A história real do Cordyceps: o fungo que inspirou The Last of Us pode infectar humanos na vida real?

A história real do Cordyceps: o fungo que inspirou The Last of Us pode infectar humanos na vida real?

13 de maio de 2025 Off Por Markus Norat

De documentários da BBC para os videogames: a ciência e o terror real por trás do apocalipse fictício que conquistou os fãs de The Last of Us

Um terror real disfarçado de ficção

Quando The Last of Us foi lançado pela Naughty Dog em 2013, o mundo dos games foi surpreendido não só pela qualidade narrativa, mas também pela proposta inusitada de seu apocalipse: em vez de zumbis clássicos, os inimigos eram humanos dominados por um fungo parasita real chamado Cordyceps. O que muitos não sabiam, porém, é que esse enredo aterrorizante foi inspirado em um caso cientificamente verdadeiro, que acontece todos os dias — longe dos holofotes, mas sob o olhar atento da biologia evolutiva. A pergunta que não quer calar é: e se o Cordyceps evoluísse?

Nesta matéria especial para o Revolution Arena, vamos mergulhar nas origens reais do Cordyceps, conhecer suas vítimas atuais, entender o que a ciência já descobriu — e encarar a dúvida mais sinistra de todas: esse fungo poderia mesmo causar um apocalipse em humanos?

O que é o Cordyceps?

O Cordyceps é um gênero de fungos parasitas com mais de 600 espécies catalogadas. Ele é conhecido principalmente por infectar insetos e artrópodes. Uma das espécies mais famosas é o Ophiocordyceps unilateralis, que parasita formigas tropicais da América do Sul e da Ásia.

O ciclo de vida do fungo é tão cruel quanto fascinante: os esporos do Cordyceps se alojam no corpo da formiga, invadem seu sistema nervoso e tomam controle de seu comportamento, forçando-a a subir em folhas ou galhos — um ambiente ideal para a reprodução do fungo. Lá no alto, a formiga é morta, seu corpo é fixado ao substrato, e o fungo literalmente explode da cabeça do hospedeiro, liberando novos esporos para iniciar o ciclo mais uma vez.

Essa ação é tão precisa e eficaz que muitos cientistas a comparam a um tipo de “zumbificação biológica”. É vida imitando a ficção científica — ou vice-versa.

De documentário da BBC ao terror nos videogames

A ideia de transformar esse fenômeno biológico em horror apocalíptico foi inspirada diretamente em um documentário da BBC, “Planet Earth”, que mostrava imagens reais de formigas infectadas pelo Cordyceps. Neil Druckmann, criador de The Last of Us, revelou em entrevistas que a cena o impressionou profundamente, a ponto de imaginar: “E se isso acontecesse com humanos?”

Assim nasceu a base de um dos universos mais aclamados dos videogames, onde o fungo sofreu uma mutação adaptada ao aumento global de temperaturas, possibilitando a infecção em mamíferos — incluindo humanos. A partir daí, o mundo de The Last of Us colapsa em caos, dando lugar a Corredores, Perseguidores, Estaladores e Baiacus — cada estágio representando graus mais avançados de infecção e deformação do corpo humano.

Mas… isso poderia realmente acontecer com humanos?

A resposta curta é: não com a forma atual do Cordyceps. A versão que infecta insetos é altamente específica, evoluída para afetar apenas determinados tipos de hospedeiros. O sistema imunológico e a complexidade do cérebro humano tornam extremamente improvável que o Cordyceps consiga se adaptar espontaneamente para nos infectar.

Contudo, cientistas e epidemiologistas não descartam totalmente a possibilidade de que, no futuro, alguma espécie de fungo sofra mutações drásticas, seja por conta de alterações climáticas, exposição prolongada a ambientes urbanos ou outros fatores desconhecidos. Essa teoria ganhou força após o aumento de infecções fúngicas em humanos nos últimos anos, como o Candida auris, que já causou surtos hospitalares resistentes a medicamentos.

Outro ponto de alerta é que fungos são organismos muito adaptáveis. Diferente de vírus, eles não precisam de hospedeiros vivos para sobreviver. Além disso, o aquecimento global pode fazer com que certas espécies comecem a tolerar temperaturas mais elevadas — como as do corpo humano.

Em outras palavras: a ideia de uma mutação apocalíptica ainda pertence ao reino da ficção, mas não é totalmente fora do radar científico.

Cordyceps na medicina: de vilão a aliado?

Curiosamente, o Cordyceps também tem um lado “benéfico” — ao menos em outras formas. Na medicina tradicional chinesa, uma espécie chamada Cordyceps sinensis é usada há séculos como remédio natural para aumentar a energia, melhorar a imunidade e combater doenças respiratórias.

Atualmente, estudos científicos investigam seu potencial uso no tratamento de câncer, doenças renais e diabetes, devido às suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Ou seja, enquanto o mundo teme um apocalipse inspirado no Cordyceps, a ciência ainda o explora como possível cura para outros males reais.

Entre a ficção e o alerta

O terror de The Last of Us é eficaz porque brinca com medos plausíveis. Ao transformar um fenômeno da natureza em catalisador de um fim do mundo, o jogo nos lembra que, às vezes, os maiores horrores vêm de onde menos esperamos: da própria natureza.

O Cordyceps real não vai zumbificar você amanhã, mas sua existência é um lembrete poderoso de que estamos longe de compreender todos os mecanismos que regem a vida microbiana no planeta. Em tempos de pandemia e mudanças climáticas, a ficção se torna um espelho perturbador da nossa vulnerabilidade.

E talvez essa seja a grande genialidade de The Last of Us: fazer com que a pergunta “E se isso acontecesse?” nunca mais pareça tão absurda.

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