Análise: The Order 1886 – Um Potencial Desperdiçado
11 de abril de 2021Ficha do jogo
Lançamento: 20 de Fevereiro de 2015
Gênero: Tiro em Terceira Pessoa / Ação
Desenvolvedora: Ready At Dawn
Plataforma: Playstation 4
The Oder 1886 nasceu com a promessa de ser um dos primeiros grandes exclusivos do até então recém anunciado PS4, e logo gerou grandes expectativas nos jogadores pela sua temática, proposta e gráficos exuberantes que mostravam do que a nova geração seria capaz. Eu nunca tive grandes expectativas, deixando-o de lado por anos até finalmente jogá-lo e devo dizer que, mesmo sem esperar muita coisa, ainda assim saí decepcionado.
À primeira vista The Order 1886 parece seguir a fórmula de um grande jogo, mas com pouco tempo de gameplay já é possível perceber claramente que seus pilares não se sustentam e de candidato a um dos grandes jogos da geração no fim ele entra em um grande looping de mediocridade.
Um Potencial Desperdiçado
The Order 1886 não tenta reinventar a roda, pois traz mecânicas já exploradas e consolidadas por outros jogos, como os momentos de tiro e cover tão bem utilizadas em games como Uncharted e Gears of War, mas embora não haja originalidade em sua proposta geral, o jogo tenta trazer alguns fatores que poderiam certamente incrementar toda a experiência e tornar o jogo o sucesso que todos esperavam em termos de qualidade.
O primeiro fator é um dos primeiros a serem apresentados: o seu setting. The Order 1886 traz um contexto extremamente interessante, com um mundo Steampunk em uma Inglaterra Vitoriana, trazendo conceitos como cavaleiros, vampiros e lobisomens, além de uma ambientação extremamente apurada, que traz uma vibe de revolução industrial e tecnológica com tons de cinza que permeiam todo o visual e forma o clima perfeito para a proposta do enredo. O jogo tem como pano de fundo a ordem, uma organização de cavaleiros que existe desde a idade média e se utiliza de poderes tecnológicos e “mágicos“(mais relacionado a alquimia e outros conceitos) para combater criaturas sobrenaturais como os já mencionados lobisomens e vampiros. Você controla Sir Galahad um dos mais experientes cavaleiros da ordem, que agora se vê em meio a uma conspiração e precisa lutar contra grupos de rebeldes opositores ao governo ao mesmo tempo em que precisa descobrir a verdade a cerca de alguns acontecimentos.
Como você pode ver, tanto a história quanto os conceitos envolvidos são extremamente interessantes, mas infelizmente o jogo desperdiça a chance de aproveitá-los ao insistir em clichês e subaproveitar a maioria de seus elementos. Sir Galahad é o típico protagonista durão e mal humorado, enquanto tem um parceiro que é o oposto, mulherengo e brincalhão, e embora ambos tenham seu charme, é impossível se desvencilhar da sensação de já ter visto isso milhares de vezes na indústria do entretenimento em geral. Também não consigo entender o porquê utilizar algo tão batido como luta contra rebeldes quando há tanto lore a se aproveitar tendo em vista a função dos cavaleiros, além disso, o enredo é construído de forma apressada e não consegue realmente despertar a curiosidade e o fascínio do jogador.
Um outro grande fator que é desperdiçado são as armas. A tecnologia desse mundo steampunk apresentado em The order 1886 é fascinante, e de fato o jogo traz algumas dessas tecnologias nas armas utilizadas pela ordem, armas essas fornecidas por ninguém mais ninguém menos que o Nicola Tesla, grande inventor do século XIX que realmente existiu na vida real e aqui é um personagem aliado da ordem. Em um determinado momento você é convidado a explorar o laboratório do Tesla, na grande oportunidade de experimentar suas invenções e tornar o momento marcante, o jogo simplesmente te limita a visualizar alguns objetos, e um momento que poderia ser algo integrado ao gameplay (imagine poder escolher uma arma do laboratório antes de cada missão) simplesmente se transforma em mais um dos inúmeros momentos aonde você é limitado a andar e interagir de forma mínima com objetos. O jogo te fornece armas científicas extremamente divertidas e bem elaboradas, porém você as utiliza ridiculamente pouco, algumas apenas em momentos pré estabelecidos que não duram mais que 20 minutos, o que é incompreensível já que essa poderia ser a grande chance de se destacar quando o assunto é gameplay.
Por fim, é importante mencionar um outro grande elemento determinante: Os inimigos. Com um pano de fundo como o apresentado em The Order 1886, era de se esperar que você tivesse momentos espetaculares no maior estilo Van Helsing, lutando contra criaturas sobrenaturais e lobisomens, mas é aí que vem a minha maior decepção com o jogo. Ao invés de experimentar batalhas contra criaturas, você passa praticamente o jogo inteiro atirando em ondas e mais ondas de inimigos humanos pouco variáveis e com uma IA extremamente limitada, e aí mais uma vez The Order 1886 perde uma oportunidade de grandeza. Mesmo nas pouquíssimas vezes em que você enfrenta os lobisomens, são momentos extremamente truncados, repetitivos e pouco inspirados.
