Análise (Review) de BPM: Bullets Per Minute

24 de outubro de 2023 Off Por Olivia Marinho
FICHA DO JOGO:
Lançamento: 8 de setembro de 2022
Jogadores: 1 jogador
Gênero: Ação, Arcade, Ritmo, Shooter
Desenvolvedora: AWE Interactive
Publicadora: Playtonic Friends
Idiomas disponíveis: Alemão, Chinês Simplificado, Espanhol, Francês, Inglês, Italiano, Português, Russo
Plataformas: Microsoft Windows, PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch
Classificação Indicativa: 12 anos

Versão do jogo analisada: Nintendo Switch

APRESENTAÇÃO

Nas masmorras decrépitas de uma civilização beirando o apocalipse, onde larvas gosmentas e fétidas se arrastam ao lado de gigantes monstruosos com armas, garras e dentes afiados, vemos uma luz. As asas iluminadas de uma valquíria chamada Göll brilham por entre o desespero e odor de morte que contemplam o Ragnarok. Munida de uma mera pistola, a guerreira irá causar infinitas mortes horrendas até que possa destruir toda a desgraça que seus olhos podem ver. 

Na nossa rotina, como meros humanos, é exaustivo lutar com nossos demônios todos os dias. Assim como Göll, é preciso achar uma rota de fuga, um aliado que possa dizer que vai ficar tudo bem, ainda que não fique. Algumas pessoas vão para a academia, outras lutam, correm, comem, etc. Aqui, assim como para quase todo mundo, a música é o suporte ideal para estourar os miolos de criaturas nefastas ou só terminar um relatório de centenas de palavras.

Produzido pelo estúdio AWE Interactive, de Bedfordshire (UK), a proposta de Bullets per Minute é misturar o frenesi de um shooter extremamente veloz com a necessidade de ritmo de um jogo musical. Abaixo, analisarei as minúcias das mecânicas de jogo, se funcionam e como isso reverbera no mercado, afinal um título como esse não era muito comum em anos passados.

Este é um jogo do gênero roguelike, ou seja, possui níveis gerados proceduralmente e conta com mortes definitivas, onde você precisa zerar uma campanha em um único gameplay. Dominar cada cantinho, para superar dificuldades. Também é um jogo de ritmo, pois você precisa pular, desviar, atirar e até recarregar a arma no ritmo de um trilha sonora recheada de rock com notas ácidas e frenéticas.

ASPECTOS TÉCNICOS

É interessante começar analisando como BPM bebe das mesmas fontes da recém geração de Boomer Shooters que tem surgido no cenário independente. Esse sub gênero dos jogos de tiro se inspira muito nos antigos Doom e Wolfenstein. Esse tipo de premissa se baseia em atirar para todo lado, com aquela sensação de ver o Arnold Schwarzenegger atirando com um lança-chamas no Predador: poder total.

Une-se esse elemento violento e pesado a um jogo de ritmo como “OSU!” ou o mais recente RPG de ritmo “Crypt of the Necrodancer”, onde tudo segue uma batida determinada e não seguir esse ritmo acarreta em algum tipo de punição como perder vidas, pontos ou só não viver a experiência completa ali proposta.

O resultado é uma gameplay mista bastante interessante, mas que se comparada a outros títulos pode deixar a desejar para algumas pessoas. A sua execução é boa, mas é bastante ofuscada por sua versão de Switch que conseguiu piorar aspectos já ruins do jogo em si.

A ideia é muito boa. Já gostava desde o primeiro trailer, lançado muito tempo atrás. Parecia algo revolucionário já que não se ouvia falar muito nisso. E o erro estava bem ai. Coisa demais. Primeira pessoa. FPS. Ritmo. Roguelike. Geração Procedural. Talvez se fosse mais linear, seria menos repetitivo. Já que pune com morte permanente. Fora ser em primeira pessoa e 3D, o cognitivo desce lá para baixo.

Contudo, nem tudo são espinhos. Afinal o jogo é divertido e recebeu uma boa nota aqui justamente por isso. Gostei de sentir que deveria atirar no ritmo, pular com a batida, lidar com muitos inimigos, mas assim como os gráficos desse jogo, fiquei saturada muito rápido.

A sensação final de atirar chumbo quente em monstros pode até ser legal, mas não é tudo isso.

As hordas de inimigos são grandes demais e leva tempo para se acostumar com o nível de gameplay pedido aqui dentro. As salas procedurais são sempre bem parecidas, mas por ser um mapa gerado da mesma maneira, fica entediante chegar ao fim do jogo tendo que sair e entrar pelos mesmos lugares. Tudo aqui é pequeno. O número de personagens é até okay: 10 personagens desbloqueáveis; mas comparado ao arsenal de 7 armas, é deprimente. São pouquíssimas armas. Por ser um jogo indie, esperava um pouco mais de criatividade, especialmente, nas armas.

