Análise (Review) de The Last Worker – Proposta interessante, execução entediante

21 de abril de 2023 Off Por Allan Lima
FICHA DO JOGO:
Lançamento: 30 de Março de 2023
Jogadores: 1 jogador
Gênero: Aventura
Desenvolvedora: Oiffy, Wolf & Wood
Publicadora: Wired Produtions
Idiomas disponíveis: Inglês / Português
Disponível para as Plataformas: PC – Computador (Windows); Playstation 5; Xbox Series X|S, Nintendo Switch, Playstation VR
Classificação Indicativa: 16 (linguagem imprópria, violência)

Versão do jogo analisada: Versão americana para Playstation 5

Observação: É importante ressaltar que a versão análisada foi a comum e não a VR, uma vez que esta última pode mudar consideravelmente a experiência com o jogo.

The Last Worker à primeira vista me pareceu ser um indie com uma atmosfera pesada e tema profundo, mas nos primeiros minutos é possível perceber que se trata de um jogo que traz sim temas sérios e importantes como capitalismo exagerado, ativismo e distopia, mas também procura envolver isso com doses generosas de humor e um gameplay relativamente simples. No jogo você irá resolver pequenos puzzles e passar por sessões simples (até demais) de stealth, intercaladas por momentos em que terá que separar caixas para entregas, uma vez que você assume o papel de um trabalhador de uma empresa claramente inspirada na Amazon. The Last Worker possui um conceito interessante e ideias que poderiam ser extremamentes inventivas e divertidas, mas infelizmente o jogo cai em um looping repetitivo rápido demais, e essas boas ideias são vítimas precoces de uma execução entediante.

Uma única grande família

É importante de cara falar de um aspecto importante do jogo, que é a história que envolve o gameplay. Você entra na pele de Kurt, um trabalhador que está há 25 anos na mesma empresa, a Jüngle, uma gigantesca empresa varejista – uma óbvia sátira da Amazon. Kurt atravessa diversas fases de automação da força de trabalho da empresa, até que ele se torna o último trabalhador humano da coorporação. Ele é acompanhado por Skew, um robô que o auxilia e se torna o seu único amigo dentro da coorporação. Certo dia, em mais dia da tediosa rotina de Kurt, uma representando de um grupo de ativistas, a S.P.E.A.R, o contata para tentá-lo convencer a sabotar a empresa, segundo eles é extremamente prejudicial para a população.

É com essa premissa e com uma dose de humor que o jogo tenta envolver o jogador ao longo de suas poucas horas de gameplay. Um dos lemas da Jüngle, “Uma única grande família”, já mostra bem o tipo de cinismo que conduz o humor presente durante toda a narrativa, que em muitos momentos me lembrou desenhos clássicos como “Os Simpsons” e “Futurama”.

A trama ainda tenta surpreender o jogador com alguns elementos de relações humanas interpessoais em meio a um futuro distópico comandado pelo capitalismo excessivo. Tudo envolvido por um trabalho de dublagem excelente, que passa credibilidade especialmente ao personagem principal, dando o tom certo a um trabalhador de meia idade com muito tempo de casa em uma empresa.

Mas apesar da temática interessante, a narrativa de The Last Worker falha em grande parte do jogo. Os plots principais são jogados aleatoriamente sem muito desenvolvimento, e mesmo os aspectos mais interessantes como o embate entre ativismo VS capitalismo são pouco aproveitados. A impressão que fica é que os desenvolvedores foram ambiciosos demais para o pouco tempo de jogo, tentando um pouco de tudo quando a trama poderia ser um pouco mais focada.

Um trabalho monótono

The Last Worker usa a perspectiva em primeira pessoa, e o jogador tem o controle da Jünglepod, uma espécia de mini nave que é usada para locomoção e também como ferramenta para carregar as caixas presentes no armazém da empresa. O looping de gameplay do jogo é dividido em três principais elementos: Stealth, Puzzle e as tarefas de separação e entrega de caixas.

A separação e entrega de caixas consiste basicamente em pegar caixas e levar até o local correto para distribuição. Se caixa estiver correta, isto é, sem estar danificada e com tamanho e peso correto, ela pode ir para entrega. Se houver algum dano ou o peso estiver incorreto, ela deve ir para o centro de reciclagem. Para pegar a caixa você usa uma uma espécie de pistola magnética, e para pesá-la e verificá-la você pode girar a caixa e colocá-la no Jünglepod, que possui um medidor. Caso ela esteja danificada ou com pesagem e tamanho errado, você possui outra pistola a qual você pode usar para colar a etoqueta sinalizadora devida e levá-la à reciclagem. Em um dia de trabalho você precisa realizar o máximo de distribuições possíveis em um tempo determinado, sendo que no final você receberá um nota. Receber um “F” (de Fired!), significa que você está despedido e é game over.

