Análise de Scarface: The World Is Yours – Diga Olá Para o Meu Amiguinho

15 de janeiro de 2022 12 Por José Daniel

Ficha do Jogo:
Lançamento: 25 de julho de 2006.
Gênero: Ação e aventura, Tiro em terceira pessoa.
Desenvolvedores: Radical Entertainment.
Publicadora: Vivendi Universal Games.
Plataformas: Playstation 2, Xbox, PC- Computador (Microsoft Windows) e Wii.
Tempo de Jogo: 16 a 28 horas.

Classificação Indicativa: +18.

Apresentação Inicial

Scarface: The World Is Yours é uma bela adaptação do filme Scarface (1983). Scarface é definitivamente um clássico dos cinemas, responsável por influenciar diversos elementos da cultura pop que estamos acostumados, com sua temática gangster dos anos 80, em uma Miami corrupta, fadada ao crime e farra. Scarface de 1983 é um remake de Scarface (1932), sendo este, baseado no livro de mesmo nome (1929) de Armitage Trail. O personagem principal foi inspirado no famoso mafioso Al Capone, que possuía o apelido de “Scarface”, devido à uma cicatriz em seu rosto.

Tony Montana é um dos mais famosos personagens nessa temática e, sem sombra de dúvidas, um grande marco para a indústria do cinema e uma larga influência cultural de maneira geral. Em 2006, o game foi lançado e se tratando de uma versão alternativa do final do filme. Quem já assistiu, pode imaginar que não teria como ter uma continuação (Spoiler? Bom, para um filme de 1983, não vejo como poder ser).

*O jogo foi jogado e finalizado em sua versão PC e todas as screenshots foram tiradas durante o gameplay (também foi jogado na versão do Playstation 2).

Uma frase marcante para um grande personagem.

Enredo

No filme, Tony Montana ascende até o topo no mundo do crime e acaba alcançando a sua decadência repleta de reflexões sobre a vida e suas atitudes. Após os acontecimentos do filme, ao invés de Tony ser assassinado, acaba por matar seu assassino e sobrevive. Todos acham que Montana está morto, mas logo vem a surpresa.

Tony Montana.
A cara do sucesso.

Tony perdeu tudo e está em busca de reerguer o seu império. Para isso, entra em contato com seu advogado (conhecido por ser um dos mais corruptos) para tentar voltar à ativa e recuperar o seu posto de grande magnata do crime. Com seu temperamento muito instável, o caminho pode ser um pouco mais difícil que se possa imaginar.

Como o Jogo Funciona?

Scarface: The World Is Yours é um game de mundo aberto, seguindo a receita de Grand Theft Auto (GTA), True Crime e semelhanças a Driver. Apesar de diversas influências, o jogo traz diversas características autênticas, que o torna cada vez mais diferente de suas influências e menos genérico (realmente, é uma ótima surpresa). Além disso, comparações com GTA estão um pouco fora do intuito da análise (apesar de inevitável), uma vez que, muitos jogos do estilo, incluindo GTA, tiveram fortes influências do filme Scarface (1983).

A ideia de fazer uma continuação para o filme pode até assustar em um primeiro momento (imagina, estragar um clássico?), porém, acabou se tornando um prato cheio para os apreciadores do filme e da temática. Explorar Miami é sempre muito bem-vindo, ainda mais se a cidade for trabalhada da maneira certa. Scarface melhora Vice City e amplia o que foi visto em Driv3r. (Quanto a isso, não há reclamações).

Tony Montana pode andar, correr, abaixar, roubar carros, socar, esfaquear, nadar, apostar em caça-níqueis, jogar poker (naquelas máquinas), dirigir carros, barcos, vãs, vender drogas, negociar e customizar sua mansão. Sim, você não leu errado, Tony não pode pular e isso pode atrapalhar em alguns momentos. Além da movimentação fluída, o jogo traz uma ambientação sensacional e creio ser uma das mais incríveis passadas em Miami.

Quer jogar comigo? (então, say hello to my little friend)

Mapa

O mapa de Scarface não nos ajuda muito bem, porém, temos as legendas para nortear nosso rumo.

  • M – Negócios de Tony.
  • Gota de sangue – Locais onde podemos restaurar nossa vida. (também podemos nos curar nos nossos negócios)
  • Ponto Branco – Traficantes dispostos a comprar do seu produto.
  • Ponto Amarelo – Amigo
  • X Branco – Ponto de interesse
  • X Amarelo – Objetivo principal.
Mapa.

Exploração

Quando temos um mundo aberto, não adianta nada ser gigante e completamente vazio. Miami de Scarface não é uma das mais recheadas de coisas, mas tem coisas o suficiente para não deixar a exploração completamente monótona. Vale a pena explorar os pontos já conhecidos e comparar com outros jogos que representam a cidade.

Um dos primeiros negócios de Tony.
Tony e seu conversível.

