Análise (Review) de Death Stranding

28 de março de 2021 1 Por Rafael Castillo

Esta é mais uma das incríveis obras de Hideo Kojima, um jogo que explora de forma muito clara a empatia e a importância de ajudar o próximo, procurando construir um mundo melhor do que ele é ou do que já foi um dia, por meio de nossas atitudes.

Death Stranding, foi desenvolvido pela Kojima Productions e lançado inicialmente para Playstation 4 em 8 de Novembro de 2019, e posteriormente para Microsoft Windows em 14 de Julho de 2020. .

Nesta obra, temos um compilado de tudo o que já vimos nas obras de Kojima, como o modo Stealth, imersão à narrativa, inovação na jogabilidade, suspense, terror e muitos momentos de reflexão. Na contra capa da mídia física, temos uma breve descrição sobre o jogo e que destaca a criação de um novo gênero, o “Strand Game” ou “Strand System”.

Uma América Diferente

O jogo se passa em um mundo devastado pelo Death Stranding, um evento cataclísmico que causa diversas obliterações e explosões sob a terra, deixando imensas crateras sob o solo. Nele, exploramos os Estados Unidos que após esses eventos foi fragmentando fisicamente e como nação. Alguns dos que sobreviveram, criaram bases e centros de distribuição de cargas para que houvesse a troca de recursos e com isto, tentar reconstruir o que restou da América.

Para entendermos a sua narrativa e a mensagem que o Kojima quis nos apresentar, precisamos conhecer e entender alguns conceitos, lugares e personagens inseridos no jogo, sendo todos eles fatores importantes.

*Ao olhar no espelho disponível nos quartos privados Sam irá interagir com eles de formas diferentes.

O Espelho Do Mundo Real

As Praias, são realidades alternativas do nosso mundo com o tempo distorcido, o que faz com ele praticamente pare de passar. Algo visto quando chegamos à praia são diversos animais marítimos mortos pela costa, em sua maioria baleias. O encalhar de baleias é algo que de fato existe e cientificamente esse evento é justamente conhecido como Death Stranding.

Sendo um reflexo de nosso mundo, também pode ser visto como uma espécie de limbo ou purgatório. É nas praias que as “Entidades Praianas” são originadas, e não é uma experiência muito agradável quando nos deparamos com algumas delas no mundo real. Cada pessoa, tem a sua própria praia, porém, alguns dos personagens do jogo conseguem viajar entre elas ou possuem a habilidade de visitar as praias dos outros.

*Uma das visitas de Sam à “Praia”.

Não Estamos Sozinhos

As “EPs” ou “Entidades Praianas” surgiram após o Death Stranding, elas são ligadas às praias pelo que é chamado de Cordão Umbilical, e através dele são manifestas no mundo real. Elas são capazes de transformar os cadáveres de pessoas em outras “EPs” e quando isto acontece, ocorre as obliterações, atos de destruição e eliminação, seu principal fator está ligado ao que diz respeito à conexão entre os dois mundos, pois assim como as praias são o reflexo de nosso mundo, as “EPs” são reflexos dos humanos e quando se encontram elas se aniquilam, causando as tais obliterações.

A causa do Death Stranding é por meio da “EE”, a Entidade de Extinção, ela também é conectada por um Cordão Umbilical e é por meio dele que ela leva a destruição ao mundo dos vivos.

Até o momento de iniciarmos a jornada de Sam Potter Bridges por esse mundo caótico, já haviam ocorrido cinco Death Strandings sob a terra, com isto, é possível imaginar o quão desafiador é a nossa aventura.
Uma expressão que vem muita a calhar quando somos pegos por “EPs” é “a coisa ficou preta”, pois assim que somos dominados por elas em um curto espaço de tempo, toda a área em que estamos fica coberta de limbo, algo parecido com piche e que dificulta muito o caminhar de Sam, gastando sua energia mais rápido.

*Sam tentando sair de uma área de EP’s.