A linha tênue entre linearidade e falta de interatividade
Linearidade nos games nunca foi um problema e nunca será, mas mesmo dentro de uma linearidade fechada é preciso dar algum nível de liberdade e controle ao jogador, caso contrário você está fadado a cruzar a linha entre linearidade e a falta de interatividade. É exatamente esse um dos grandes problemas de The Order 1886, pois o jogo definitivamente não soube dosar bem o gameplay com sua linearidade cinematográfica, tomando diversas decisões questionáveis principalmente em relação ao uso dos QTE (Quick Time Event).
Em determinado momento do jogo, você está em um bairro de domínio inimigo, e aí você se depara com uma situação em que deve distrair um guarda chamando sua atenção para que seu companheiro possa eliminá-lo sorrateiramente. Nesse ponto, o jogo simplesmente poderia dar a liberdade de pegar o item a ser jogado, mirar e atirar para poder chamar a atenção, mas ao invés disso o jogo corta para uma cutscene mostrando Sir Galahad pegando uma maçã, depois você deve inspecionar a maçã com o analógico até aparecer um comando seguido de outro comando, um simples apertar de botão que faz o personagem jogar a mação sozinho em mais uma cutscene. Esse pequeno trecho é um retrato do desiquilíbrio do jogo quando o assunto é gameplay, pois a sensação é que de estar assistindo um filme com pausas para algumas interatividades e não o contrário.
Não ajuda também o fato de que os QTE que o jogo tanto abusa sejam mal elaborados e totalmente aleatórias, pois você nunca sabe quando uma cutscene terá ou não um prompt do nada que provavelmente causará a sua morte, não há um padrão e também na maioria das vezes não há uma razão para a existência daquele comando pois nada acrescenta à diversão do jogo. Além disso tudo, o jogo constantemente tira sua opção de andar ou correr escolhendo por você o que fazer em determinados momento, o que pode ser bastante irritante, especialmente para os menos pacientes.
O jogo também possui uma limitação muito grande fora de suas mecânicas de combate, com apenas a opção de coletar alguns poucos colecionáveis e olhar alguns objetos no cenário, e tudo isso ocorre em ambientes apertados e com pouco ou quase nenhum caminho alternativo. Alguns colecionáveis acrescentam alguma informação sobre o mundo do jogo, mas no geral pouco agregam e com o tempo você acaba não ligando mais para os mesmos a não ser para fins de platina (e para os caçadores de troféu esse pode ser uma boa opção para platina fácil).
Os momentos de combate é aonde o jogo consegue manter alguma regularidade, com mecânicas que como já mencionado não trazem nada de novo, porém funciona dentro do proposto. Poderia ser muito melhor principalmente em razão das ondas infinitas de inimigos genéricos e com inteligência artificial pobre, mas ainda assim consegue trazer o divertimento padrão desse tipo shooter.
Um visual estonteante
Se há um aspecto em The Order 1886 que não dá praticamente nenhuma margem para ser criticado são os seus gráficos. Na época já era um de seus grandes atrativos e um dos destaques da geração, e mesmo hoje em dia o jogo envelheceu como vinho, com texturas impressionantes e um nível de detalhes absurdo. A ambientação é linda, com pequenos detalhes em todos os cantos do cenário e com uma paleta de cores que passa perfeitamente o clima proposto na velha Londres Vitoriana. É bem verdade que os ambientes limitados no qual você passa a maior parte do jogo desvaloriza um pouco essa beleza, mas ainda assim o visual salta aos olhos.
O design e riqueza de detalhes dos personagens também são destaque, sendo possível ver o movimento do cabelo, os fios perfeitamente renderizados, a textura da pele e das roupas entre outros pequenas adições que tornam os personagens muito realistas. Jogar The Order 1886 é ter a sensação de estar jogando um filme e dessa vez a expressão pode ser usada em um bom sentido.
Som que cumpre o seu papel
O design de som de The Order 1886 não traz nada de espetacular, como trilhas que possam vir a ficar na memória ou coisas do tipo, mas ainda assim é excelente, com sons ambientes perfeitamente criados para manter o clima, assim como também uma boa trilha sonora. Vale destacar também o trabalho excelente na Dublagem original do jogo, com atores que cumprem seu papel de forma excepcional e trazem vida aos personagens, não devendo a nenhum filme de Hollywood nesse quesito.
Mas afinal, o jogo é ruim?
The Order 1886 não chega a ser ruim, embora seja um potencial desperdiçado e possua diversas falhas graves, eu diria que o jogo é apenas medíocre e que vale a pena conferir apenas se você não tiver nada melhor em vista e o encontrar por um bom preço. O apelo visual, temática (que embora seja subaproveitada ainda assim é interessante) e o combate que pode trazer alguma diversão conseguem salvar o jogo do completo desastre; sua curta duração também acaba contribuindo à seu favor pois talvez se fosse mais longo seria mais desencorajador terminá-lo. No final das contas, eu diria que a fama de ruim de The Order 1886 se dá também pela grande expectativa em seu entorno, mas certamente não dá pra dizer que é um jogo injustiçado visto que o mesmo nunca esteve destinado a ser um sucesso da forma que foi entregue.
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