Análise de Assassin’s Creed II – O jogo que melhor representa a saga
21 de janeiro de 2022Ficha de jogo Lançamento: 17 de Novembro de 2009 Gênero: Mundo aberto, Ação, Aventura Desenvolvedora: Ubisoft Disponível nas Plataformas: PC, Xbox 360, Playstation 3, Xbox one, Playstation 4 |
Considerado por muitos o melhor da série, Assassin’s Creed 2 apresenta uma evolução absurda em relação ao seu antecessor, mas o jogo em si dispensa comparações e consolida-se como um jogo memorável e a verdadeira realização do potencial que o primeiro game nos apresentou. É um jogo que apresenta alguns defeitos em sua execução, mas ainda assim é capaz de prender a atenção do jogador ao apresentar mecânicas divertidas e um enredo envolvente repleto de personagens carismáticos, tendo como palco uma representação da Itália renascentista capaz de encantar até mesmo o mais cético dos jogadores.
Nada é verdade, tudo é permitido
O enredo de Assassins Creed 2 retoma os acontecimentos que encerram o primeiro jogo. Voltamos ao papel de Desmond Miles, que foge de Abstergo com a ajuda de Lucy, ela o leva até um determinado local e o apresenta a Rebecca e Shaun, dois assassinos da atualidade que trabalham com o Animus 2.0, uma versão melhorada da máquina que permite reviver as memórias de seus ancestrais com o objetivo de encontrar e entender o poderoso artefato conhecido como a Maçã do Éden. Com a ajuda deles, Desmond agora volta à Itália Renascentista na pele de Ezio Auditore da Firenze, um jovem nobre Italiano que acaba perdendo seu pai e irmãos, executados sob falsa acusação de traição contra a cidade de Florença. Logo ele descobre que tudo não passa de uma conspiração por parte dos templários e começa então uma jornada de vingança que acaba tomando uma dimensão muito maior do que ele imagina, levando-o a se tornar um membro da ordem dos Assassinos.
A história de Assassin’s Creed 2 evolui em um ritmo perfeito e prende o jogador do início ao fim, envolvendo o jogador aos poucos até o ponto de se apegar, imergir na história e esquecer que os fatos apresentados ali não aconteceram de verdade. Você começa conhecendo o jovem Ezio, imaturo, mulherengo e aventureiro e aos poucos vai acompanhando seu amadurecimento, sua lenta entrada na ordem, a evolução de suas habilidades e a mudança de seu propósito de vida. Ezio Auditore é um personagem que é lembrado até hoje, e não é a toa, já que seu carisma é notável e sua evolução como personagem é extremamente bem construída, fazendo com que o jogador se apegue ao personagem sem ao menos perceber.
Durante a jornada, vários outros personagens interessantes surgem, muitos deles figuras históricas, o mais notável sendo Leonardo Da Vinci, considerado o maior gênio da história da humanidade, e autor – dentre tantas outras coisas – da famosa Mona Lisa. Ele o auxilia construindo melhorias para sua arma, além de traduzir e decodificar as páginas do codex, deixadas por Altair. A Ubisoft o representa de forma excelente, tomando as devidas liberdades criativas, mas respeitando sua história e fazendo diversas referências a ela, sempre implementando seu legado no jogo e nos objetivos de Ezio.
A era moderna, em paralelo às sessões no passado pelo ânimus, também traz contribuições para a qualidade do enredo, principalmente quando esta se envolve em meio às sessões para fazer comentários, ou até mesmo em atividades secundárias no jogo que servem como uma importante adição. Por exemplo, é possível encontrar no mapa diversos símbolos chamados de Glyphs, estes que foram deixados “artificialmente” no mundo para que escondam uma espécie de mensagem decodificada, cabendo ao jogador decifrar pequenos enigmas que revelam uma parte importante do mistério que envolve a maça do éden. Cada um dos enigmas é bem elaborado, mas o que realmente chama a atenção é o clima meio “O Código Da Vinci” que permeia os eventos, o que dá uma sensação de se estar desvendando uma grande verdade oculta por trás de grandes eventos e personagens históricos. Esse cuidado na construção do enredo aliado a um conjunto de missões divertidas é o principal fator que torna Assassin’s Creed 2 tão especial.