Uma Ajuda É Sempre Bem Vinda

Algo que nos intrigou antes do lançamento deste jogo foram os bêbes que vimos em alguns trailers, eles têm um papel importante na narrativa do jogo e são de extrema ajuda. O nome dado a eles é “BBs”, uma abreviação de Bebês Bridge, são crianças prematuras mantidas em cápsulas que simulam o útero de suas mães, mas que interrompem o seu desenvolvimento. Nessa condição, os “BBs” ficam entre a vida e a morte, tornando-se capazes de ver as “EPs”, essa habilidade fez com que os “BBs” fossem utilizados pelos portadores em suas travessias pelo país.

*Sam descansa junto ao BB em uma área isolada longe do perigo.

O Scanner Amigo

Um acessório indispensável em Death Stranding é o Odradek, um dispositivo portátil que é conectado à cápsula do BB, ele capaz de scanner praticamente tudo desde cargas perdidas, veículos e construções nas proximidades, além de nos dar informações de terrenos menos ingrímes e de melhor acesso, isto é essencial quando levamos uma quantidade elevada de cargas nas costas, pois quanto melhor for o trajeto, melhor será para se equilibrar, evitando a queda e consequentemente danificar as encomendas.

Mas, o que o torna ainda mais especial é a identificação de “EPs”, uma vez que o “BB” as vê, o Odradek transmite isso ao girar freneticamente como um catavento, o quanto mais próximo estiver mais rápido ele irá gerar, apontando para o local que tiver uma “EP”.

*O Odradek em ação escaneando a região.

O Envelhecimento e a Degradação

A Chuva Quiral é resultado dos eventos cataclísmicos que também afetou todo o clima, a chuva e a neve ao evaporar aceleram em maior escala a passagem do tempo, isto faz com que qualquer coisa que seja atingida pela Chuva Quiral, envelheça e se deteriore de forma mais rápida.

Este é o principal motivo pelo qual devemos entregar as cargas que nos é dada o mais rápido possível, afim de evitar que os recipientes e conteúdo da carga sejam danificados, quanto maior sua exposição maior será o dano, podendo até ser inutilizável. Quando houver poucos danos ao recipiente, podemos usar os Sprays de reparo, contudo, se foi muito exposto ao clima a carga pode ter sido afetada, e o Spray repara somente a parte externa.

A qualidade e preservação das cargas devem ser levadas em conta, pois quanto melhores estiverem no ato da entrega, mais pontos adquirimos, logo, mais rápido subimos o level de Sam, habilitando funções de grande valia.
Além das cargas, os humanos também são influenciados pela chuva, por este motivo Sam e todos os personagens que vagam pelo mundo de Death Stranding estão cobertos da cabeça aos pés, pois ao serem atingidos pela Chuva Quiral, eles envelhecem muito mais rápido.

*Sam, enfim chega com sua carga em um dos centros de distribuição para seguir com sua missão.

Aqueça Os Motores

Os veículos podem ser de grande ajuda, principalmente quando é necessário percorrer caminhos mais longos para as entregas, dentre os veículos disponíveis estão os Triciclos e caminhões, nos quais também é possível armazenar nossas cargas. Eles ficam disponíveis nos terminais dos centros de distribuição, mas também é possível encontrar alguns abandonados pelo caminho, alguns até em ótimo estado, mas alguns inutilizáveis devido a ficarem muito tempo expostos à Chuva Quiral.

*Os veículos podem ajudar a atravessar mais rápido regiões expostas à Chuva Quiral.

Um Sexto Sentido

Os DOOMs, é uma habilidade que permite as pessoas interagirem com as praias sem estarem mortas e detectar “EPs” de alguma forma, algo semelhante aos “BBs”, sendo uma espécie de sexto sentido. Sam também possui esses Dooms, mas em seu nível 2, o que significa que ele pode sentir a presença das “EPs”, mas não consegue enxergá-las, pelo menos não a olho nu.

Alguns outros personagens durante a trama têm níveis mais elevados desses DOOMs, como é o caso da Fragile e Higgs, mas não vamos explorar aqui seus envolvimentos na estória do jogo.

