Análise (Review) de Limbo – Não há distinção entre arte e games

Análise (Review) de Limbo – Não há distinção entre arte e games

14 de dezembro de 2020 Off Por Allan Lima

Há 10 anos atrás, em meio a crescente popularização dos jogos Indies, Limbo era lançado no mercado, através do serviço Xbox Live Arcade e posteriormente portado para diversas plataformas. Logo se tornou um dos primeiros títulos indies a atingir sucesso global, obtendo enorme sucesso comercial e de crítica, fazendo com que o mesmo tenha se tornado um dos indies mais influentes da década. O jogo aparece constantemente em listas de melhores jogos de todos os tempos e inclusive ajudou a colocar em pauta discussões onde se questionava a relação entre vídeo games e arte. 

De fato, é impossível jogar Limbo sem observar sua relação com a arte e o quão longe ele vai com seu minimalismo em uma época com jogos cada vez mais complexos e grandiosos. Mas o que fez Limbo ser tão aclamado como jogo em si? A experiência em termos de gameplay vale tanto quanto sua atmosfera e sua direção artística?

O jogo em si

Limbo é um jogo de plataforma 2D focado em resolução de Puzzles para que se possa avançar pelos cenários. Você controla um garoto sem nome que acorda em um ambiente estranho e cheio de perigos, e aos poucos precisa aprender a interagir com o cenário para poder progredir e encontrar a sua irmã. Esta pequena definição já entrega basicamente como o jogo funciona durante todo o tempo que você passa com ele, e essa simplicidade se estende aos comandos também, pois para avançar na jornada você utiliza apenas dois botões além do direcional, um deles tem a função de pulo e o outro de interação com os objetos. 

O jogo aproveita-se de uma física surpreendentemente apurada para elaborar seus puzzles, que aliás, são muito inteligentes e apresentam um desafio que intriga o jogador e passa uma sensação de superação ao vencer cada um deles. A grande maioria exige um bom timing e uso preciso dos controles, ao mesmo tempo que estimulam o raciocínio; a todo o tempo encontramos armadilhas de ursos, imãs, lâminas e lugares inalcançáveis que necessitam do uso consciente de objetos no lugar e hora certa. O jogo funciona na base da tentativa e erro, e os próprios desenvolvedores definem o estilo de jogo como “tentativa e morte”, então prepare-se para morrer diversas vezes até conseguir avançar, o que pode frustrar os jogadores menos pacientes. Há uma divisão por capítulos curtos e o jogo salva automaticamente a cada puzzle e desafio resolvido, minimizando a frustração caso o jogador morra diversas vezes, o que é uma solução interessante para impedir que o jogador perca muito progresso. 

Paciência é uma virtude praticamente obrigatória para se apreciar o jogo, e jogadores que possuem uma tendência a preferirem ação certamente podem achar o jogo maçante, mesmo ele tendo uma curta duração – cerca de 3 horas. Embora os puzzles sejam bem elaborados e divertidos, o ritmo em que eles se apresentam podem cansar rapidamente até mesmo os jogares que gostam de uma experiência mais cadenciada, próximo do final do jogo eu já não aguentava mais puxar caixa e resolver puzzles a cada 5 minutos. O jogo sofre de uma certa falta de variedade em sua segunda metade, que contrasta com a as diversas surpresas e até inimigos presentes nos momentos iniciais do jogo.

A Arte Minimalista

O grande destaque de Limbo gira em torno de um ponto principal: Seu minimalismo. 

A começar pela parte visual do jogo, que não utiliza cores, ao invés disso o jogo conta com uma estética que remete aos filmes Noir, muito difundidos nos anos 40, e também ao expressionismo alemão que surgiu nos anos 20. Com uma pitada de efeito granulado, a parte visual do jogo é um espetáculo à parte mesmo diante de sua aparente simplicidade, chegando a criar uma atmosfera pesada e até um pouco bizarra. Em diversos momentos tive a sensação de estar numa espécie de pesadelo infantil, fugindo de armadilhas e criaturas em cenários que lembram pântanos e grandes centros industriais.

A estética Noir nos cinemas dos anos 40

Vale destacar também uma característica interessante: a violência do jogo. Para cada morte há uma animação bizarramente realista pros padrões da arte do jogo, com desmembramentos e até sons de ossos se quebrando, isso acaba fazendo com que o jogo flerte ainda mais com um lado terror.

No aspecto sonoro temos uma trilha sutil e extremamente fiel à ambientação e clima do jogo, com efeitos sonoros pontuais que dão uma entonação depressiva e dark, chegando até a lembrar algumas músicas presentes na franquia Silent Hill. Os sons ambientes também são precisos e realçam o “vazio” do jogo, criando um contraste com o som ambiente. 

Por último, mas não menos importante, temos o enredo do jogo que apesar de presente, é tão subjetivo e pouco explicado, que fica a cargo do jogador tirar suas próprias conclusões. Não há diálogos, explicações ou mesmo textos, é apenas você e sua própria interpretação dos acontecimentos do jogo, especialmente o final, que apesar de ser um tanto repentino demais, é capaz de nos deixar pensando após finalizar o jogo. 

Limbo é uma experiência singular, que apesar de não ser perfeita, é obrigatória para aqueles que acreditam em vídeo games como forma de arte e, principalmente, para aqueles que são fãs dos indies e querem experimentar um dos mais fundamentais para a consolidação do que hoje já podemos chamar de gênero. E se um dia você se ver em um debate onde o assunto é arte e vídeo games, traga à tona Limbo como exemplo. 

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