Análise (Review) de The Simpsons Game
28 de fevereiro de 2023FICHA DO JOGO Lançamento: 30 de outubro de 2007 Jogadores: 1-2 jogador(es) Gêneros: plataforma Desenvolvedora: EA Redwood Shores Editora: Electronic Arts Idioma disponível (dublagem): inglês (americano). Idiomas disponíveis (legendas): inglês (britânico), inglês (americano), finlandês, espanhol, italiano, alemão, finlandês, norueguês, suíço. Plataformas: DS, PlayStation 2, Wii, Xbox 360, PlayStation Portable, PlayStation 3. Classificação indicativa: T (Teen) Versão do jogo analisada: edição americana, jogada no Xbox 360. |
Desenvolvido pela EA Redwood Shores, mesma empresa criadora da franquia The Sims, e que depois viria a nos presentar com a renomada trilogia Dead Space, e publicado pela Electronic Arts, The Simpsons Game é mais um jogo que insere a família da série televisiva The Simpsons em um enredo original escrito por Tim Long e Matt Warburton, autores de diversos episódios. Na trama autorreferencial, a família descobre que é obrigada a participar de mais um videogame dos Simpsons. Semelhante ao programa de televisão, o jogo zomba da cultura popular, de outros videogames e da Electronic Arts, sua editora. Escancarada e irreverentemente, o título faz referências a diversas franquias de jogos, como Katamari, Grand Theft Auto, Sonic, Metal Gear Solid, entre outros. Encontra-se disponível atualmente em diversas plataformas, mas em nenhuma delas é possível comprá-lo de forma digital, sendo necessário caçar uma mídia física, provavelmente usada. Não recebeu remaster ou remake.
Enredo
O jogo começa com Homer tendo uma fantasia induzida por doces sobre um mundo de chocolate onde ele tenta apanhar e comer um coelho de chocolate branco; ao acordar fica chateado ao descobrir que foi tudo um sonho. Enquanto isso, Bart vai à loja de videogames e suborna o balconista para deixá-lo comprar o novo e violento jogo Grand Theft Scratchy, apenas para que Marge o confisque. Enquanto Bart lamenta, um manual de videogame cai do céu na frente dele. Lendo o manual, Bart descobre que ele e o resto de sua família têm poderes especiais. Bart usa seus poderes de Bartman para impedir que os valentões da escola Jimbo, Kearney e Dolph roubem o Museu de História Natural sob as ordens do diretor Skinner para usar as exposições do museu para a aula de ciências, Homer usa sua habilidade para vencer um concurso de comida, Lisa usa seus poderes para parar um projeto de desmatamento, e Marge usa seus poderes para influenciar multidões para parar o lançamento de Grand Theft Scratchy em Springfield.
Ao todo, o jogo apresenta 18 episódios que podem ser completados por personagens em pares específicos e revisitáveis a qualquer momento a partir do seletor de missão no menu principal. Como esperado de episódios de The Simpsons, a estória não tem pé nem cabeça, servindo apenas de contexto para a empregar as mecânicas de jogo, por isso não espere algo digno de arrancar lágrimas ao jogar. No entanto, o viés cômico tradicional é um ótimo fanservice para fãs da série. O ponto negativo da estória do jogo é ser curta e apressada. Derrotamos “Deus” em um jogo de ritmo e, ao final, fica aquele gosto de “Acabou? É só isso mesmo?”. Felizmente, o jogo conta com alguns modos adicionais que podem estender artificialmente a experiência, que abordaremos depois.
Mecânicas e jogabilidade
Ao longo do jogo, completamos a maior parte dos episódios em pares de personagens, estes que dispõem de diferentes armas e habilidades. O ataque básico dos quatro é basicamente o mesmo, em termos de alcance e dano. No geral, o combate do jogo, para um título de plataforma, não é nem um pouco satisfatório. Há vários picos de dificuldade ao longo do título, que simplesmente spamma uma quantidade absurda de inimigos com ataques de longo alcance (e alto dano), sem que tenhamos as ferramentas para nos defender. Para sumarizar, o jogo não é difícil, mas tem picos de dificuldade, e os movesets dos personagens não são divertidos, e extremamente situacionais.
Homer: o super ataque de Homer é arrotar, e o ataque principal se transformar em uma “Homer Ball”, que permite a ele a atropelar inimigos ou quicar e bater no chão. Um poder que vem a ser desbloqueado mais tarde é a capacidade de inalar hélio para se transformar em “Heli-Homer”, uma bola de gás que flutua no ar (sem poder de combate, apenas para chegar a lugares inalcançáveis a pé). Alternativamente, ele pode se transformar em “Gummi-Homer”, uma bola de gosma que atira gosmas nos inimigos. Esse é o único ataque do personagem que compensa utilizar, uma vez que permite causar grande dano a distância. O item de escudo de Homer é uma pimenta que transforma ele em “Lava-Homer”, uma bola de lava que pode trafegar em terrenos perigosos e derrotar inimigos ao toque. No entanto, me deparei com o item que o permite se transformar nessa versão apenas uma vez ao jogar.