*Região de “EPs”, é possível identificá-las com o uso do Odradek.

Além da Vida

Sam, é um ser humano diferenciado no universo de Death Stranding, pois além dos DOOMs, ele é um repatriado. Resumindo, podemos dizer que ele é capaz de voltar da morte, mas há todo um conceito por trás disso.

No antigo Egito, o “Ka” designava uma espécie de alma que os egípcios acreditavam que existia tanto nos homens, como nos deuses. Já o “Ha”, eram seus corpos físicos. Com base nisto ao morrer, o “Ha” de Sam (seu corpo físico) permanece no mundo dos vivos, enquanto seu “Ka” (sua alma) vai para um lugar chamado de “Emenda”, que fica entre o nosso mundo e as Praias.

Enquanto estiver na “Emenda”, o “Ka” de Sam precisa encontrar o “Cordão” de seu “Ha” para que então possa voltar à vida no mundo real. Isto permite que o jogo não tenha de fato um Game Over, porém, todas as vezes que Sam morre ao ser pego por EPs, ao voltar da “Emenda” uma obliteração acontece, formando no local uma imensa cratera e tudo o que havia naquela região desaparece.

*Cratera formada em uma região após voltar da “Emenda”.

O Ínicio De Um Novo Gênero

Como mencionei no início, a contra capa da mídia física, destaca um novo gênero de jogo, o “Strand System” e este é o principal conceito do multiplayer de Death Stranding.

É possível criarmos escadas e inserir cordas para atravessar terrenos íngremes ou que possuem fortes correntes de água quando próximo a rios, para tornar a nossa viagem mais acessível, esses itens podem ser deixados no mesmo lugar para que outros jogadores também tenham esse mesmo acesso em suas travessias, sem a necessidade de criá-los novamente.

Após algumas horas de jogo, temos acesso ao CQP, conhecida como uma espécie de mini-impressora quiral que permite que várias estruturas sejam construídas e utilizadas por vários jogadores na sua “rede”, como pontes, geradores, abrigos da chuva, tirolesas, estradas, entre outros. São usados alguns materiais específicos para criação de cada uma dessas estruturas, dentre eles os Cristais Quirais que encontramos pelo solo, somente esperando que os pegue. Algo bem legal, é que toda e qualquer estrutura, independente se fomos nós quem a construímos ou não, é possível ser melhorada por qualquer outro jogador que passe por ela.

Todas as vezes que usamos a estrutura que foi construída por um outro jogador, ele recebe uma curtida, assim como também você irá receber caso alguém usufrua de suas construções, este número de curtidas irá influenciar no level de nosso personagem.

Outra ferramenta de compartilhamento no jogo é o uso de placas de aviso, por meio de um menu temos acesso a diversas delas, cada uma com uma mensagem que pode ajudar muito os próximos jogadores ao chegarem em determinada região que seja necessária uma atenção maior. Essas placas podem ser posicionadas em qualquer lugar que queira sinalizar um perigo ou apontar os locais, como abrigos para a chuva temporal, rotas mais fáceis, rios com correntes mais fortes, áreas de EPs ou locais que tenham os chamados MULAs, inimigos seres humanos que nada mais fazem do que querer roubar suas cargas, então fique atento à eles também.

*Ponte construída com o uso de uma CQP, ideal para atravessar rios e áreas menos acessíveis.

Um Lugar Para Descansar

O quarto privado serve como abrigo para descanso e para repor nossas energias, é nele que Sam irá usar o banheiro, tomar banho, dormir e colocar o BB para se recuperar depois de um exaustivo dia, principalmente se nos depararmos com muitas EP’s ao longo do trajeto. Nos maiores centros de distribuição sempre terá um quarto privado, pronto para ser usado, porém é possível por meio da CQP construir um em qualquer lugar que você ache necessário ter, geralmente terá alguns na metade de longos trajetos, já construídos por outros jogadores, mas novas construções nunca são demais em Death Strading.

Sam aproveitando o quarto privado para saborear um “Criptobiótico”.

