Análise (Review) de Company of Heroes 3 – Um Potencial de Qualidade Desperdiçado

4 de março de 2023 Off Por José Daniel

Ficha do Jogo:
Lançamento: 23 de fevereiro de 2023.
Jogadores: Um jogador, multiplayer online e co-op multiplayer.
Gênero: RTS, Estratégia em turnos.
Desenvolvedora: Relic Entertainment.
Publicadora: SEGA.
Idiomas disponíveis: Português (Brasil), Inglês, Francês, Italiano, Alemão, Japonês, Turco, Coreano, Tcheco, Polonês, Chinês (Tradicional e Simplificado) e Espanhol (Espanha).
Plataformas: PC – Computador (Em breve em consoles).
Tempo do jogo: 10 a 50 horas (Varia de jogador para jogador).
Versão do jogo analisada: Versão americana para Computador.

Classificação Indicativa: +16 anos.

Apresentação Inicial

Company Of Heroes é um clássico jogo de RTS (estratégia em tempo real) com temática de Segunda Guerra Mundial, lançado originalmente em 2006 para computadores. Após um sucesso estrondoso, uma sequência surgiu em 2013, elevando o padrão da série e deixando-o em um patamar difícil de se competir. Após 10 anos de espera, Company Of Heroes 3 é lançado para os computadores e está previsto, ainda para o ano de 2023, a sua versão para consoles da nova geração.

Antes de entrarmos de vez na análise, vale lembrar que seguirei da mesma forma que fiz com as análises de Humankind e Total War: Warhammer III, já que também são jogos de estratégia e ambos serviram de inspiração para o novo modelo de gameplay de COH3. A questão agora é: será que COH3 conseguiu superar seus antecessores?

*O jogo foi jogado em um computador que atende aos requisitos e todas as screenshots foram tiradas durante o gameplay.

Enredo

COH3 apresenta duas campanhas distintas e igualmente interessantes: uma dinâmica campanha italiana (com um sistema ao estilo WAR e TWWIII) e uma no norte da África (campanha linear). Após passarmos pelos frontes Ocidentais e Orientais, agora estaremos nos aventurando pelo Mediterrâneo. É mais que um pano de fundo, mas menos que um enredo cinematográfico.

“Buckram chega na África”

Como o Jogo Funciona?

A fórmula original de Company of Heroes foi reformulada em uma tentativa de elevar o padrão da franquia, mas sem perder a essência das mecânicas que consolidaram Company of Heroes como uma grande referência em jogos de estratégia em tempo real. A ideia de trazer duas campanhas distintas e com gameplays diferentes é arriscada, porém, se bem executada, pode ser uma tática de mercado bastante recompensadora. O que acontece com o novo título da franquia é algo que não é fácil para mim em criticar, pois gosto bastante dos antecessores.

Logo de cara, temos a sensação de um jogo incompleto, em meio ao estágio de desenvolvimento ou um Early Access que nunca saberemos se verá a luz do dia. Suas mecânicas trazem ótimas ideias, tanto estruturalmente quanto em facilidade de aprendizado, estando bem mais intuitivo e funcional. No entanto, a execução é falha, incompleta e, em algumas situações, ridículas, deixando um gosto amargo, com uma bela pitada de diversão no meio disso tudo.

Uma história interessante. Mais que um conceito, menos que um enredo cinematográfico.

Campanhas

O sistema de campanha é um dos grandes diferenciais do terceiro título de COH e traz algumas coisas bem interessantes para implementar novas mecânicas ao game. As campanhas possuem histórias próprias, onde o jogador escolhe como vai progredir, a ordem que irá jogar e se dividem com quatro facções.

Na campanha italiana (a que joguei primeiro), temos: os Estados Unidos, com um estilo agressivo e adaptativo e os Britânicos, seguindo uma linha mais bem-equilibrada e resiliente. Já na campanha do Norte da África, nós temos os Werhmacht alemães (força de defesa alemã), com um estilo técnico e defensivo e, não menos importante, os Afrika Korps, divisão africana dos nazistas, com um estilo voltado para equipamentos pesados, normalmente antitanques e outras ferramentas móveis.

Afrika Korps em ação.

Como cada campanha segue um estilo próprio, ou seja, o jogador possui uma liberdade de escolher algumas coisas no meio do caminho, além de poder trabalhar seguindo apenas as missões principais ou até mesmo fazer as missões secundárias que aparecem para, eventualmente, ajudá-lo em algum combate principal. As secundárias não são obrigatórias, mas para um bom desempenho na partida, é ideal que sejam concluídas.

Uma missão secundária, logo no começo da nossa aventura.