Bart: é capaz de disparar pedras com seu estilingue, que se torna um foguete de pulso ao consumir um item de escudo (capacete), concedendo a ele o status de “Robo-Bart” por um curto período de tempo. Pode se transformar em Bartman, o que permite a ele deslizar no ar abrindo sua capa, escalar paredes e tirolesas e se agarrar a ganchos a distância. Bart é o personagem menos situacional, uma vez que o jogo nos obriga em muitos momentos a utilizá-lo, já que apenas ele pode se teleportar a ganchos, escalar paredes e contornar outros obstáculos.
Lisa: é capaz de atordoar inimigos com seu saxofone. Ela pode meditar em frente a uma estátua de Buda para usar a “Hand of Buddha”, que encontramos com frequência no decorrer do jogo, permitindo a ela uma variedade de ações diferentes com objetos ou inimigos. O item de escudo de Lisa é uma revista em quadrinhos para se transformar em “Clobber Girl”, uma super-heroína para destruir coisas que apenas a multidão de Marge pode quebrar.
Marge: dispõe de um megafone para recrutar pessoas e formar uma multidão que segue seu comando para destruir, consertar ou construir objetos, assim como atacar inimigos. O item de escudo de Marge é um chapéu de policial para se transformar em “Marge Cop”, tornando-a mais forte (e invencível) enquanto sua multidão pode atirar pedras. Em suas costas está Maggie, que pode adentrar certos dutos inacessíveis a outros personagens para prosseguir no jogo. Marge é extremamente situacional e ineficiente na maior parte dos confrontos.
Em termos de mecânicas, o problema de The Simpsons Game é dar maior ênfase ao combate situacional e resolução de puzzles do que ao combate regular, pois os personagens possuem baixíssimo alcance e dano com seus ataques melee. Embora seja possível atacar a distância com Homer e Bart, por exemplo, tanto a câmera quanto o sistema de lock-on não ajudam em diversos momentos.
Gráficos
Ambiente 3D: diferentemente de The Simpsons: Hit & Run (a menos que seja feito uso de mod), The Simpsons Game emprega a técnica de cel-shading nos modelos 3D presentes no jogo, o que atribui um excelente aspecto visual, que não vai perdendo seu brilho com o decorrer dos anos (ex.: Jet Set Radio, de 2000). O efeito consiste em escurecer as bordas de objetos 3D, dando a impressão de que são 2D.
No geral, o jogo apresenta uma renderização fidedigna da cidade presente na série, com um decente nível de detalhes. As animações 3D, especialmente durante cutscenes, não surpreendem e poderiam ter sido melhor trabalhadas.
Cutscenes 2D: no início e término de cada missão, o jogo apresenta cutscenes no padrão dos episódios da série de TV, uma vez que a equipe por trás da animação 2D é a mesma. Ou talvez um pouco melhor, visto que a série só foi introduzida à qualidade de imagem HD a partir de 2009, com a vigésima temporada, e o jogo, original de 2007, já apresenta animações em alta definição.
Muitos argumentam que a animação da série foi perdendo vida com o passar das temporadas [1], assumindo uma aparência muito mais rígida, robótica e previsível. Infelizmente, isso também é notado no jogo. Não que a animação 2D do jogo seja ruim, mas de fato deixa a desejar em relação às temporadas anteriores de Simpsons. A qualidade de imagem melhorou expressivamente, sacrificando a qualidade da animação.
Som
Talvez seja redundante mencionar, mas o elenco de dublagem é exatamente o mesmo da série. E falando em dublagem, o jogo conta com uma ampla variedade de frases engatilhadas e proferidas espontaneamente pelos personagens, ao longo dos estágios, assim como pelos personagens que perambulam as ruas de Springfield.
Dublagem é um investimento caro a fazer, mas a EA veio para mostrar que estava séria em entregar uma genuína experiência The Simpsons. As músicas exclusivas a cada cenário foram compostas com bom gosto, e os efeitos sonoros são convincentes. No entanto, não consegui encontrar a informação sobre em quantos idiomas diferentes é oferecida a dublagem. Tudo levar a crer que seja apenas em inglês (americano).
Diversão
O jogo entretém o jogador com seu fanservice, as piadas infames e múltiplas referências a jogos e entidades reais mas, como um jogo de plataforma, deixa a desejar. O combate base do jogo é fraco, dando ênfase a habilidades e personagens situacionais e resolução de puzzles.
