Análise (Review) de Silent Hill: Downpour

Análise (Review) de Silent Hill: Downpour

29 de janeiro de 2023 Off Por Diego Köpp
FICHA DO JOGO
Lançamento: 13 de março de 2012
Jogadores: um jogador
Gêneros: ação, aventura, survival horror
Desenvolvedora: Vatra Games
Editora: Konami
Idiomal disponível (dublagem): inglês.
Idiomas disponíveis (legendas): inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, português brasileiro.
Plataformas: PlayStation 3, Xbox 360 e Xbox One (via retrocompatibilidade)
Classificação indicativa: M (Mature 17+)

Versão do jogo analisada: edição americana, jogada no PlayStation 3 e Xbox 360.

Desenvolvido pelo estúdio tcheco Vatra Games e publicado pela Konami, Silent Hill: Downpour é o último título principal da franquia, lançado em março de 2012, disponível exclusivamente nos consoles de sua geração. O recente estúdio, que havia lançado apenas um título antes deste, conseguiu entregar um título à altura da série, que esteve em mãos de desenvolvedores ocidentais desde Silent Hill: Homecoming, mas lamentavelmente foi à falência pouco tempo após o lançamento de Silent Hill: Downpour.

Na época em que lançado, o jogo recebeu análises mistas da crítica, que elogiou sua atmosfera, estória e o retorno às raízes da exploração e survival horror da série, mas criticou seu design de monstros e performance técnica. Apenas um patch foi lançado desde seu lançamento, o que corrigiu muitos problemas, embora não todos. Tendo adquirido recentemente um Xbox 360, estarei analisando o jogo com base nas versões disponíveis para ambos os consoles, possivelmente comparando-as quando for relevante ao artigo.

Enredo

A estória de Silent Hill: Downpour gira em torno de Murphy Pendleton, que esteve encarcerado por anos após roubar um veículo policial e cruzar limites estaduais. O jogo é introduzido com o protagonista assinando o molestador e assassino de crianças em isolamento, Patrick Napier, dentro da prisão. Após um motim, Murphy é colocado sob a supervisão da policial Anne Cunningham, que demonstra significativa animosidade em relação a ele, que está no processo de ser transportado para uma outra penitenciária, quando o veículo de transporte sofre um acidente próximo a Silent Hill. Sobrevivendo ao impacto, Murphy encontra-se livre e decide fugir. Pouco ele sabe, mas a cidade atrai a psique de seus visitantes, formando versões alternativas de si mesma com símbolos de seu subconsciente, estados mentais e pensamentos.

Mecânicas e jogabilidade

Assim como seus antecessores, Silent Hill: Downpour permite controlar o protagonista com a câmera em terceira pessoa conforme ele explora a sobrenatural cidade. Embora não seja de fato um jogo de mundo aberto, o título permite maior exploração do ambiente do que títulos anteriores da série, o que é um grande ponto positivo.

Entre as interações possíveis com o protagonista e o ambiente, estão o básico: atacar, bloquear, sacar e guardar armas, acessar inventário entre outros. Em relação ao título enumerado anterior (Homecoming) em Downpour o protagonista é incapaz de esquivar, e poderia de certa forma correr um pouco mais rápido, levando-se em conta a situação em que se encontra.

O jogador pode inteligentemente fazer uso de atalhos subterrâneos para acessar partes separadas da cidade, baixar escadas de emergência com ganchos, destruir barricadas em portas, fazer uso de luz UV para descobrir pistas assim como moldar a moral do protagonista por meio de escolhas apresentadas no decorrer da história. O jogo cobra atenção redobrada do jogador ao cenário para não perder importantes portas de entrada para side-quests e atalhos.

Murphy pode fazer uso de uma ampla variedade de armas brancas, como cadeiras, garrafas, pás, machados e muitos outros, com os quais é capaz de se defender e atacar, o que deteriora a vida útil da arma branca. Armas de fogo também estão disponíveis, embora a mira do protagonista seja instável, uma vez que não possui experiência de uso. Por mais que em alguns momentos seja inevitável lutar, o jogador se verá obrigado a fugir da maior parte dos encontros com monstros, visto que estes dificilmente atacam sozinhos.

Por fim, o spawn de monstros varia de acordo com o sistema de clima variável. Quanto mais chuva e neblina, maior a quantidade de monstros e mais agressivos se tornam, fazendo jus ao nome do título. Downpour firma uma sólida base nesse departamento e deve satisfazer a maioria dos jogadores.