Apesar do mapa ser grande, ele não é muito intuitivo quanto outros jogos do gênero. Existem diversos ícones espalhados por ele para ajudar na localização. Uma pena não ser muito eficaz quanto deveria. O lado bom (ou nem tão bom assim) é que o game possui um sistema de GPS, onde as setas apontam para a direção que deve ir. Nem sempre funciona como deveria e na maioria das vezes você vai acabar até ignorando as coordenadas e seguirá sozinho.

Objetivos Principais e Secundários

O jogo mescla bastante entre os tipos de objetivos que teremos durante o gameplay. Temos as missões da campanha, que seguem com cinemáticas muito boas e bem-feitas, trazendo uma sensação de fazer parte do filme e missões secundárias que servirão para avançarmos nas missões principais. Como assim? Como o jogo é uma jornada de ascensão de Tony, teremos que comprar e vender drogas e realizar objetivos paralelos interligados com o enredo para podermos passar de nível e liberarmos mais locais e assim avançarmos na campanha.

A primeiro momento, realizar essas missões parece ser algo bem repetitivo, porém o jogo consegue variar o suficiente para não deixar cair no loop infinito de missões idênticas. Em um determinado momento, precisamos comprar a droga de um fornecedor e distribuir de caminhão, já na próxima vez que fizer isso, será em uma perseguição de barco ou coisas assim, deixando menos cansativo e monótono que uma repetição qualquer.

Tony dando um role de barco.

Lavagem de Dinheiro e Venda de Drogas

A principal forma de ganhar dinheiro em Scarface é vender e negociar drogas. Na interface do game, temos a quantidade de dinheiro que temos em mãos (representado por um $), gramas de cocaína (representado por um g) e um ícone de banco, que representa a quantidade de grana que temos no banco. Todo o dinheiro que estiver com a gente durante o jogo, caso seja assassinado, perderá tudo, incluindo as drogas. O ideal é sempre ir ao banco lavar seu dinheiro, e é nesse momento que você pode salvar o game.

A Ida ao banco é sagrada.

Ao conseguir drogas, seja fazendo as secundárias ou matando traficantes na rua, você poderá vendê-las para pessoas em específicos no mapa ou levar até um dos associados para revenda. Vender para revendedores dá uma boa grana imediata, mas é menos lucrativo que vender para traficantes na rua. Outro ponto importante nesse sistema, é uma espécie de mini game que temos que fazer para conseguir efetivar a venda. Temos um círculo e teremos que segurar um botão até enchê-lo. Caso atinjamos o ponto necessário, efetivamos a venda (podendo ser o valor integral se atingir a meta do circulo ou parcial, desde que não atinja a área ruim) e se falharmos, haverá um confronto.

Negociando com o aspirador.

Polícia e Gangues

A polícia de Miami poderá acabar com você ou poderá ser a sua aliada, tudo vai depender do quanto você colaborará com eles. Quando você roubar um carro ou sair atirando nas pessoas na rua (não, Tony não mata civis), as pessoas chamarão a polícia e você será procurado. Um círculo de procurado aparece na tela e vai enchendo conforme faz coisas erradas. Para se livrar deles, basta fugir, mas eles eventualmente poderão persegui-lo. O ideal é suborná-los no menu de negócios (business), basta dar uma grana para a polícia que seu nível diminuirá. Caso eles te peguem fazendo zona, basta fazer o mesmo mini game das drogas e do banco para convencê-los a te soltar. Conforme avança no enredo e ganha reputação, as pessoas passam a te reconhecer toda vez que faz algo, seja vender drogas ou invadir territórios inimigos.

Cada território é dominado por uma gangue e por um líder. Para conseguir tomar aquele território, temos que fazer as missões secundárias e ir eliminando a concorrência naqueles lugares. Comprar lojas em território inimigo os enfraquecerá, então é altamente recomendado. Sem falar que aumenta seus lucros e facilitam na hora de uma eventual encrenca com baderneiros.

Gangue rival perturbando nossos negócios.

Negócios

Podemos adquirir vários negócios durante o game. Ao comprá-lo, ele servirá como uma base. Podemos entregar nossas drogas lá e nos curarmos. Eventualmente, gangues rivais irão tentar acabar com seu negócio, então você terá que ir evitar que isso aconteça e reparar os eventuais danos. É possível comprar melhorias para diminuir os danos, como câmeras e seguranças para vigiá-los. Cada item custa uma boa grana, então é sempre bom manter a venda de drogas em dia. São vários tipos de negócios, indo desde drive-in até lojas de charutos cubanos e supermercados.

Loja de penhores.
Drive-in.

Catálogo e Melhorias

Essa é uma parte que, no início, eu achei bem confusa, mas logo pegamos o jeito. Temos um catálogo (exótico) repleto de coisas que podemos adquirir e melhorar nossa reputação na cidade. Podemos comprar motoristas para trazer nosso carro até nós, comprar veículos, incluindo barcos, pilotos, capangas, itens para a nossa mansão, tanto para melhorar o interior quanto para decorá-los (com referências aos montes). É muito legal poder explorar um pouco mais dessas coisas, além de fazerem a diferença quando visitamos nossa mansão. Também podemos comprar armas na mansão e armazená-las, tanto no escritório de Tony quanto no porta-malas do carro.

