O desenvolvimento de Syphon Filter foi um terror. Primeiro, não tínhamos referencial algum no estilo de jogo que queríamos fazer. Os caras da Eidetic só tinham feito Bubsy 3D, o que, em termos de comparação, além de também ser um jogo em terceira pessoa, não tinha nada a ver com Syphon Filter. Não tínhamos a mínima noção de como colocar uma agente secreto num jogo propriamente de ação. De fato, esse primeiro Syphon Filter esteve muito perto de ser cancelado várias vezes, muito disso pela inexperiência do grupo. Foram muitos enredos descartados, personagens abolidos, linhas de códigos perdidas e etc. Demorou cerca de um ano até acertarmos a ‘receita’ do jogo final”, completa Garvin.
No final tínhamos um sólido jogo que misturava furtividade com ação de uma forma que ainda não conhecíamos. Jogar Syphon Filter é diferente de jogar Metal Gear Solid. De fato, algumas missões do jogo da Eidetic requerem furtividade extrema, sem ser visto nem pelas sombras dos inimigos, tal qual a franquia da Konami. Mas, na maioria das vezes, se esconder e atirar em cabeças resolvem a maioria dos problemas. Para isso, Gabe conta com um arsenal invejável de armas e ferramentas. Pistolas 9mm, shotguns, metralhadoras, snipers e uma das armas mais icônicas da franquia: o taser. Queimar os inimigos de longe com o taser era uma das coisas mais divertidas de se fazer no jogo.
Apesar de hoje em dia muita gente sequer conseguir jogar Syphon Filter, a mecânica dele naquela época funcionava muito bem. Mesmo correr armado e atirando, enquanto rolava e tentava escapar dos tiros inimigos, era uma tarefa corriqueira no game. Comum também era ter que escalar caixas e muros, procurando por itens e caixas com os imprescindíveis coletes à prova de bala. Nem sempre tudo isso era intuitivo, então, parar e observar bem o cenário antes de prosseguir era crucial em alguns momentos. Gabe pode levar uma boa saraivada de tiros, mas, se estiver com um colete novo, ele aguentará bem mais facilmente o tranco, exceto quando passar por alguma área infestada de snipers.
A respeito do visual, Syphon Filter é um jogo bem competente pro Playstation. Claro, hoje é fácil você notar flickers em todo lugar, polígonos estourando. Já a animação dos personagens é bem bacana, apesar de Gabe dar a impressão de que é lento até mesmo quando corre. Talvez até por isso, correr enquanto atira com Gabe dá um tom até cinematográfico ao jogo. Outro fator que é preciso citar são as cutscenes em CG. Não são da melhor qualidade, até porque não usaram atores para fazê-las: “Nossos personagens sequer tinham dedos, suas mãos eram simplesmente quadrados, isso inclusive nas cenas em CG. Não nos importávamos com isso, pois queríamos de alguma forma poder contar a história do jogo. Nosso lema era que filmes ruins eram pior do que não ter filmes“, explica Garvin.
A música em Syphon Filter era outro ponto de destaque, apesar de pouco aparecer no game. Todas as composições são assinadas por Chuck Doud, que veio a trabalhar também com Blasto e PAIN, que saiu na Playstation Network. Mesmo aparecendo timidamente, é inevitável ouvir o tema de abertura e não reconhecer Syphon Filter de imediato. Ótimos efeitos sonoros e vozes também fazem parte do pacote. A voz icônica do personagem principal foi emprestada pelo ator John Chacon, o que acabou agregando muita personalidade ao Gabe Logan, até porque ele atuou na trilogia inteira do PSX.
Mesmo com tantas inovações nos dias atuais, com jogos cada vez mais próximos da realidade, é prazeroso você pegar um game do naipe de Syphon Filter e ver o quão brilhante foram as misturas que os produtores fizeram com a realidade a fantasia. “Muitos dos jogos atuais buscam inspiração nas cores escuras, monocromáticas, tudo em prol da realidade nos jogos. Mas, olhando pros games que joguei nessa década de 90, como Unreal, Turok 2 ou Raibow Six, nota-se que eles buscavam o realismo mas mantinham suas cores”, conta Garvin.
De fato, Syphon Filter é um game bem agradável no que diz respeito à variedade, tanto de cores quanto de cenários e situações. Existem missões que vão desde mate todo mundo sem ser visto, até buscar provas, vasculhar por bombas escondidas e toda sorte de empecilhos. Buscar essa variedade de tons, seja in-game da forma de gameplay ou de maneira estética, contribuiu bastante para que o jogo se popularizasse.
Por fim, se você não conhece ou apenas ouviu falar de Syphon Filter, recomendo que tente jogar. Não é lá um jogo muito convidativo pros dias atuais, pois sua mecânica se encontra defasada se (injustamente) comparado aos jogos similares nos dias de hoje. Mas, se tirar um tempinho pra aprender suas minúscias, periga descobrir um dos melhores jogos de stealth action já feitos. E, como o próprio Garvin diz, muitas coisas que vieram depois de Syphon Filter, de alguma forma, foram inspiradas nele, estejam essas mecânicas envelhecidas ou não.
Resumão:
Prós:
+ o jogo ainda oferece um ótimo desafio;
+ apesar de envelhecida, a mecânica do jogo é única;
+ variedade interessante de fases unida ao design genial das mesmas;
+ a história por si só é bem interessante.
Contras:
– os gráficos podem incomodar bastante quem não está acostumado ou não jogou na época;
– os controles podem confundir bastante no início.
Final Score: 8
Deixe o seu comentário abaixo (via Facebook):