A Violência Traz Consequências  

O combate contra os inimigos humanos, no caso os MULAs, podem ser evitados na maior parte do jogo, a não ser nas missões que tenha a necessidade de invadir seus acampamentos para recuperar uma carga roubada. A forma de combate de Sam, é bem peculiar, ele usa cordas como fonte de defesa para imobilizar o adversário ou armas com munição hérmetica, que são constituídas de seu próprio sangue, sendo eficazes contra as “EPs”, mas que somente atordoa os humanos.

Armas com munição letal à base de pólvora também podem ser obtidas no decorrer do jogo, porém, como já destacamos antes, os cadáveres têm ligação às praias e às “EPs”, que são manifestas por meio deles, então, se é uma rota que passamos constantemente, temos que analisar muito bem as possíveis consequências.

Caso ocorra de eliminarmos algum ser humano, mais precisamente um “Mula”, devemos colocar o corpo em um saco e leva-lo até o incinerador, se não o fizermos, após algum tempo exposto a chuva temporal irá chegar na região e consequentemente uma “EP” será manifestada, podendo tornar toda a área perigosa.

*Não deixe corpos espalhados pelo mundo, eles atraem “EPs”, ao menos que o faça para querer enfrentá-las depois.

A Imersão Musical

A trilha sonora foi composta por Ludvig Forssel, mesmo compositor de outra obra do Kojima, o Metal Gear Solid V, último jogo dele ainda na Konami. Mas o grande destaque vai para as músicas cedidas especialmente para o jogo pelas bandas Low Roar e Silent Poets. Durante uma viagem à Islândia, Kojima ouviu uma das canções da banda Low Roar na rádio, não hesitou e logo comprou o CD, se tornando fã declarado da banda.

*Quando estiver no quarto privado, é possível escolher uma música ambiente do jogo que esteja em sua playlist.

A Conquista de Prêmios Dignos

Death Stranding foi indicado a vários prêmios, inclusive pelo The Game Awards 2019, o qual venceu as categorias de “Melhor Direção de Jogo”, “Melhor Trilha Sonora” e “Melhor Performance para o ator Mads Mikkelsen”

Além do ator Mads Mikkelsen, mais conhecido por seu papel como o Dr. Hannibal Lecter, na série “Hannibal”, outros atores fizeram parte do elenco, inserindo suas capturas de movimento, fisionomias e vozes, o que trouxe ainda mais realidade ao jogo. Dentre o elenco, está Norman Reedus como Sam Potter Bridges, nosso entregador, ator muito conhecido pelo papal de Daryl Dixon na série The Walking Dead.

*Sob o olhar de Mads Mikkelsen.

Considerações Finais

Este foi o primeiro título de Hideo Kojima de forma independente com a Kojima Productions, mais uma vez ele nos mostrou o qual fascinante um jogo pode ser, e que vários conceitos dos quais obtemos ao longo da vida, podem ser em dado momento questionados. Death Stranding teve muitas críticas negativas, talvez a maior parte delas de quem não jogou e se baseou somente em alguns trechos que possa ter visto em vídeo. A Experiência obtida nesta obra, vai muito além de qualquer jogo já desenvolvido, a profundidade de sua narrativa é algo surpreendente e que merece uma atenção devida.

Algo genial que o Kojima nos apresentou nesta obra, é justamente a empatia e o cuidado com o próximo, muitas missões secundárias consistem em levar cargas aleatórias a outros sobreviventes, o que nos faz ter um maior cuidado com a mercadoria para entregar nas melhores condições possíveis. Outro fator, é a questão de não termos uma arma com munição letal em boa parte do jogo, o que nos faz partir somente para a defesa e imobilização.

Dê um presente a si mesmo, jogue Death Stranding.

Avaliação:
Gráficos: 10.0
Diversão: 10.0
Jogabilidade: 10.0
Trilha sonora e Efeitos Sonoros: 10.0
Performance e Otimização: 10.0
Nota Final: 10.0 / 10.0

Por Rafael Castillo

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