No controle de um Assassino
A jogabilidade de Assassin’s Creed se sustenta em 3 pilares principais, os quais vale a pena falar individualmente:
Parkour
A mecânica de Parkour certamente é uma das primeiras que se vem à mente quando pensamos em Assassin’s Creed. Aqui ela apresenta uma evolução enorme em relação ao primeiro game, com novos movimentos, animações e uma maior precisão. É extremamente divertido sair pulando pelos telhados, cortando caminho, olhando os movimentos nas ruas de forma estratégica para completar algum objetivo ou simplesmente admirar a paisagem da cidade do alto. As animações são fluídas, elegantes e variadas, dando certa credibilidade aos movimentos do personagem e contribuindo para que o jogador se sinta imerso.
Diante disso, é uma pena que em alguns momentos essa fluidez e diversão dê lugar a frustração, pois alguns movimentos mais simples acabam sendo muito burocráticos de se realizar, como por exemplo, saltar de uma altura pequena, já que o personagem parece “grudar” na beirada, não te deixando cair. Uma outra coisa que pode se tornar um problema é a presença de arqueiros no telhado, que além de não existir um movimento lógico para sua existência, ainda pode ser uma barreira para a fluidez ao se andar na cidade pelos telhados. São problemas que não chegam a tirar o brilho da mecânica por serem menos frequentes, porém não deixam de ser menos irritantes por conta disso.
Stealth
O stealth é parte fundamental do jogo, pois é o principal modo de agir dos assassinos e uma exigência para boa parte das missões. Há diversas mecânicas inteligentes, divertidas e imersivas de se usar, como se misturar na multidão, se esconder em montes de feno, sentar-se em um banco discretamente, e até contratar prostitutas para distrair os olhares tarados dos guardas, além disso o jogo possui diversas maneiras de se assassinar alguém desapercebido. Porém, é difícil de compreender o porquê de implantar tudo isso e esquecer de um botão que faça o personagem andar abaixado, ou mesmo de encostar na parede. Ainda que o jogo não seja stealth em sua totalidade, por que não buscar certos acertos de jogos até mesmo da própria empresa, como Splinter cell?
Combate
Por fim, temos as lutas do jogo. Usando o sistema de contra-ataque fatal, o combate no jogo é fluído e divertido, com diversas opções de movimentos, como provocar o adversário, esquivas, bloqueio ou até mesmo jogar areia nos olhos do inimigo. Novamente a animação usada nos movimentos é destaque, e torna contra golpear os inimigos algo extremamente satisfatório. Mas o sistema de combate, embora divertido, pode frustrar os jogadores que gostam de dificuldade, já que a presença da mesma é praticamente nula. O jogo é extremamente permissivo com erros e a janela de reação aos golpes dos inimigos é muito grande, tornando realizar o contragolpe algo extremamente fácil e, como consequência, o número de inimigos não se torna uma ameaça ao jogador. Proposital ou não, a Ubisoft perdeu a oportunidade de implementar um nível de dificuldade maior ou fazer ajustes de modo a tornar mais difícil usar o sistema de finalização.
Vivendo na Itália Renascentista
Como todo Open world (especialmente da Ubisoft), Assassin’s Creed 2 possui uma série de atividades secundárias espalhadas pelo mapa, a maioria são dispensáveis. Variam desde missões de corrida e contratos de assassino, até coletáveis espelhados por todo o mapa, e algumas são bem divertidas, o problema é que é preciso separar o joio do trigo o que dá uma certa “preguiça”. Além disso, muitas parecem extremamente desconexas com os acontecimentos principais ou até mesmo com a personalidade de Ezio, final de contas, por que ele iria perder tempo procurando defender a honra de uma mulher aleatório que foi traída?
O valor do mundo aberto de Assassin’s Creed na verdade reside em sua atmosfera e construção. As ruas populosas, o level design apurado e beleza na representação de cada monumento faz com que andar pela cidade deixe de se tornar um fardo e se torne um prazer. Detalhes como os cidadãos em seus afazeres, oradores dando as principais notícias da região, músicos de rua que ao te ver vem logo atrás de um trocado (ok, isso pode ser bem irritante e é um artifício para justamente atrasá-lo) e as reações das pessoas caso você comece a correr ou fazer acrobacias em sua frente são pequenos exemplos de uma cidade bem construída. O jogo possui mais de uma cidade, além de regiões menores para se explorar, cada uma delas com suas próprias características, que podem mudar a forma como você anda, escala ou até mesmo planeja suas missões. Um desses locais é Monteriggioni, que serve como uma espécie de sede dos Assassinos, a qual você pode inclusive modificar em um sistema muito interessante de manejo de recursos e reformas, que além de modificar a aparência da pequena vila, te concede uma renda fixa.
