Análise (Review) de S.W.A.N.: Chernobyl Unexplored – Um jogo de terror falho, mas ainda capaz de amedrontar

5 de outubro de 2022 0 Por Allan Lima

Ficha de jogo
Lançamento: 26 de abril de 2021
Gênero: Terror, FPS, Puzzle
Jogadores: Um jogador
Desenvolvedora: Volframe (publicado por Art Games Studios SA)
Disponível nas Plataformas: Playstation 4, PC – Computador, Xbox One, Xbox Series X|S, Nintendo Switch.
Versão do Jogo Analisada: Versão americana para Playstation 4.

O acidente nuclear de Chernobyl, ocorrido em 1986, ficou marcado na história por ser considerado até hoje o pior desastre do tipo. A tragédia se deu por conta de uma série de falhas que culminou na explosão de um dos reatores da usina nuclear de Chernobyl, localizada na pequena cidade de Pripyat no norte da Ucrânia soviética. O número de baixas é controverso, uma vez que além das mortes diretas causadas pelo acidente, há ainda as mortes que podem ter ocorrido ao longo do tempo devido aos efeitos da radiação. O número oficial é de 31 mortes como resultado do acidente, mas estudos da ONU apontam que cerca de 4 mil pessoas podem ter morrido nos anos seguintes em decorrência dos efeitos da radiação, como o câncer de tireoide. A cidade de Pripyat foi evacuada na época e até hoje permanece vazia e inabitável.

A natureza do acidente e suas consequências o torna uma temática fértil para filmes, séries e, claro, jogos de videogame. Cidade “fantasma”, os efeitos bizarros e brutais da radiação, as mortes… Todos os elementos estão ali para que se crie todo um imaginário a cerca do assunto. E é buscando explorar isso que o estúdio indie Volframe lança seu primeiro jogo, S.W.A.N Chernobyl Unexplored. O jogo, sob a perspectiva em primeira pessoa parece buscar inspiração em jogos como Outlast, Silent Hill e Stalker (que inclusive utiliza a mesma temática), mas, diferentemente destes, acaba falhando no que se propõe a fazer. O jogo definitivamente apresenta uma atmosfera envolvente e brilha em alguns momentos no que diz respeito ao aspecto terror, mas rapidamente tudo se torna previsível e esquecível graças a aspectos da história e do gameplay, que deixam a desejar.

Uma História Bizarra

O enredo do jogo se passa 9 meses após o desastre nuclear. Cientistas recebem sinais de atividades dentro da zona de exclusão ao redor da usina, além de perceberem diversas anomalias desconhecidas. Nessa área há um instituto chamado S.W.A.N, cuja sigla significa Syndrome without a name (síndrome sem nome), uma referência a sintomas desconhecidos que não se encaixam em nenhuma doença. Esse instituto estava realizando pesquisas secretas durante alguns anos explorando pacientes com problemas neurológicos graves, e após o acidente, o instituto ficou de fora da evacuação uma vez que apenas algumas pessoas importantes do governo sabiam de sua existência. Os cientistas do governo recebem de uma pessoa anônima informações das atividades que continuavam ocorrendo ali, e então decidem mandar um grupo de resgate para buscar quem ainda estivesse vivo e entender as anomalias que ali estavam ocorrendo.

A premissa do enredo é muito interessante e a introdução que a explica aos players é feita com imagens reais, tornando tudo muito crível e colocando o jogador no clima para o que está por vir. O jogo também começa com um ar de mistério que instiga o jogador e o mantém interessado. Infelizmente não por muito tempo.

A história segue por rumos um tanto quanto estranhos, com referências a outras dimensões e eventos sobrenaturais bizarros, não ajudando o fato de que tudo isso seja contado basicamente através de pequenas notas espelhadas pelo cenário. Essa direção mais psicodélica, pode sim agradar alguns jogadores, mas o problema é que ele vai se distanciando cada vez mais vez mais da temática radioativa, Chernobyl e tudo mais. Chegou em um ponto em que eu me perguntei “Por que escolheram Chernobyl como pano de fundo, afinal de contas?”. Escolheram um acontecimento que poderia gerar muitas maneiras de alimentar um jogo de terror sem muito esforço, dado a natureza do desastre, mas em vez disso os roteiristas tomaram um caminho que poderia facilmente ter sido trilhado fora desse contexto. Se não fosse o medidor de radiação que aparece quando chegamos perto de alguma criatura, você basicamente esqueceria dos acontecimentos de Chernobyl, o que acaba sendo um desperdício.

Um gameplay falho e um terror psicológico decente

S.W.A.N usa a perspectiva FPS que sem dúvida combina muito bem com o gênero; o jogo também utiliza elementos de puzzle durante praticamente toda a jornada, fazendo com que o jogador tenha que explorar o ambiente para prosseguir, sendo estes até interessantes, mas que logo caem em um looping de repetição e falta de desafio. Encontre um chave ali; ache um código para um porta aqui; e por aí vai. Começamos o jogo com apenas uma lanterna e logo temos acesso a algumas poucas bugigangas, mas nada que empolgue, pois são muito burocráticas de se usar, além de ter um uso bastante espaçado e pontual. Não há grande necessidade de usar nada também, pois os inimigos pouco dano causam, sendo uma ameaça muito mais psicológica do que ameaçadora. A movimentação do personagem, talvez buscando algum tipo de realismo, é desengonçada e consideravelmente lenta e os menus do jogo são um pesadelo para se navegar, uma vez que o cursor é quase invisível e você se perde ao tentar selecionar algo.

O grande ponto forte de S.A.W.N está no clima de terror psicológico, que funciona muito bem graças a alguns clichês muito bem aproveitados, uma trilha sonora pontual, efeitos sonoros usados de maneira inteligente e uma ambientação bem construída. É bem verdade que tudo se torna um pouco previsível, mas ainda assim você certamente vai tomar alguns sustos e sentirá medo na maior parte das poucas horas que o jogo tem de duração – é possível completar S.A.W.N em pouco mais de 2 horas, a depender do quão rápido o jogador passe de ponto em ponto.

Visuais suficientes

É sempre complicado para mim avaliar gráficos em um jogo indie pois é um aspecto que acaba dependendo bastante do orçamento disponível (e isso pode variar bastante hoje em dia), mas dentro da proposta e do contexto do game, S.A.W.N. apresenta gráficos que apesar de não serem nenhum deleite aos olhos, certamente cumpre o seu papel. As texturas do cenário são bem feitas e os efeitos de luzes são eficientes ao dar o tom para o jogo. Os monstros poderiam ter um capricho muito maior, já que a maioria deles parece inacabado, mas também não é nada que comprometa. No geral, S.A.W.N. apresenta gráficos bonitos o suficiente para a sua proposta.

Um jogo de terror com potencial desperdiçado

Embora S.W.A.N. tenha bons momentos de terror e certamente seja capaz de infligir medo ao jogador, o jogo como um todo acaba falhando no que se propõe a fazer. Sua história, apesar de ter o seu valor, não atinge e nem explora o potencial que teria, além de confundir o jogador. O gameplay truncado faz com que o jogo, apesar de curto, passe a sensação de se arrastar por um bom tempo. No final das contas, S.W.A.N pode ser uma boa pedida para os mais aficionados pelo gênero terror experimentarem, mas para o público geral há jogos muito melhores no mercado.

Avaliação:
Gráficos: 7.0
Diversão: 4.0
Jogabilidade: 4.0
Som: 8.0
NOTA FINAL: 5.5 / 10.0

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