Brasil Game Show: Uma história de sucesso e crescente importância para o mercado de games
5 de junho de 2022Por: Allan Lima e Guilherme Possani
A maior referência deste editor que vos escreve são as revistas de games, muito populares do início até meados dos anos 2000, mas que com o avanço tecnológico e a facilidade em encontrar conteúdos na internet, caíram em desuso.
Iniciei minha vida como leitor — e futuramente como jornalista — quando fui presenteado pelo meu saudoso pai com uma revista Super Dicas Playstation, no longínquo ano de 2004, mais precisamente no mês de abril (tenho certeza que muitos dos leitores aqui ainda não tinham aprendido a ler, ou sequer haviam nascido). Fato é que as revistas foram o principal fator motivacional para que eu iniciasse nesta área, mas isso é tema para um outro artigo.
Onde quero chegar? Ainda no ano de 2004 conheci a maior feira de games do mundo, a Electronic Entertainment Expo, a famosa E3, por meio da revista EGM Brasil (publicada pela Conrad), e aquele garoto de 9 anos de idade, apaixonado pelo mundo dos games, se deslumbrou com todas as novidades e possibilidades que o evento dispunha. Um sonho distante, já que até então não havia nada parecido no Brasil, então as revistas e a internet mais uma vez cumpriam seus papéis em pelo menos mostrarem ao público brasileiro a importância que os games gradativamente alcançavam no cenário mundial.
Os anos se passaram e o Brasil permanecera carente de um evento que realmente abraçasse a comunidade gamer. Foi então que em 2009 comprei meu primeiro Xbox 360 e debutei na Xbox Live, conheci pessoas de diversos lugares, fiz muitos amigos — alguns são meus amigos pessoais até hoje — e em uma conversa com um desses amigos, que morava no Rio de Janeiro, fiquei sabendo que aconteceria lá a primeira edição de uma feira de games no Brasil. Os primeiros capítulos da Brasil Game Show na minha vida estavam sendo escritos.
A BGS passou a ocupar um lugar maior de destaque, chegou em São Paulo (cidade onde resido), mas as dificuldades de um adolescente desempregado acabaram me impedindo de conhecer o evento como consumidor, contudo, mesmo sem estar na feira pessoalmente, eu sempre acompanhava as novidades que o evento trazia.
Certa vez, na edição de 2013 o Allan esteve presente. Sim, o mesmo Allan Lima que está dividindo espaço comigo neste artigo, meu amigo de longa data e outro aficionado pelos games e pela leitura. Lembro-me que antes do lançamento oficial do Xbox One o console estava lá. Ele jogou o novíssimo videogame e me deixou maluco de inveja (de maneira boa, que fique claro), e ainda mais curiosidade em conhecer o evento.
A vida adulta chegou, com ela vieram as responsabilidades. Comecei a trabalhar para bancar meus gostos (lê-se games), e iniciei a faculdade de jornalismo, honrando o sonho daquele garoto de 9 anos que ganhou sua primeira revista em 2004. Como a grande maioria aqui deve saber, tempo e dinheiro são palavras rivais na vida de um estudante recém-ingressado no ensino superior, acabei adiando mais um pouco minha meta em conhecer a BGS.
Pois bem, é aí que chega minha hora, e minha eterna gratidão ao evento e seus responsáveis, que mesmo sem saber quem eu eram ou de onde vinham, abriram as portas para mim. Durante meu curso de jornalismo, em 2016, me arrisquei, utilizei meu blog pessoal da faculdade e realizei meu cadastro como imprensa na cobertura daquela edição da Brasil Game Show. Obviamente fiz meu cadastro despretensioso e conscientemente esperando o não como resposta, afinal quem aceitaria um estudante de jornalismo no evento? A BGS aceitou! A primeira credencial da minha vida fora autorizada e eu finalmente iria ao evento.
Neste parágrafo vou agradecer novamente à feira e toda a sua organização, vocês realizaram o sonho daquele menino que mencionei acima, vocês trouxeram ao Brasil a sensação de ter em nosso território um evento com a importância dos maiores do mundo, e acima de tudo, vocês proporcionaram não só a mim, mas a todos gamers brasileiros, um evento como sempre sonhamos e merecemos. Obrigado por acreditarem em mim e obrigado por acreditarem no potencial do Brasil como consumidor desse tipo de conteúdo.
Nos anos de 2017 e 2018 retornei ao evento, também credenciado como imprensa, e nesses três anos que pude acompanhar a BGS de perto, só tive boas impressões. A primeira está na recepção, nas pessoas que estão presentes (em 2016 tive a oportunidade de conhecer o Fabio Santana, editor da Super Dicas Playstation e EGM, meu ídolo e principal referência na elaboração de análises), viram só como as histórias se confundem de tão próximas?! Os conteúdos oferecidos ao público sempre superam o esperado, as novidades, a beleza do evento em si.