No jogo também é permitido comprar diversos itens, desde armaduras, armas e até mesmo quadros e obras de arte (não poderia faltar, já que estamos falando do periodo mais rico para tal). Além de uma personalização para o personagem, as armaduras podem aumentar a resistência de Ezio, mas também podem quebrar se muito exigidas, sendo necessário repará-las nos ferreiros. Você pode se tornar notável caso cometa muitos crimes, fazendo com que os guardas te reconheçam e ataquem imediatamente, e para diminuir seu nível de notoriedade, você possui como opções rasgar pôsters com seu rosto espalhados na cidade, assassinar oficiais corruptos ou subornar os oradores para que parem de mencioná-lo. Vale mencionar também que você pode jogar moedas para que a população cause uma comoção nas ruas e isso pode distrair os guardas ou até mesmo atrasá-los durante uma perseguição. Esse tipo de integração do gameplay com a atmosfera e construção da cidade é um fator pequeno porém primordial para que o mundo aberto de Assassin’s Creed 2 seja um palco perfeito para as ações do jogo, embora suas atividades extras sejam pouco atrativas.
Ma che bello!
É impossível falar de Assassin’s Creed 2 (ou qualquer outro jogo da franquia) sem falar também de sua ambientação. A Itália renascentista representada no jogo é simplesmente perfeita, com construções que existem e/ou existiram na vida real reproduzida em seus mínimos detalhes, aproveitando-se dos belíssimos gráficos do jogo. Isso é algo que contribui não só para a parte visual como também para a atmosfera do jogo. Como já mencionado anteriormente, as ruas são abarrotadas de pessoas, e francamente, a densidade populacional do jogo me deixa de boca aberta, visto que esta não provoca grandes travamentos ou slowdows.
A riqueza de detalhe nas roupas não só do Ezio, como também de todos os personagens e NPC’s também impressiona e mostra um cuidado especial da Ubisoft em tentar reproduzir da maneira mais fiel possível o ambiente e costumes da época. As expressões faciais também não fazem feio dada a época em que o jogo foi lançado, porém a falta de detalhes e cuidado em alguns dos rostos podem deixar a desejar, além disso tons monocromáticos em alguns locais podem causar estranheza, especialmente em Monteriggioni . No conjunto da obra, Assassin’s Creed é um jogo de encher os olhos e resiste bem ao tempo, sendo agradável aos olhos e provando que uma boa direção de arte aliado a uma ambientação cuidadosamente planejada pode fazer uma grande diferença no resultado final de um jogo.
Arte Sonora
Não é exagero nenhum afirmar que a trilha sonora de Assassin’s Creed 2 é uma das melhores a mais icônicas da história dos games. Sim, é desse nível de excelência que estamos falando. A começar pela música tema “”Ezio’s Family”, que inevitavelmente fica na sua memória e faz um trabalho fantástico em colocar o jogador imediatamente no clima do jogo, ela praticamente fala “Você está prestes a embarcar em uma jornada épica”. O compositor se chama Jesper Kyd, um dinamarquês que já trabalhou em diversos jogos na indústria, como Soulcalibur, Hitman, Warhammer, entre outros, mas é aqui que ele entrega o seu trabalho mais conhecido, pelo qual merece todos os méritos e uma honrosa menção nessa análise.
Até o momento falei do tema principal, mas todas as músicas, das orquestradas, até as cheias de percussão em momentos de ação, todas são cuidadosamente colocadas para dar o tom certo ao momento do jogo e são uma peça fundamental para o atmosfera incrível do jogo.
O representante definitivo de uma saga de sucesso
Assassin’s Creed 2 é e sempre será lembrado por ser o ápice da saga, não por ter o melhor gameplay, os melhores gráficos ou por ser o maior. Não, Assassin’s Creed 2 é o tipo de jogo que possui alma, que consegue superar suas limitações com elementos mais subjetivos e artísticos, é um jogo que consegue apresentar uma história empolgante, uma trilha sonora magnífica e um clima fantástico, além de possuir um personagem carismático que se desenvolve e abraça a causa dos assassinos de forma natural e fiel ao que ela representa. Assassin’s Creed 2 é o representante perfeito de uma saga que merece o seu lugar no hall da fama dos videogames, e merece ser lembrado por isso.
Análise incrível desse jogo fantástico! Pra mim o melhor da franquia!