Por exemplo, não é nem um pouco divertido passar dois episódios inteiros dedicados à habilidade de Marge de aglomerar uma multidão e mandá-la atacar. Pode parecer engraçado no começo, mas logo se torna maçante. Ou ter de levantar coisas com a Lisa várias vezes no decorrer do cenário. Gostaria muito de saber quais as inspirações dos desenvolvedores para chegar a um resultado final tão insatisfatório.
O jogo nos propõe o desafio de finalizá-lo novamente dentro do tempo alvo de cada episódio, e revisitá-los novamente depois disso dentro do modo time challenge. Além disso, pouco agrega ao fator replay, uma vez que o jogo oferece um único nível de dificuldade, que é baixo, exceto pelos eventuais picos de dificuldade.
Algo que pesa muito a favor do jogo é o recurso de multijogador local, para quem dispõe de dois gamepads, uma vez que todos os episódios precisam ser jogados com no mínimo dois personagens.
Problemas e bugs
Não há muitos empecilhos técnicos que degradem a experiência do jogador, mas entre eles podemos citar a câmera, que ora está apontando para o lugar errado, ora está presa a um objeto por qual passamos, assim como o sistema de mira e lock-on dos ataques a distância, extremamente ineficientes.
Como não podemos contar muito com o combate melee do jogo, ser capaz de travar a mira nos inimigos é vital.
Extras
Como extras podemos citar os colecionáveis espalhados pelo jogo. Tanto os episódios, exceto por dois, quanto a cidade de Springfield possuem objetos exclusivos a cada personagem. Homer pode coletar tampas de garrafas Duff, Marge consegue apanhar cupons de desconto Try-n-Save, cabe a Lisa colecionar os Malibu Stacy Seals, e os Kupons Kolecionáveis Krusty são específicos a Bart.
Conforme mais colecionáveis são coletados, a barra de vida e força da família no geral aumenta, além de desbloquear conquistas. A parte realmente desagradável dos colecionáveis é que um personagem não pode obter os colecionáveis destinados a outro personagem, nos forçando alternar entre os personagens em tempo real ou a partir de um ponto de ônibus.
Time challenge: ao completar cada episódio, é desbloqueado o modo de desafio de tempo referente ao mesmo, que consiste em derrotar determinada quantidade de inimigos, coletar uma certa quantidade de itens, ou encontrar personagens, em tempo hábil. Todas as fases são relativamente fáceis, a exceto por uma específica a Homer.
Conclusão
The Simpsons Game é o último grande jogo baseado na série televisiva sendo transmitida há mais tempo na história. A favor do jogo, o mesmo não é promovido como uma revolução nos jogos de plataforma, pois está longe de ser isso. Conforme a contra-capa, é enfatizada a diversidade de ações de cada personagem, hilário enredo cunhado por autores da série televisiva, elenco de dublagem original, quarenta minutos de animação em alta definição e exclusiva, assim como o recurso de cooperação local, e nisso tudo o jogo se excede.
O jogo apresenta ótimos gráficos para a época em que foi lançado, por conta do efeito cel-shading, a dublagem é excelente e sempre presente e o humor é digno da série. No entanto, como um jogo de plataforma, realmente deixa a desejar.
The Simpsons Game é uma estória indispensável para fãs da inusitada família mas, caso você esteja à procura da experiência definitiva baseada na série, The Simpsons: Hit & Run segue sendo soberano. Em todo caso, gostaria de vê-lo sendo relançado para as plataformas atuais, pois dificilmente você conseguiria usufruir da experiência do jogo sem recorrer a uma cópia usada (e cara!) ou métodos alternativos atualmente.
Pontos negativos
- A campanha pode ser completada em poucas horas, curta e apressada;
- Sistema de combate básico fraco, que enfatiza habilidades situacionais;
- Baixo valor de replay;
- Péssima câmera e mecânica de lock-on;
- Relativamente fácil, mas com picos de dificuldade (sem seletor).
Pontos positivos
- Trama original e bem elaborada, escrita por autores de episódios da série de TV;
- Diversas referências a jogos, tanto visualmente quanto em mecânicas empregadas;
- Envelheceu muito bem visualmente, em termos de cenário 3D e animação 2D;
- Estágios são muito variados e criativos (ex.: Medal of Homer);
- Dublagem original de alta qualidade amplamente presente no decorrer do jogo;
- Suporte a co-op local (até dois jogadores);
- Colecionáveis recompensam o jogador conforme são acumulados;
- Conquistas desbloqueadas de forma orgânica (apenas X360).
Avaliação:
Gráficos: 9.0
Diversão: 7.5
Jogabilidade: 6.5
Som: 10
Performance e otimização: 7.0
Nota final: 8.0 / 10.0
Jogo analisado em fevereiro de 2023 no Xbox 360.
Imagens quebradas substituídas pelas disponíveis no site do autor.
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