O único ponto negativo não é necessariamente um ponto negativo, o evento é tão bom que a lotação total é inevitável, então vá preparado para fazer parte do grande e fiel público que sempre se faz presente, afinal, assim como eu, existem outros gamers passando por experiências parecidas com a minha.
Saindo um pouco do âmbito da emoção para o da razão, o evento só tem a contribuir. As desenvolvedoras cada vez mais olharão para o nosso mercado (que é absurdamente grande), as novidades do mundo dos games chegarão até nós, conteúdos direcionados a nós serão cada vez mais comuns, além do espaço para os desenvolvedores brasileiros exibirem seus projetos. Enfim, estaremos sempre bem representados por um evento à altura do público brasileiro.
Nesta edição de 2022, pós-pandemia, desejo sorte e sucesso aos organizadores e espero que todos que pretendem ir divirtam-se ao máximo e sejam extremamente felizes — assim como eu fui — com essa experiência. Espero estar lá novamente este ano e fico no aguardo de todos vocês!
A ascenção do evento e sua importância para o mercado de jogos
Histórias como a contada acima pelo nosso redator Guilherme refletem a de muitos outros gamers apaixonados, que, em tempos em que que os eventos online ganham cada vez mais espaço, acabam ficando órfãos da expectativa e diversão que somente um evento presencial pode trazer. Seguindo o exemplo do fim do multiplayer local, os eventos presenciais no mundo dos games pouco a pouco vão encontrando seu fim – acelerado pela pandemia de covid 19. A E3, outrora o maior e mais tradicional feira de games do mundo vai perdendo sua relevância e dentro desse contexto um evento como a BGS ganha ainda mais importância.
Para o Brasil, uma feira de games como a BGS pode ser uma chance de ouro para pequenas empresas de jogos indies e programadores locais que sonham em lançar o seu jogo e divulgá-lo para o grande público; lembro da presença de muitos quando pude ir na edição de 2013. Para as empresas já consolidadas no mercado, é a chance de explorar ainda mais o mercado consumidor gigantesco do Brasil, que hoje já é o 5º maior do mundo. Aliás, a feira pode ser uma ferramenta importante para se equilibrar as coisas no Brasil, já que embora sejamos o 5º maior mercado do mundo, ainda engatinhamos quando o assunto são produções próprias. Tudo isso pode gerar uma reação em cadeia que pode inclusive influenciar na economia do país, levando o papel da BGS muito além de um mero evento para se curtir a paixão pelos games.
Mas de onde surgiu e como a BGS veio a se tornar a maior feira de games da América Latina? Vamos voltar um pouco no tempo e contar um pouco dessa história.
Em 2009, uma feira de games chamada Rio Game show ganhava vida, idealizada por Marcelo Tavares, um apaixonado por games e um dos maiores colecionadores do Brasil. O evento reuniu cerca de 8000 pessoas e não demorou a ganhar atenção nacional, pois naquela época já existia uma carência de alguns anos sem eventos do tipo, enquanto o mercado já crescia exponencialmente. Era hora do Brasil pavimentar seu caminho para deixar de ser coadjuvante no cenário mundial.
No ano seguinte, já com o nome Brasil Game Show, o evento já havia conquistado marcas impressionantes, com 30 mil participantes, campeonatos e diversos expositores. Em 2011 o evento se consolidou de vez, dobrando o número de participantes e se tornando oficialmente a maior feira de games da América Latina. O crescimento foi tão rápido, que já em sua terceira edição contou com presenças importantes como a do produtor Yoshinori Ono, de Street Fighter, além de ter tido os ingressos esgotados naquela ocasião.
Em 2012 o evento se muda para São Paulo e conta com 100 mil pessoas, movimentando cerca de 50 milhões de reais em negócios, de acordo com a organização. Em um paralelo com o mercado mundial de games, a BGS não parou de crescer, atingindo números cada vez mais expressivos e se tornando a principal vitrine do Brasil para esse mercado. Como se os números já não fossem convincentes o bastante, grandes nomes da indústria já passaram pela feira, dentre eles o criador da franquia Metal Gear, Hideo Kojima; Phil Spencer, chefe da divisão de games da Microsoft; Ed Boon, criador da franquia Mortal Kombat, entre outros nomes de peso.
As edições mais recentes do evento chegam a somar mais de 300 mil visitantes, atraem caravanas do Brasil inteiro e pessoas de todo o mundo. Após uma pandemia global, o evento volta esse ano para mais uma edição que promete não perder força, continuando a trilhar o caminho para se tornar uma das – se não a maior – feira de games do mundo.
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