Análise de Yakuza 0 – Uma nova cara para a série
21 de junho de 2021Ficha do Jogo: Lançamento: 15 de março de 2015. Gênero: Luta, ação-aventura com elementos RPG. Desenvolvedores: Ryu Ga Gotoku Studios. Publicadora: Sega. Plataformas: Playstation 3, Playstation 4, Xbox One e PC – Computador (Microsoft Windows). Tempo de Jogo: de 31 a 150 horas (caso opte por fazer 100%). Classificação Indicativa: +18. |
SELO DE OURO: Jogo Altamente recomendado; permita-se viver essa experiência!
Apresentação Inicial
Yakuza 0 ou Ryū Ga Gotoku 0 (como um dragão) é um jogo de beat ‘em up muito diferente dos jogos de luta comuns. Yakuza é considerado um sucessor espiritual de Shenmue (dreamcast) e isso fica nítido logo de cara. O altíssimo nível de qualidade, tanto de jogo quanto de enredo, vem do clássico Shenmue. Nesse sentido, Yakuza consegue fazer por merecer todos os seus feitos.
Yakuza 0 é um recomeço para a saga, em relação a tecnologia. Apresenta diversas modificações que visam a melhora dos aspectos de gameplay e melhorias gráficas. Um enredo que se passa antes dos acontecimentos originais de Yakuza (2005) e do remake de 2016, Yakuza Kiwami, proporcionando maior profundidade a história. O jogo coloca o jogador na pele de dois protagonistas, Kazuma Kiryu e Goro Majima, colocando em jogo questões morais e éticas de cada personagem, apresentando todo o peso de uma história repleta de reviravoltas e enredo cinematográfico.
*O jogo foi finalizado no PC e todas as imagens foram tiradas durante o gameplay.
PS: muito do dito nessa análise serve de base para os próximos.
Enredo
O enredo se passa nos anos 1980, apresentando uma Yakuza repleta de regras, pessoas honradas e muito, mas muito respeito à hierarquia. Kazuma Kiryu, protagonsita do game, surge cobrando uma dívida de uma pessoa importante em um terreno a serviço de um agiota. O que ele não imaginava, era a dor de cabeça que iria ter por causa desse acontecimento.
Goro Majima, divide o protagonismo com Kiryu, foi expulso da Yakuza por um motivo que é revelado com o decorrer da história e parte para uma luta em busca de poder retornar para a família mafiosa. Sua história começa a ser contada de forma independente, mas por diversos motivos, de alguma forma, sua história acaba estando ligada com a de Kiryu. Funciona quase como duas campanhas diferentes, porém, conectadas.
Como o Jogo Funciona?
Antes de mais nada, Yakuza não é Grand Theft Auto (GTA), então não espere sair dirigindo e atropelando todo muito adoidado e ter seis estrelas de procurado. A fórmula de Yakuza é única e funciona muito bem para a proposta do game. O gameplay é bem dinâmico e o enredo é dividido em capítulos. O jogador é colocado em um mundo semiaberto, apresentando duas cidades: Kamurocho (Kiryu) e Sotenbori (Majima). Ambas baseadas em partes reais do Japão e com uma tentativa de ser o mais fiel possível. Kamurocho é baseado em Kabukichō e Sotenbori em Dōtonbori.
Em primeiro momento, o jogo segue de uma forma linear para introduzir o enredo, porém, aos poucos, é possível desbravar seu vasto universo cultural. Essa imersão é ainda maior para aqueles que conhecem “Kamurocho” e “Sotenbori” na vida real. Dessa forma, muita coisa que veremos no jogo, pode não ser das mais comuns para os ocidentais.
Apesar de uma imensa quantidade de coisas para se fazer, Yakuza tem o maior foco voltado para o enredo. Dito isso, vale lembrar que as cinemáticas são bem demoradas, alternando entre cinemáticas e diálogos por texto. Pode parecer muito, mas quando você está disposto a entender o enredo, o tempo passa voando e nem parece que já está a 20 minutos assistindo ao embate entre Kuze (um dos personagens do game) e Kiryu.