Com uma repaginada no visual da interface, podemos organizar nossa estratégia de forma bem simples e intuitiva, apenas colocando o cursor do mouse em cima da ferramenta e entender como ela funciona. Além disso, como de costume dos jogos de estratégia da SEGA, temos mais de uma hora de tutorial, se contarmos com a introdução e o prólogo das campanhas. Apesar de muitos jogadores não gostarem desse tipo de coisa, eu acho extremamente válido para quem quer aprender. O tutorial em si não é obrigatório, mas com certeza irá ajudar nesse e em outros jogos do gênero.

Dicas sempre são bem-vindas.

Mecânicas

O brilho de Company of Heroes 3 está em suas mecânicas. O jogo apresenta inúmeras formas de se cumprir seus objetivos e traz algumas novidades bem interessantes. Apesar de a base se manter firme nas duas campanhas, cada uma possui coisas únicas e mecânicas próprias.

Na campanha italiana, o combate segue o sistema de “tabuleiro” visto em Total War. Ou seja, nós movemos os nossos personagens em turnos e temos que esperar a ação adversária para podermos prosseguir. Temos um número específico de movimentos para realizar antes de encerrarmos cada turno. No geral, temos a opção das estradas (mais rápidas, mas com menos chances de encontrar recursos) e formas alternativas (oferecem maior quantidade de recursos, mas exige mais turnos para chegar ao local desejado).

Mapa ao estilo War.

Outra forma de avançarmos, é conquistando lugares que estão fora do nosso objetivo principal. Quanto mais locais conquistamos, maior será a quantidade de recurso que podemos capturar e estocar. Ao ficarmos sem recursos, precisaremos recuar até a base para reabastecer, tomando muito tempo e podendo nos prejudicar, atraindo emboscadas e ataques inimigos.

Invadindo novos lugares e conquistando suprimentos.

Classes

Os nossos peões (soldados) estão novamente organizados em classes (infantaria, engenheiros, antitanques, entre outras) e cada uma com sua respectiva função. Na organização do meio de combate, a variedade que o game apresenta é a melhor de toda a franquia, mas acaba sendo prejudicada pela Inteligência Artificial dos inimigos e a forma em que os inimigos e aliados recebem dano. É bem comum você atirar com um tanque em um grupo de inimigos e eles receberem danos menores que de uma granada.

Para tentar compensar o desbalanceamento em relação aos danos, podemos escolher companhias para nos auxiliarem na campanha. Inicialmente, podemos escolher apenas uma, porém, conforme progredimos, poderemos agregar novas tropas e somá-las ao nosso time. Eu utilizo o estilo clássico de “mano a mano” e evito tropas de combate a distância. No entanto, utilizando algumas durante o gameplay, elas estão bem precisas e eficientes.

Tudo depende do que o jogador planeja durante os combates.

Para poder “comprar” novas equipes e produzir equipamentos, veículos e aprimorar nossas armas, utilizaremos pontos específicos de cada área. Conforme conquistamos bases inimigas, elas poderão ser fontes de munição, alas médicas, combustível e coisas do tipo. Dessa forma, os pontos coletados por esses postos e durante o combate, nos recompensarão com pontos para aprimorarmos nosso pelotão.

Precisa destruir pontes? Chame os engenheiros. Precisa abrir caminhos bloqueados por arames? Chame os engenheiros. Quer destruir tanques e artilharia pesada do time adversário? Sem problema, tem classes para isso também. Tudo, nesse aspecto, é muito bem trabalhado e mantém o jogador ligado ao combate. Estão todos morrendo? Recue para a base para não perder seus homens.

Recursos são essenciais para um bom progresso.

Lealdade

É uma característica muito valorizada em períodos de guerra (atualmente está em falta) e, por sorte, COH3 sabe bem disso. Na campanha italiana, seremos orientados por três pessoas: General Buckram, General Norton e Eleonora Valenti. Em algumas situações, receberemos ordens de um deles e o outro irá oferecer um plano diferente. Nesses momentos, teremos que escolher qual das táticas será a melhor opção naquele momento e isso poderá desagradar o outro. Conforme progredimos com a barra de lealdade, receberemos benefícios daquele personagem que poderão facilitar a nossa jornada. O ideal é tentar manter um equilíbrio para não perdermos força contra os nazistas.

A barra de lealdade é preenchida de acordo com nossas decisões e oferecem benefícios.

Modos de Batalha

Estou dando maior destaque a campanha italiana por ela ser mais robusta e dinâmica do que a campanha do Norte da África. O sistema de combate dessa segunda, segue o padrão linear de combate em campo: coloque as tropas em seus devidos lugares, dê ordens e vença a luta. Já no modo italiano, temos o que TWWIII trouxe anteriormente para o gênero de estratégia. Quando encontramos inimigos pelo caminho, podemos batalhar de forma automática (deixar o jogo decidir) ou fugir e receber uma certa quantia de dano. Caso não tenhamos a opção ou optemos pelo conflito manual, teremos o sistema linear aplicado, ou seja, é nele que nós controlamos os personagens e montamos nossas táticas, além de recebermos recompensas adicionais.