Mecânicas e Jogabilidade

Os controles são simples: movimentação, pulo, câmera, tiro, dash, e outros botões de funções. Jogar com o switch na versão portátil é horroroso. Só fica confortável no semiportátil ou se você jogar com o Pro Controller. Um grande problema é o botão de tiro ficar do mesmo lado do analógico da câmera. Por sorte, a acessibilidade aqui funciona e foi possível colocar essa função para o outro lado do controle.

Quanto à mecânica de ritmo: a música vai tocar ao fundo e ela possui uma velocidade e batida específica. Na tela um símbolo em formato de triângulo cortado aparece ao redor da mira, indicando quando se deve atirar. O correto é realizar os disparos o mais próximo possível do meio da mira, a cada uma batida inteira ou metade.

A velocidade de adaptação quanto a essa jogabilidade vai variar de pessoa para pessoa, mas posso dizer que para quem não é acostumado com jogos de tiro ou de ritmo, pode ser bem desafiador.

A velocidade de resposta dos comandos do jogo é a maior causa de seu possível desandamento. É possível calibrar até o instante em que tudo esteja num nível agradável, mas depois de todo estresse passado durante a adaptação, acaba que nem vale tanto a pena. A frustração com os controles foi grande, mas aqui não culpo o jogo e sim o console.

Gráficos

A proposta estética aqui é uma paleta de cores em tons quentes hiper saturados, que remete quase a um surrealismo alemão dentro de um contexto agressivo, quase como se tudo fosse coberto de suor e lama. Apesar de ornar, incomoda a vista e muito. É bem cansativo jogar mais do que 30 minutos sem fazer uma pausa sequer. Fora o problema constante de confundir alguns inimigos devido a cor, como as larvas marrons andando num chão marrom sob uma luz amarronzada. Simplesmente horroroso.

Som

A melhor parte do jogo é a sua trilha sonora. Sinto que se BPM fosse um álbum conceitual funcionaria muito bem. Destaque aqui no fator de poder usar as armas como instrumentos, de certa maneira. Cada uma atira na batida e possui som próprio, funcionando de maneira bem orgânica com a OST. Dá para criar batidas, apesar de haver pouca possibilidade de experimentação. Ainda é um jogo bem quadrado.

Diversão

Como é possível sentir lendo até aqui, pode-se dizer que é um título nichado com pouco potencial de causar alegria. Jogos FPS não são difíceis assim como os de ritmo, mas agradam só uma parcela de pessoas. É preciso achar o círculo de convergência de players que amariam uma união desses dois gêneros. Players de ritmo versus outros jogos podem ser vistos como um grupo ainda mais a parte, por estarem acostumados a níveis altos de gameplay, mas mesmo em BPM o solo não é muito fértil. Nem aprofundei aspectos dentro do game, pois são muito parecidos com qualquer outro roguelike mediano. Funciona para quem gosta de games nos quais já se sabe o que será entregue.

Performance e Otimização

A versão de switch roda em resolução menor e piora a visão do jogo, com as cores agora meio borradas. Algumas opções de configuração permitem mudanças para melhorar o conforto (ou conectar a um monitor maior). Mas, mesmo com ferramentas, o jogo é muito frustrante se comparar com a versão de PC, que permite uma otimização mais potente.

Aqui uma crítica forte a não existência de uma versão de PS5 ou XBOX SERIES S/X. Espanta, pois caso não haja uma versão logo BPM pode se perder com o passar tempo. Apesar de tudo que foi dito até aqui, se comparar a jogos de ritmo e tiro como Metal Helsinger (muito pior que este), aqui vemos potencial de um clássico cult, devido a seu minimalismo,seu pioneirismo. Entretanto, ser simples não deveria significar fazer pouco como foi feito até então.

CONCLUSÃO

Deve-se levar em conta que BPM é jogo musical com elementos de história e não o contrário. Isso impacta na sua recepção negativa (vide notas de outros lugares), já que foca mais no ritmo. Pessoalmente,  jogar com mouse deve ser melhor até do que com joystick. Demorei muito a me acostumar com a mecânica de atirar na hora certa, mesmo sendo adepta de jogos de ritmo. Funciona, mas é incômodo. Tem o problema dos inimigos demais, coisas demais num game que faz tão pouquinho.

Talvez se fosse em terceira pessoa ou até isométrico seria interessante, mas já que segue a base de um boomer shooter, tudo bem que seja em primeira pessoa, mas não funciona. No meio de tantos boomer shooters, BPM consegue se destacar, mesmo não sendo um bom shooter. Como jogo de ritmo é muito bom, como jogo roguelike… ainda é (só) um bom jogo de ritmo.

PONTOS POSITIVOS

  • Inovador como ideia, apesar da execução ser até menos do que “okay”;
  • Trilha sonora épica.

PONTOS NEGATIVOS

  • Cores saturadas demais;
  • Hud poluído (pode ser desligado);
  • Poucas versões para consoles mais recentes.
AVALIAÇÃO:
Gráficos: 5.0
Diversão: 8.0
Jogabilidade: 5.0
Som: 10.0
Performance e otimização: 7.0
NOTA FINAL: 7.0

Confira o trailer do jogo:

* Análise produzida a partir de uma cópia cedida pela produtora do jogo.

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