Análise de Pier Solar and the Great Architects
16 de agosto de 2021Por: Cosmão
Ficha do Jogo: Data de lançamento inicial: 14 de dezembro de 2010 Desenvolvedora: Watermelon Publicadora: WaterMelon Gênero: Japanese role-playing game Jogadores: 1 jogador Plataformas: Mega Drive, Dreamcast, Celular – Mobile (Android), PC – Computador (Windows, MAC, Linux), Playstation 3, PlayStation 4, Wii U, Xbox 360, Xbox One. Avaliação: Nota: 9,0 |
Às vezes surgem jogos que parecem abalar as estruturas de quem joga videogame há anos, bem como aparecem games que, apesar de prometerem mundos e fundos, não fazem nem metade daquilo que se comprometem a fazê-lo (sim Final Fantasy XIII, estou olhando pra você). Por muito tempo o Mega Drive ficou na lembrança de muitos, praticamente esquecido, lembrado apenas pelos seus emuladores e seus jogos inesquecíveis, os quais eu, entre tantos, insistem em rejogá-los meses após meses.
Enfim, eis que um belo dia, alguém no mundo aparece com uma notícia que abalaria todos os fãs do console: um novo RPG, feito do zero, estaria sendo fabricado. Um RPG novinho. Um RPG bonito, com um nome bacana, com personagens interessantes e, pasmem, com um brasileiro liderando a equipe de produção.
Seu nome, Pier Solar.
Eu não vou entrar no mérito dos bastidores da produção de Pier Solar, até porque eu sei bem pouco e aposto que muitos de vocês já devem conhecer bastante coisa, principalmente se acompanham o blog do Gagá Games ou compram a revista Old! Gamer. Então, o foco desta análise será no próprio jogo e em sua avaliação técnica, além de uma pequena abordagem do enredo e uma pincelada nos personagens principais.
Pier Solar começa tímido. Hoston é um jovem garoto que vive em Reja, sua cidade natal. A história tem um plot inicial que envolve o pai de Hoston, Rudy, que está muito doente e precisa de uma erva especial muito rara. Hoston tem dois amigos em Reja, Alina e Edessot e é com eles que o garoto se envolve e sua primeira aventura, em busca da tal erva para salvar seu próprio pai. Após os acontecimentos envoltos nessa busca, a trama do jogo toma outro rumo e tudo acaba ficando bastante interessante. Não vou spoilar, mas basta dizer que a história é longa e bastante criativa, uma das coisas que realmente te prende no jogo.
O desenvolvimento de cada personagem é algo muito chamativo no jogo, conseguiram deixar cada personagem bastante individual, de forma que o jogador consegue diferenciá-lo apenas ao ver o modo como conversa ou interage com os outros. Algo raro nos dias de hoje, cheio de personagens genéricos até dizer chega…
Falando um pouco sobre a mecânica, em Pier Solar podemos ter até 5 personagens na party, algo raro nos dias de hoje, onde percebe-se que três acabou por se tornar um número padrão. Como no início do jogo são apenas os três amigos, acostume-se a andar com os três por um bom tempo e aprenda a evoluí-los. Após algumas horas, novos personagens entram e saem da equipe, sempre com muita ênfase no enredo, que não perde o gás.
O sistema de combate funciona num sistema rotativo de opções que incluem, num primeiro momento, 4 deles sendo mais 5 escolhas depois. Para não embaralhar muito, separei uma por uma com uma breve explicação sobre cada uma delas. No primeiro menu, temos:
Options (opções) – já pré-selecionadas;
AI – batalha automática;
Run (fugir) – fugir da batalha, o que quase nunca funciona;
Man (manual) – escolhas manuais para a batalha, a mais usada e tradicional;
Ao entrar na opção Man, mais 5 escolhas são dispostas:
Attack (atacar) – ataca usando a arma principal ou então alguma arma secundária se o personagem a possuir;
Spell (magia) – são várias, tanto de ataque quanto de cura e são aprendidas conforme o avanço de níveis;
Defense (defesa) – seu personagem fica na defensiva e ainda pode-se escolher se ele deve se recuar ou não. Nessa posição, um contra-ataque é bastante favorável, o que é uma ótima pedida;
Inventory (inventário) – usar algum item;
Gather (focar) – um movimento bastante similar ao KI da série Dragon Ball Z (ou até mesmo Dragon Quest 8), onde seu personagem concentra força que pode chegar até o nível 5. Algumas magias requerem algum nível específico de concentração. Dependendo do nível, inclusive, os ataques saem com mais força e até magias de curas ficam mais fortes. O personagem pode concentrar níveis e enviá-los para outro também, o que é uma mão na roda.
Atributos como envenenamento e hibernação podem ser ocasionados e podem ser curados com itens específicos, bem como a morte de algum personagem em batalha. Vale lembrar que em Pier Solar, seu personagem “morto” volta à vida após a batalha com 1 ponto de vida, além do que o envenenamento some após a vitória.