Os controles são pouco intuitivos e o Jünglepod desnecessariamente lento, o que pode levar a frustrações frequentes, especialmente nos momentos de pegar e soltar as caixas. Mas ironicamente, esse elemento de gameplay que teoricamente representaria a chatisse de um dia de trabalhador comum, é a mais divertida apesar dos problemas. Talvez se os desenvolvedores tivessem focado mais o gameplay nessa parte, o jogo seria mais enxuto e divertido, porém The Last Worker vai um pouco mais além tentando entregar Stealth e Puzzles, e é aí que a coisa desmorona.

Quando a ativista da S.P.E.A.R entra em cena, o jogo passa a focar em sessões de stealth que consistem basicamente em andar fora do campo de visão dos robôs vigilantes. Não há criatividade, não há nenhum comando específico que favoreça esses elementos de stealth, nada. Em um dado momento, você e sua companheira se deparam com uma espécie de corredor com máquinas dos dois lados, algumas pilastras e um espaço no meio, então ela diz “vamos ter que improvisar”. Seria a oportunidade perfeita para talvez mostrar alguma arma diferente, alguma mecânica criativa ou algo do tipo, mas o jogo te limita a simplesmente seguir reto, fazendo o que vc tem feito há horas: ficar fora do campo de visão dos robôs e avançar com o seu lento Jünglepod.

Chegamos então ao terceiro elemento do gameplay, que são os puzzles. Mas, novamente, criatividade definitivamente não é a palavra de ordem aqui. Há basicamente um tipo de puzzle forçado constantemente ao longo da aventura, que é um sistema de hack no qual vc basicamente precisa resolver uma espécie de cubo mágico em um limite de tempo. O problema é que girar os cubinhos não é intuitivo e o jogo, além do limite de tempo, impõe a você robôs patrulhadores, tornando a experiência extremamente irritante. Não há outro tipo de puzzle relevante, e apesar do jogador adquirir alguns poucos apetrechos ao longo do jogo, náo há estímulos nem uso para eles além de partes determinadas a usá-los.

A estrutura que compõe todo jogo fica assim:

Trabalhe com caixas > sessões de stealth > alguns puzzles de cubos no caminho > volte ao trabalho > repita o processo.

O jogo logo fica tão maçante quanto qualquer trabalho repetitivo da vida real.

O visual do capitalismo

The Last Worker utiliza a técnica de cel shading muito bem, entregando visuais cartoonizados que agradam e dão personalidade própria ao game. Os personagens foram desenhados a mão e baseiam-se em conceitos das obras de Mick MacMahon, famoso quadrinista que trabalhou em quadrinhos como Juiz Dredd.

O gigantesco centro de distribuição da Jüngle retrata muito bem como podemos imaginar um galpão de gigantes como a Amazon, mas em um futuro distópico. Os personagens são muito bem feitos e as expressões faciais do personagens principal são ótimas. Há algumas ressalvas a serem feitas, como a demasiada escuridão em alguns momentos e o uso excessivo de corredores e espaços limitados, mas ainda assim, The Last Worker não decepciona no quesito visual.

O som do capitalismo

Jogar The Last Worker com um bom fone de ouvido é uma ótima experiência. As músicas dão um tom de tensão e isolamento, com uma vibe meio tecnológica e até mesmo psicodélica em alguns momentos. Já mencionei aqui que o trabalho de dublagemé incrível, mas vale reforçar. Muitos momentos de humor funcionam em grande parte por conta disso. Os efeitos sonoros também não ficam atrás e entregam o que se espera. À exemplo dos visuais, a equipe de som da Wolf & Wood Interactive Limited está de parabéns pelos esforços nesse aspecto do jogo.

Uma experiência entediante

Quando terminei The Last Worker, não pude deixar de pensar que o jogo tem boas ideias e um conceito extremamente interessante, mas parece querer abraçar mais do que pode. É o tipo de jogo que pede uma simplicidade em seu gameplay, mas a dosagem errada fez com que a execução e o balanço final ficasse completamente monótono e desinteressante. Infelizmente é difícil recomendar o jogo, ao menos em sua versão normal. Quem sabe a versão em VR consiga entregar algum atrativo.

Avaliação:
Gráficos: 7.5
Diversão: 4.0
Jogabilidade: 4.0
Som: 9.0
Performance e otimização: 8.0
NOTA FINAL: 6.5 / 10.0

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