Gráficos

De acordo com comparações técnicas disponíveis na Internet, ambas as versões do jogo rodam em resolução 1280×720, sendo esta resolução fixa no Xbox 360 e suscetível a variação no PS3. Por conta da resolução de imagem mais baixa no PlayStation 3, foi empregada uma espécie de anti-aliasing para compensar. A versão de Xbox 360 apresenta uma imagem muito mais nítida, por conta de sua resolução nativa maior e sem motion-blur.

No geral, para um título de final de geração, Silent Hill: Downpour apresenta texturas em baixa a média resolução e baixa contagem de polígonos em objetos, o que remete aos tempos do PlayStation 2, mas no departamento gráfico o que brilha é a atmosfera, feita com esmero; iluminação, partículas, paleta de cores, fontes (menu e legendas), ícones de controles entre outros elementos empregados trazem um ar de originalidade e refinamento ao produto final.

Se o estúdio que trabalhou no jogo tivesse mais tempo para investir na programação, assim abrindo margem para acrescentar a resolução das texturas, Silent Hill: Downpour poderia figurar ao lado de Alien: Isolation e The Last of Us como exemplo de software que conseguiu fazer bom proveito dos recursos de consoles de sétima geração.

Som

Como destacado na ficha do jogo, a única opção de idioma para dublagem é inglês, mesmo na versão japonesa do título. Contudo, ao contrário de títulos anteriores, certos personagens falam um idioma diferente por conta de sua naturalidade, como é o caso dos prisioneiros hispânicos.

A trilha sonora de Silent Hill: Downpour não é composta por Akira Yamaoka, e sim Daniel Licht, que também trabalhou em Silent Hill: Book of Memories. Comparando o trabalho de ambos na franquia (Homecoming vs Downpour), as músicas de Licht são mais limpas e teatrais, além de apresentarem uma maior variedade de instrumentos musicais.

Ao passo que a trilha sonora Yamaoka segue um gênero musical específico, as músicas de Light focam nos temas de cada personagem e lugares. Em algumas side-quests você consegue ouvir sons específicos ligados aos personagens, como aviões e tiroteios em uma guerra mundial, o que por vezes quebra a imersão.

No geral, a trilha sonora do jogo é competente, embora tenha maior preferência pela grosseira e espontânea trilha sonora de títulos anteriores.

Por fim, a versão de X360 suporta tecnologias de áudio como Dolby Digital e DTS, ao contrário do PS3. Para a maioria dos usuários, que não joga com áudio surround, isso não fará grande diferença, mas é válido destacar.

Diversão

Contendo uma ampla variedade de armas, maneiras de interagir com o protagonista e cenário, e side-quests a cumprir, Silent Hill: Downpour é sem dúvidas um jogo muito divertido independentemente da plataforma onde for jogado. Colocado lado a lado com os anteriores, o mundo de Silent Hill: Downpour oferece uma margem para exploração e backtracking muito maior.

Contudo, devo admitir que a quantidade de missões secundárias e personagens, em situação similar ou pior do que a de Murphy, diminui a tensão do jogo. Para degradar mais o potencial de horror do jogo, os inimigos seguem um padrão de design muito medíocre e nada inspirado, estando em último lugar na franquia nesse departamento. Você pode constatar isso pelas várias screenshots presentes neste artigo.

Problemas e bugs

Impossível redigir um artigo sobre Silent Hill: Downpour sem adereçar sua miríade de bugs e glitches. Ambas as as versões são acometidas por uma ampla variedade de problemas, como stuttering, screen-tearing, pop-in de texturas e até mesmo outros que afetam a capacidade do jogador de finalizar side-quests. Com base na minha experiência, a pior versão do jogo, em termos de performance, é a de PlayStation 3, a qual diversas vezes travou completamente o console, exigindo a reinicialização manual e forçada do sistema. O problema é agravado quando estamos transitando pela região de Pleasant River, onde há maior incidência de chuva e neblina.

A versão de Xbox 360 também é impactada dessa forma, embora com menor intensidade, possivelmente devido à maior facilidade que programadores tiveram de programar jogos para a plataforma. Contudo, uma situação que experienciei exclusivamente na versão de Xbox 360 é o desaparecimento de itens ligados a side-quests do inventário, me impedindo de finalizá-los (ao menos no playthrough em aberto).