O game apresenta uma série de coisas dentro de seu universo. Além de diversos personagens marcantes e uma história fenomenal, apresenta diversos mini games, restaurantes, bares e substorias para alimentar ainda mais seu conteúdo. Cada detalhe feito com a devida atenção para trazer ao jogador a melhor experiência possível.
Modos de Luta
Kiryu e Majima possuem estilos próprios. Nesse sentido, o gameplay com cada um será diferente. Kiryu possui 3 estilos de luta e um especial: Brawler (luta de rua, movimentos médios, trabalha com o cenário), Rush (estilo voltado para o boxe, movimentos rápidos e ataques fracos), Beast (bruto, movimento lento, ataques fortes e trabalha muito com o cenário) e o Legend – Dragon of Dojima (estilo especial único).
Majima também possui 3 estilos de luta e um especial: Thug (semelhante ao Brawler de Kiryu, porém, mais agressivo e preciso), Slugger (arma equipada, taco de baseball permanente, golpes muito fortes, movimentação lenta), Breaker (estilo de luta na vibe break dance, semelhante a capoeira, muito ágil, eficaz e bem característico de Goro Majima) e Legend – Mad Dog of Shimano (estilo especial único).
Árvore de Habilidades
Para novas habilidades, Kazuma e Goro possuem suas próprias árvores de habilidade, separadas por estilos de luta, podendo ser adquiridas com dinheiro ganho no decorrer do game. Possui uma vasta opção de habilidades, indo desde não cansar ao correr até combos brutais. A cada pedaço concluído da árvore de habilidades, o valor de aquisição das novas é bem maior, forçando o jogador, caso queira completá-la, explorar ao máximo o que o game tem para oferecer.
Além de obter as habilidades utilizando a moeda do jogo, é possível desbloquear diversos movimentos novos com as substórias, tanto com o Majima quanto com o Kiryu. Normalmente exigem do jogador a realização de algum favor ou coisa do tipo para que possa aprender o movimento.
Exploração
Sem dúvidas, um dos maiores focos de Yakuza é proporcionar ao jogador o máximo de imersão possível. Durante a exploração, é possível encontrar diversas coisas para se fazer na cidade, locais para explorar, missões extras, fazer amizades, jogar mini games (sendo um dos mais completos que já vi em um jogo). É tão diversificado, que qualquer um que jogar, será atendido de alguma forma.
Como o jogo se passa nos anos 80, é tudo muito característico. O jogo não possui salvamento automático e necessita ser salvo em cabines telefônicas espalhadas pela cidade. Para receber mensagens, Kiryu recebe através de um Pager (ou bipe). Já em Kiwami, que se passa em um período mais atual, Kiryu utiliza um celular. Contudo, não é somente isso que está de acordo com o período.
Os colecionáveis de Yakuza 0 são cartões telefônicos com atrizes japonesas do entretenimento adulto (acredite, você vai lembrar bem disso daqui a pouco). Desse modo, o personagem possui um álbum para colecionar esses cartões que estão espalhados pelos distritos.
Os mini games são muito bem diversificados e agregam significativamente para a experiência do jogador. Em Yakuza 0 é possível jogar rebatidas (uma espécie de baseball com pontos), Mahjong, administrar clubes noturnos e interagir neles, jogar dardos, sinuca, participar de karaokês (funciona como Guitar Hero, mas com botões do controle), lutar em campeonatos clandestinos, jogos antigos no Club Sega (fliperamas reais jogáveis), UFO Catcher (aquela garra que pega bicho de pelúcia), boliche, pesca, Shogi (xadrez japonês), lutas de garotas de biquíni (ao estilo pedra, papel e tesoura), discoteca, clube de telefone (algo real no Japão na década de 80), autorama, imobiliária e jogos de azar chineses (basicamente, o cassino do game) e clube de vídeo (utiliza os cartões das atrizes para poder assistir vídeos curtos reais com elas fazendo alguma coisa, em uma banheira, brincando com bolha de sabão, etc. Porém nada explícito, sempre com roupa de banho ou pijamas). E para finalizar, um restaurante onde é possível mandar capangas para diversos lugares do mundo para coletarem peças para a produção de novos equipamentos (armas, proteção, amuletos).