Ambientação

Scarface tem uma ambientação paradisíaca. Temos a praia, bares, lojas, boates, clubes, centro da cidade, com prédios, bancos e tudo mais, zonas industriais, rodovias, oficina (para repararmos nossos veículos) e muita, mas muita mulher bonita (pelo menos para a época. É estereótipo? Talvez, mas se tratando de Scarface, fizeram bem-feito).

Temos mudanças climáticas, porém não são dinâmicas como em GTA. Podemos ver o pôr do sol ou tomar uma chuva. O pôr do sol é bem bonito, com reflexos e tudo mais, mas as chuvas são bem ruinzinhas, mal passa a sensação de estar chovendo.

Pôr do Sol.
O “quase” garanhão.
Clube.

Trilha Sonora

Anos 80 deixou um gostinho de quero mais em relação à música. Porém, Scarface traz a sensação de entrarmos no túnel do tempo e revisitar a boa e velha atmosfera daquele tempo. A trilha sonora do game conta com a trilha sonora original do filme, incluindo as composições do grande Giorgio Moroder, além de contar com grandes nomes da música, como Judas Priest, Mothörhead e Johnny Cash.

Podemos ouvir as músicas em forma de rádio, assim como nos GTA’s da vida. No entanto, as músicas não se prendem somente aos veículos. Podemos ouvir as músicas da rádio enquanto fazemos as coisas pela cidade e andamos a pé. Um fato bem legal, já que poucos jogos no estilo trazem essa mecânica (lembro apenas de Watch Dogs 2). A trilha preenche bem e combina com o clima que o jogo apresenta, variando de rock, reggae, até rap e dance. Também podemos desbloquear algumas músicas para complementar ainda mais a nossa experiência com o game.

Problemas e Bugs

Aqui é um ponto delicado do game, já que em sua versão PC exige diversos patches de correção para que funcione bem. Na versão PS2, o game funciona bem, mas possui muito delay de renderização e o resto é o de sempre. Personagens travando em lugares e coisas, surgem do nada, a inteligência artificial é ligada no modo “matar”, ou seja, só correm até você e eventualmente se escondem. O dano dos veículos ocorre quando quer. Você pode dar de cara com um muro e nada acontece ou você pode encostar a roda no meio fio e o carro amassa. No geral, nada que efetivamente comprometa o gameplay, mas ressalto a necessidade de patches de correção no PC para poder ter uma experiência satisfatória.

Bati.

Extras: Violência, Armas, modo Rage e Interação

Já não é novidade para ninguém que Scarface é um filme violento. Não é o típico filme em que você reúne toda a família para assistir na ceia de natal. A violência apresentada no filme, se repete no game de maneira bem fiel. É possível matar de diversas formas e com diversas armas. Temos um arsenal completo com facão, pistolas, metralhadoras, submetralhadoras e, claro, não poderia faltar, a clássica motosserra.

Podemos desmembrar nossos inimigos, decapitá-los, quando acertamos em áreas vitais, aparece uma mensagem na tela, como “rim direito”, “rim esquerdo”, etc. A violência é explícita, com direito a sangue espirrando para todo lado. Infelizmente não há poças de sangue nem manchas pelo cenário, mas o jogo cumpre com o que promete nesse aspecto.

O modo rage é lindo. Tony, quando está sob efeito de drogas, ganha uma vitalidade impressionante (no filme). Já no jogo, é chamado de modo fúria. Quando a nossa barra de rage enche, ganhamos uma espécie de invencibilidade, onde a câmera fica em primeira pessoa, a tela fica vermelha e nós, muito furiosos. Também não há a necessidade de ficar recarregando toda hora quando estamos sob efeito do modo fúria.

Um fator muito legal que temos no game, é a interação com os inimigos e pessoas na rua. Tony pode conversar com eles (sempre conversas agregadoras para a vida), xingá-los ou até mesmo dar em cima da mulherada (“Ei, gata, vamos tomar um sorvete?). Conversar com os NPCs e ter diálogos completos com ele, faz com que completemos a conversa e ganhemos culhões. Culhões serve como uma espécie de reputação para Tony. Já com inimigos, podemos ameaçá-los e intimidá-los com nossos palavreados desenfreados.

Bom, essa não faz o tipo de Tony.

Conclusão

Scarface: The World Is Yours é uma continuação alternativa para o filme que dá de dez a zero em muitos jogos de filmes. Para os fãs, é um presente vê-lo novamente em ação e, ainda mais, sob nosso controle. É um game dentro dos padrões da época, mas que consegue se destacar em meio a muitas cópias baratas de GTA. The World Is Yours é um jogo autêntico que cumpre com o que promete. Violência, gráficos e cenários lindíssimos, opções para o jogador se divertir e uma trilha sonora fantástica. Possui vários problemas na versão PC e exige correções externas, porém na versão console, o game funciona bem e tem bom desempenho. Um jogo obrigatório para fãs de Scarface e uma ótima opção para quem curte o gênero e queira experimentar algo diferente.

Nota: 8.6/10.

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