A criação de Yoshi: o dinossauro que quase não existiu e mudou Super Mario para sempre

Dos rascunhos engavetados à fama mundial, descubra como um simpático dinossauro verde se tornou um ícone da Nintendo

Quando Super Mario World chegou às prateleiras em 1990, muitos jogadores se apaixonaram imediatamente por uma criatura fofa, de bochechas redondas e língua elástica: Yoshi. O simpático dinossauro rapidamente se tornou o queridinho dos fãs e um dos rostos mais reconhecíveis da Nintendo, ao lado do próprio Mario. Mas o que pouca gente sabe é que Yoshi quase não existiu — e que sua jornada até os controles dos jogadores foi tão tortuosa quanto uma fase cheia de buracos, Koopas e lava.

A criação de Yoshi é um exemplo clássico de como paixão criativa, limitações técnicas e insistência podem moldar o curso da história dos videogames. Prepare-se para descobrir os bastidores curiosos, os desafios e a genialidade por trás do nascimento de um dos personagens mais amados dos games.

Um Sonho Antigo de Miyamoto

Tudo começou com uma ideia na cabeça de Shigeru Miyamoto, criador de Mario e mente por trás de várias franquias lendárias da Nintendo. Desde os tempos do primeiro Super Mario Bros., lançado em 1985, Miyamoto tinha o desejo de colocar Mario montado em um animal. Em seu imaginário, seria um tipo de cavalo ou criatura que ajudaria o encanador a atravessar os mundos com mais agilidade, explorando novas possibilidades de jogabilidade.

Mas o NES, com seus limitados recursos de memória e processamento, simplesmente não comportava essa ideia. A Nintendo teve que deixá-la de lado — mas não esquecê-la.

Durante o desenvolvimento de Super Mario Bros. 3, a equipe chegou a tentar introduzir a mecânica de montaria, mas novamente esbarrou em barreiras técnicas. Foi apenas com a chegada do Super Nintendo e seu poder gráfico e de memória muito maior que o projeto finalmente pôde ganhar vida.

A Volta Por Cima no Super Nintendo

Em meados de 1989, enquanto a equipe de Super Mario World ainda discutia a identidade do novo jogo, Takashi Tezuka, diretor do projeto, notou uma ilustração colada na parede do escritório de Miyamoto. Era um velho rascunho de Mario montado em uma criatura semelhante a um dinossauro. Aquilo reacendeu a faísca criativa.

Tezuka então propôs trazer a ideia de volta, e pediu ao designer gráfico Shigefumi Hino que começasse a trabalhar em um novo personagem que Mario pudesse montar. A primeira versão criada por Hino parecia mais um crocodilo do que um dinossauro — algo longe do apelo simpático que eles buscavam. A criatura era grande demais, com traços mais duros e pouco convidativos.

Tezuka então sugeriu que o personagem fosse menor, mais “fofinho” e com aparência de ser um “primo distante dos Koopas”. Hino foi refinando o design, diminuindo a cabeça, arredondando os olhos e suavizando as linhas. O personagem começou a tomar forma: um corpo rechonchudo, um casco vermelho nas costas (que serviria de sela para Mario) e olhos expressivos que transmitiam bondade e curiosidade. Nascia, assim, o visual clássico de Yoshi.

O nome também veio de forma curiosa. Como ainda não havia uma definição oficial, a equipe usou como nome temporário “Yoshi”, em homenagem a Mie Yoshimura, uma das artistas da Nintendo na época. O apelido pegou — e o resto é história.

Yoshi: Muito Mais Que Um Power-Up

O sucesso de Yoshi não foi só estético. A mecânica de gameplay introduzida com ele foi revolucionária. Pela primeira vez, Mario podia montar em uma criatura que:

• Comia inimigos, ajudando a limpar o caminho com facilidade.
• Saltava mais alto e permitia um segundo pulo ao descer da montaria.
• Adquiria habilidades únicas, como cuspir fogo, voar ou esmagar o chão, dependendo da cor da casca de tartaruga que engolia.
• Servia como um “escudo” extra — ao ser atingido, Yoshi fugia, mas Mario não perdia uma vida imediatamente.

Essas funções tornaram o gameplay mais dinâmico e estratégico. E o mais importante: Yoshi não era só um cavalo com habilidades. Ele era um personagem com alma, personalidade e expressão. Seus olhos arregalados ao engolir algo, o gesto de se afastar assustado ao ver um inimigo e o modo como balançava a cabeça ao comer frutas adicionavam um toque de vida e carisma incomparável.

O Dinossauro Que Ganhou o Mundo

O impacto de Yoshi foi tão grande que ele rapidamente se tornou protagonista de sua própria linha de jogos. Em 1995, Super Mario World 2: Yoshi’s Island foi lançado com um novo estilo artístico e foco total no dinossauro, agora cuidando de um bebê Mario. O jogo foi aclamado pela crítica e consolidou Yoshi como personagem independente.

Desde então, ele estrelou dezenas de títulos próprios, como Yoshi’s Story, Yoshi’s Woolly World e Yoshi’s Crafted World, além de estar presente em praticamente todos os jogos coletivos da Nintendo, como Mario Kart, Smash Bros. e Mario Party.

Yoshi também se tornou um sucesso de merchandising, estampando desde mochilas escolares até pelúcias, camisetas, canecas e até edições especiais de consoles. E, talvez o mais importante: ele virou o “personagem favorito” de uma geração inteira de jogadores.

Um Rascunho Que Mudou a História

A criação de Yoshi é um daqueles momentos raros em que um sonho antigo finalmente encontra a tecnologia certa, no momento certo, com as pessoas certas. O que começou como um simples desejo de colocar Mario em cima de um animal acabou se transformando em um dos maiores acertos da história da Nintendo.

Mais do que um sidekick, Yoshi é uma lição de design de personagem — com mecânicas únicas, apelo visual universal e presença marcante. Em uma indústria cheia de mascotes esquecíveis, ele continua sendo relevante e amado mais de 30 anos após sua estreia.

Então, da próxima vez que você montar no seu Yoshi em Super Mario World, lembre-se: aquele dinossaurinho verde já foi apenas um rascunho colado na parede. Mas com talento, paciência e criatividade, ele se tornou uma lenda.