Para deixa a exploração ainda mais divertida, o game traz um combate frenético com diversas pessoas nas ruas querendo comprar brigas, desde beberrões até mafiosos ou esquentadinhos. Para evitar combate toda hora, é possível equipar um amuleto que permite um tempo de paz (ou um amuleto que todo mundo quer brigar, então depende de você).
O jogador fica livre para ir em restaurantes, bares, clubes noturnos, aproveitando tudo que cada lugar tem para oferecer. Há uma lista de coisas para se completar que, ao realizar o feito, você recebe CPs (completion points) para desbloquear em um palhaço com terno branco que fica parado em determinado local do mapa. Isso desbloqueará diversos itens que facilitarão o gameplay. Vale lembrar que, ao completar todas as substórias, (60 com Kiryu e 40 com Majima) terá uma batalha secreta com os Amon (sim, são dois caras absurdamente difíceis), então caso queira batalhar, é bom ter muito item de cura e equipamentos bons.
Cada restaurante possui seu próprio cardápio, normalmente bem recheado. Vai do mais simples ao mais luxuoso. Os bares oferecem diversas bebidas e ainda contam um pouco sobre elas quando escolhe determinado drink. É ou não é um prato cheio para os jogadores? (Perdão pelo trocadilho)
Mr. Shakedown
Yakuza 0 traz um elemento interessante como forma de arrecadar uma boa grana (mas de perder tudo também), que são os Mr. Shakedown. São brutamontes que andam pelo mapa que, ao confrontá-los, resulta na perda elevada de dinheiro quando apanha. Caso você consiga vencer sem apanhar muito, o dinheiro é retornado para você. Eles são muito difíceis e um tanto demorados, então é sempre bom tomar cuidado ao sair no soco com esses carinhas.
Lojas e Conveniências
É muito comum você esbarrar em alguma loja e acabar se espantando com a qualidade de detalhes do lugar. As lojas são muito bem-feitas, espaçosas e com um capricho muito grande. Inclusive, um dos famosos “camelódromos” japoneses está presente no game e com o mesmo nome original. Don Quijote é uma das maiores redes de lojas presente no game e na vida real.
Nessas lojas, é possível adquirir itens de saúde, armas, equipamentos, itens secundários (dardos, peças de carrinho de autorama e varas de pesca). Cada loja pode possuir itens específicos daquela loja. Farmácias possuem muito mais opções de itens de cura do que uma loja de conveniência. Em contrapartida, você irá encontrar muito mais bebidas e alimentos nas conveniências (parece óbvio, mas é tudo muito bem estruturado).
Kamurocho e Sotenbori possuem a famosa Ebisu Pawn (lojinha de penhores). Nessas lojas, é possível adquirir diversos itens e vender bugigangas. Ao andar pela cidade, é possível encontrar pessoas sendo agredidas. Caso opte por interferir na briga, você será recompensado pela pessoa que salvou. São diversos itens que você poderá receber, porém, alguns deles, como pratos valiosos ou outros objetos, então será possível vender nas Ebisu Pawn por uma boa quantia em iene.
Violência
A violência de Yakuza é leve a moderada. Por incrível que pareça, não é nada muito explícito (e nem precisa). O jogo da conta de apresentar um enredo profundo e, de certa forma, pesado, sem apresentar uma violência desenfreada. Apesar de ser um jogo de luta, não espere um Mortal Kombat da vida. O foco é trazer ao jogador uma experiência única e bem completa, o que ele consegue com tranquilidade.