Na aba de habilidades de apoio, temos uma “árvore de habilidades” onde trocamos pontos por benefícios e algumas facilidades durante o combate. Vale lembrar que, além do sistema original de combate, podemos obter suporte de outras equipes. Desse modo, podemos receber apoio aéreo, reforços em veículos pesados, varreduras, etc. É bem completo e com uma aplicação interessante.

Ataque em combate secundário.

Gráficos e Comportamento In-Game

Aqui é onde o jogo peca e o torna inferior aos seus antecessores. Nas imagens de divulgação de Company of Heroes 3, nos é apresentado um jogo bem bonito, com diversos detalhes no cenário, diferentes ambientes e aparentando ser superior ao Company of Heroes 2. Contudo, ao iniciar o jogo pela primeira vez, tive um choque de realidade e percebi que mesmo com as configurações beirando às máximas em quase tudo, o jogo parecia estar visualmente incompleto, vazio e com efeitos inferiores até mesmo ao Company of Heroes de 2006 (em pleno 2023).

A destruição do cenário é medíocre e inacreditavelmente fraca. As animações são boas, mas são travadas e podem bugar com uma certa frequência. Houve uma situação onde meus soldados faziam movimento de pular muro, sem haver sequer um obstáculo na frente. Faziam isso no seco e ainda dava uma travada para finalizá-lo. A sensação de algo ainda não finalizado é altíssima. Enquanto as mecânicas funcionam bem e trazem o diferencial para o jogo, toda a estrutura visual ficou datada a ponto de ser inferior aos anteriores em 90% desses aspectos. A única coisa que me animou em relação a isso, foi perceber o jeito que o nosso time carrega metralhadoras fixas e as operam. Porém, só isso, não sustenta um jogo de R$300,00.

Início da campanha italiana. Denso e incompleto.
Início de Company of Heroes 2. Superficial e completo.

Problemas e Bugs

COH3 traz inúmeros bugs e problemas, desde tanques entrando na parede e não conseguindo se movimentar, soldados ficando preso em caixas, até aliados não respondendo adequadamente aos comandos e má-otimização. O jogo tem recebido atualizações desde o seu lançamento, mas nada me tira da cabeça que temos em mãos um produto inacabado com um potencial gigantesco desperdiçado. Tem sido bem comum nos dias atuais, os jogos estarem meia-boca e receberem patches de correção (quando recebem), porém, COH3 traz uma ideia incrível e transforma a experiência em algo, no mínimo, fraco.

Extras: Trilha sonora e Tradução

Felizmente, a trilha sonora está impecável. Cada detalhe foi feito pensado de acordo com os acontecimentos em tela. Músicas orquestrais da mais alta qualidade, superando com tranquilidade os jogos anteriores. Ouvi várias músicas enquanto escrevia essa análise e, nesse quesito, não escrevo com pesar. Um show sonoro! Infelizmente, isso vale apenas para as músicas. Os efeitos sonoros de armas, sons de guerra em geral, estão bem mais fracos.

Para os fãs brasileiros de plantão, o jogo trouxe legendas em PT-BR para deixar a experiência mais atraente. Não é o suficiente para consertar o estrago da edição, mas minimamente animador, já que agora temos tradução.

Conclusão

Company of Heroes 3 estava com a faca e o queijo na mão, porém, derrubou o queijo na terra e se cortou com a faca. Traz ótimas ideias e tentam aplicar de forma satisfatória, mas erra em toda a aplicação conjunta com gráficos, efeitos e imersão prejudicada por conta da enorme sensação de “coisa incompleta e inacabada”. Diverte dentro do proposto e agrada aos fãs que esperavam por uma inovação na franquia. Por outro lado, oferece uma decepção ainda maior, já que não consegue superar seus antecessores, muito menos se sustentar por tantas horas a fio. Inúmeros problemas técnicos e uma má-otimização. Uma trilha sonora esplêndida e de respeito, mas que peca em efeitos comuns em situação de guerra. Não é tão decepcionante quanto Cyberpunk 2077 foi, mas está longe de ter sido um acerto em cheio.

Pontos Positivos

  • Ótimas mecânicas
  • Campanhas distintas e interessantes
  • Trilha Sonora excepcional
  • Interface intuitiva

Pontos Negativos

  • Incompleto e inacabado
  • Problemático e bugado
  • Gráficos ultrapassados e efeitos visuais fracos
  • Efeitos sonoros de armas e de guerra
  • Mal-otimizado
  • Inferior aos jogos anteriores (inclusive o de 2006)

Avaliação:
Gráficos: 5.0
Diversão: 8.0
Jogabilidade: 8.0
Trilha Sonora e Efeitos Sonoros: 7.0
Performance e Otimização: 6.0
NOTA FINAL: 6.8 / 10.0

*Essa análise foi produzida a partir de uma cópia do jogo gentilmente cedida pela SEGA.

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