É possível que haja uma quantidade máxima de itens a carregar de uma vez só no inventário, ou algum outro gatilho desconhecido. Por exemplo, a pintura “Sunrise” e o item “Soul-Eye” simplesmente desapareceram do meu inventário, me impedindo de avançar nas missões secundárias ligadas aos itens.

Por mais desconcentrante que fosse a performance da versão PlayStation 3, em nenhum momento isso ocorreu. Desde que o jogo lançou, em 2012, apenas um patch foi lançado para ambas as plataformas, o que corrigiu muitos problemas não experienciados por mim ao finalizar o título. Infelizmente, nenhum dos ports do jogo se sobressai sobre o outro nesse sentido.

Extras

quatorze side-quests a completar em Silent Hill: Downpour, além do vasto mundo semi-aberto que nos permite conhecer mais sobre a cidade de Silent Hill. O jogo não é linear e nos permite voltar a qualquer ponto da cidade (backtracking), inclusive acessando as diversas partes por passagens subterrâneas (esgotos), inteligentemente interligadas.

Há apenas um ponto na estória a partir do qual não há como voltar para a cidade, sendo muito improvável de ser engatilhado por acidente. Há quatro finais ligados às escolhas e moral do personagem, que depende de como lidamos com os caminhos alternativos oferecidos. Há um final extra e não-canônico, provocado por métodos não convencionais.

Por fim, o que chega a se surpreender, principalmente vindo da Konami, são as legendas em português do Brasil, caso o idioma do console esteja configurado desta forma.

Conclusão

Por mais que seja um survival horror, o foco de Silent Hill sempre esteve na estória, repleta de nuances e mensagens ocultas, com uma base de gameplay aquém, principalmente se compararmos com sua franquia rival, Resident Evil, usualmente integrando mecânicas truncadas e primitivas de movimentação e combate. Felizmente, houve uma mudança de paradigma nesse sentido, a partir de Silent Hill: Homecoming, que empregou novas mecânicas de combate nos proporcionando melhor controle sobre o personagem.

Afinal, precisamos de meios para sobreviver em um ambiente de survival horror. Contudo, os japoneses jamais trataram os monstros do jogo como conteúdo adicional, introduzindo monstros ordinários extremamente genéricos, tanto visualmente quanto em termos de animação. O jogo possui a atmosfera e trilha-sonora certa, mas pouco isso adianta se os inimigos que encontramos ao longo da jornada mais se parecem com mendigos ensanguentados do que manifestações sobrenaturais do subconsciente humano.

Se desconsideramos os inimigos e a programação, Silent Hill: Downpour é um jogo digno de figurar ao lado de seus antecessores como um título principal da franquia, por mais que tenha sido concebido por uma equipe completamente diferente dos originais.

Pontos negativos

  • Terrível otimização, com muitos stutterings, travamentos etc (PS3);
  • Desaparecimento de itens de side-quests do inventário (X360);
  • Monstros e inimigos comuns extremamente genéricos;
  • Baixa para média resolução de texturas e contagem de polígonos;
  • Imagem em baixa definição e embaçada (PS3).

Pontos positivos

  • Vasto mundo semi-aberto, com múltiplas side-quests e atalhos;
  • Incrível atmosfera e estilosa interface, que esbanjam esmero;
  • Trilha-sonora instrumental limpa e diversificada;
  • Legendas em diversos idiomas, inclusive português do Brasil;
  • Combate competente e realista, limitado pelas capacidades do personagem.

Avaliação:

Gráficos: 7.0 (PS3) / 8.0 (X360)

Diversão: 8.5

Jogabilidade: 8.5

Som: 8.0 (PS3) / 8.5 (X360)

Performance e otimização: 3.0 (PS3) / 5.0 (X360)

Nota final: 7.0 (PS3) / 7.7 (X360) / 10.0

Jogo analisado em fevereiro de 2018 com uma cópia física obtida de segunda mão (PlayStation 3).
Jogo analisado em janeiro de 2023 com uma cópia física obtida de segunda mão (Xbox 360).
Obs.: esta análise pode ou não representar a experiência oferecida pela versão emulada de Xbox 360 no Xbox One.

Deixe o seu comentário abaixo (via Facebook):