Mesmo não sendo altamente brutal, o jogo possui a sua dose de violência que marca sua presença no contexto que o game traz. A vida de Kiryu e Majima engrandecem a história. Personagens marcantes e envolventes que não trabalham em cima de uma violência desenfreada, mas sim, traz a dose certa para seu contexto e não deixa a desejar.
Extras: Bugs, Trilha Sonora, Ambientação e Dublagem
Por incrível que pareça, Yakuza 0 não costuma apresentar muitos bugs. O game é muito bem polido e funciona muito bem. Presenciei apenas pequenos problemas, que são comuns na maioria dos games. Inimigos travam em algum objeto, não notam a sua presença, do nada param de te bater, mas fora isso, nada que atrapalhe o desenvolvimento do jogo. O port para o PC veio de uma forma magnífica que, muitos jogos que passam por portabilidade, não possuem. Vale lembrar que o ideal para jogar Yakuza no PC é a utilização de um controle para melhor aproveitamento (Yakuzas de verdade usam controles).
A trilha sonora já se faz presente logo de cara na introdução do game. É impecável. Cada batalha com chefes na campanha, possui a sua própria música tema. As músicas da discoteca, karaokê e objetivos secundários são muito bem escolhidas e combinam com a proposta da cena. Diversas vezes eu precisei procurar a música por fora e ouvir depois de jogar, são variadas e escolhidas a dedo.
Como já apresentado, há diversos lugares para se explorar e todos muito bem detalhados e caprichados. Porém, durante a história principal, o jogo leva o jogador para diversos cenários que são encantadores. Todos os lugares que o jogador passa, seja com Kazuma Kiryu ou com Goro Majima, a experiência é única e marcante. São poucos os momentos que você não se impressiona com o ambiente, isso se em algum momento acontecer (o que é muito pouco provável).
O game possui apenas dublagem em japonês com legendas em inglês. Então, infelizmente, deixa muita gente de fora da compreensão do que o jogo propõe. As vozes de Yakuza 0 são sensacionais. As vozes são dos próprios atores que emprestaram o seu visual para os personagens. Muitos atores famosos em filmes japoneses estão presentes, como: Hitoshi Ozawa (Kuze), Riki Takeuchi (Awano) e Hideo Nakano (Shibusawa). São excepcionais e dignos de aplausos (sem mencionar Kiryu e Majima). A versão original de Yakuza (2005) recebeu dublagem em inglês, incluindo Mark Hamill como Majima (não falei que era no estilo Coringa?). Porém, não deu muito certo e acabou não retornando até o último lançamento, Yakuza: Like A Dragon, mas isso são cenas para os próximos capítulos.
Conclusão
Yakuza 0 é definitivamente um marco para a saga e entra facilmente no ranking de melhor da série. Um enredo profundo e envolvente, apresentando uma visão mais densa de Kiryu e Majima. Não é o Majima (estilo Coringa) que estamos acostumados. Você ri, você se emociona, fica bravo, se anima, é um mix de emoções muito bem trabalhado. A infinidade de coisas para se fazer durante a exploração é algo que nem mesmo GTA oferece hoje em dia. Mesmo não sendo um game para todo mundo, possuindo um foco gigante no enredo, cinemáticas longas e muitos diálogos, o game cumpre com o prometido e traz uma experiência única ao jogador. Você pode amar ou pode odiar, mas uma coisa é certa, aqueles que não experimentaram, com certeza está perdendo uma experiência marcante e que não encontrará em outro game (talvez um Shenmue, mas aí fica redundante). Muito recomendado e aprovado.
Nota: 10/10.
*As notas são retiradas de jogabilidade, gráficos, trilha sonora, enredo e fator diversão. Os fatores gráficos são avaliados para a época em que foi lançado, comparando com outros games da época.
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