Como puderam ver, Pier Solar é um RPG bastante completo. Seu sistema de combate é bastante desafiador, cheio de pormenores e com alguns segredinhos aqui e ali, principalmente no que diz respeito ao uso do Gather. O fato de algumas magias necessitarem do uso desse recurso traz alguma estratégia para algumas batalhas, o que dificulta bastante em alguns momentos. Outro fator é o alcance de algumas armas. Alina, por exemplo, é a única no time, no início, que consegue acertar os inimigos voadores, já que usa uma espécie de arco-e-flechas mágico, diferente de Hoston e Edessot.
Além dessas magias aprendidas conforme o avanço de níveis, em Pier Solar podemos encontrar livros que ensinam algumas habilidades para que Hoston consiga se virar nos diversos ambientes do jogo. Uma delas, em particular, permite que a turma consiga subir em rampas, ampliando as opções de exploração dos variados cenários do jogo. Falando neles, o game é dividido em diversos mapas. Cada mapa conta com pontos específicos onde ficam desde cidades, vilas até dungeons, florestas e pântanos, tudo muito bem feito. Não cheguei a terminar o game, portanto, não sei se existe algum mecanismo que permita o “tele transporte” entre as várias localidades quando se está próximo do fim do jogo, algo tão comum nos RPGs mais antigos, pois, caminhar por alguns mapas, em algumas situações, é bem estressante devido à quantidade de encontros aleatórios, um tópico que merece um parágrafo exclusivo para ser tratado.
Em Pier Solar, os inimigos são enfrentados através dos famosos encontros aleatórios. Enquanto caminha-se pelo mapa, tais encontros não acontecem, ocorrendo apenas quando se está visitando alguma região inóspita. Assim como a maioria RPGs mais antigos, os inimigos surgem do nada, em grupos aleatórios, sob a condição de vantagem ou desvantagem em relação ao grupo do jogador (o que define quem começa a atacando). O problema maior aqui, pelo que notei, é que Pier Solar tem um ritmo bastante lento de evolução, o que demanda MUITAS batalhas para o ganho de experiência. Magias novas só são descobertas evoluindo os personagens, e a evolução só é conseguida após horas e horas de batalhas contra os mesmos inimigos. Sim, porque a variedade deles num mesmo lugar do mapa é praticamente nula. Existem cerca de 4 ou 5 tipos de inimigos por mapa, não variando mais do que isso. Esse poderia ser um contra do jogo? Depende do ponto de vista, há que não goste de encontros aleatórios, muito menos essa mecânica de combates por turnos recheada de menus, mas há quem goste. E até pros que gostam, como é meu caso, ficou meu cansativo ao meu ver.
Sob o aspecto técnico, não há muito o que ser dito. Pier Solar é um jogo muito bonito, com uma escolha de cores muito gratificante aos olhos, algo que realmente faz falta nos dias de hoje. Como é um RPG cravado nos moldes antigos, existem muitas regiões diferentes umas das outras, como desertos, florestas, pântanos, cidades, ruínas, etc, todas muito bem representadas, bem como seus inimigos característicos. Apesar dos poucos inimigos presentes, todos são muito bem feitos e animados, além da curiosidade de não ficarem mudando apenas de cor para determinar sua força, como nos jogos da série Phantasy Star, por exemplo. Algumas magias enchem os olhos, enquanto outras são bastante simples, mas todas tem um peso único que dão um charme à mais à obra como um todo.
Na parte sonora o jogo brilha mais uma vez. As músicas, tanto nas cidades quanto nas dungeons e, especialmente nas batalhas, são magníficas. Sinceramente, fazia tempo que eu não ouvia uma música de batalha tão bacana quanto a de Pier Solar, empolgante, vibrante e muito bem composta. Isso até ajuda a passar com mais tranquilidade pelas quase infinitas batalhas aleatórias pra evoluir o pessoal, pois a música ajuda bastante. Efeitos sonoros também são ótimos, todos no devido lugar com um destaque especial pro efeito quando se usa o Gather, que é nada mais, nada menos do que a famosa caixa registradora do Sonic, pra quem não se ligou ainda (ou então se parece bastante). Não vou mencionar o disco que vem junto com a edição especial para Sega/Mega CD, que traz músicas cristalinas, pois não joguei essa versão, mas com certeza o trabalho ali deve ser digno de prêmio.
Bom, para terminar, gostaria de recomendar Pier Solar principalmente pra quem ainda consegue gostar de RPG das antigas, pra quem ainda tem paciência para aturar batalhas atrás de batalhas, enfrentar dungeons labirínticas enormes enquanto evolui vagarosamente seus guerreiros. Pier Solar é isso, um RPG das antigas, com toques visuais novos e ideias frescas o suficiente para mantê-lo como um dos melhores jogos do Mega Drive, mesmo lançado muitos anos após a morte do console. Aliás, que morte? O Mega continua mais vivo que muito console atual…
Resumão:
Prós:
+ gráficos realmente lindos;
+ trilha sonora impecável;
+ sistema de combate intrigante e criativo;
+ personagens únicos, história envolvente;
+ um RPG de primeira.
Contras:
– podia ter mais inimigos variados;
– o ganho de EXP é escasso, o que ocasiona em muitas batalhas para evoluir.
Deixe o seu comentário abaixo (via Facebook):