Guayota – Análise (Review) – Aventura e enigmas em um mundo mítico e misterioso

Guayota – Análise (Review) – Aventura e enigmas em um mundo mítico e misterioso

6 de setembro de 2024 Off Por Samuel Hardman

Quando iniciei minha jornada em Guayota, confesso que não sabia muito sobre a mitologia das Ilhas Canárias. O jogo me atraiu pela promessa de uma aventura intrigante, com puzzles desafiadores e uma trama mergulhada em lendas antigas. Logo nas primeiras horas, percebi que havia algo especial aqui – algo que vai além da típica fórmula de jogos de puzzle e aventura. Os desenvolvedores construíram um mundo repleto de mistério, com um cuidado visível na recriação da mitologia Guanche, e eu mal podia esperar para descobrir cada pedaço dessa história.

Logo de cara, fui jogado em uma ilha mítica, cheia de armadilhas e segredos, onde o escopo da narrativa e a atmosfera sombria evocam uma sensação quase Lovecraftiana. Guayota mistura misticismo e história em um único game de quebra-cabeças, o que é muito legal; mas será que o jogo realmente consegue sustentar sua premissa interessante com uma jogabilidade envolvente e uma execução técnica de alta qualidade? Vamos descobrir.

Mecânicas e Jogabilidade

Uma das coisas que mais me impressionou em Guayota foi sua abordagem minimalista e, ao mesmo tempo, profunda dos puzzles. O jogo começa simples, introduzindo-me ao seu sistema básico de resolver enigmas com o uso de uma tocha e cristais que, quando colocados corretamente, desbloqueiam portas e revelam passagens secretas. No início, esses desafios são fáceis de resolver, dando-me a sensação de estar sendo “preparado” para algo muito maior – e eu estava certo.

À medida que avancei pelos templos labirínticos da ilha, a complexidade dos puzzles aumentou. Não era apenas sobre iluminar cristais; o jogo adicionou múltiplos tipos de pedras com diferentes propriedades, como a habilidade de refletir luz ou explodir para abrir novas áreas. Cada templo me forçava a repensar minha abordagem, muitas vezes exigindo que eu encontrasse soluções criativas que misturavam habilidades adquiridas anteriormente.

O diferencial aqui é o sistema de dois reinos. Sempre que minha tocha se apagava (seja por armadilhas mortais ou erros de cálculo), eu era transportado para um plano alternativo, uma dimensão espiritual onde os mesmos cenários existiam, mas com uma nova camada de desafios. Esse sistema é um dos grandes acertos de Guayota. Ele não apenas adiciona variedade à jogabilidade, mas também reforça o tema místico e sombrio da narrativa. Resolver um puzzle no plano físico era apenas metade da tarefa; muitas vezes, eu precisava transitar entre as duas dimensões para obter a solução completa.

Contudo, nem tudo é perfeito. O jogo implementa armadilhas que podem ser frustrantes. Há seções em que o tempo e a precisão são essenciais, o que pode ser um pouco contraproducente para um título de quebra-cabeças, onde eu esperava mais tempo para reflexão e planejamento. A sensação de ser apressado em certos momentos, especialmente quando armadilhas mortais estão envolvidas, fez com que algumas fases perdessem um pouco do encanto, me forçando a repetí-las várias vezes. Isso não foi suficiente para diminuir a qualidade geral da experiência, mas é algo que, em certos momentos, testou minha paciência.

Gráficos

Visualmente, Guayota é lindo; um verdadeiro espetáculo em tons sombrios. Os cenários escuros, quase claustrofóbicos, contrastam fortemente com a luz emitida pela tocha, criando uma atmosfera tensa que se alinha perfeitamente à narrativa Lovecraftiana do jogo. Cada templo subterrâneo que explorei parecia ter sido esculpido com cuidado, com detalhes que me faziam sentir o peso da história nas paredes ao meu redor. É como se cada pedra, cada mural e cada altar carregassem o fardo de séculos de mitologia e mistério.

A alternância entre os dois reinos – físico e espiritual – é um dos pontos altos do design visual. O plano físico é escuro, opressor, com tons terrosos e sombras densas. Já o plano espiritual traz uma explosão de cores etéreas, com luzes mais brilhantes e um contraste vívido que facilita a navegação e a resolução dos puzzles.

Entretanto, essa estética sombria tem um preço: em alguns momentos, senti que o jogo era excessivamente escuro. Por mais que a ambientação contribuísse para a atmosfera, a escuridão excessiva tornou difícil identificar pontos importantes, como armadilhas ou elementos dos puzzles. Embora seja possível destacar objetos-chave pressionando um botão, essa mecânica não substitui a frustração de tentar navegar por áreas em que mal se consegue ver o que está à frente.

Som

A trilha sonora de Guayota merece elogios por sua habilidade de intensificar a sensação de mistério e solidão. O uso de sons ambientes, como o eco das cavernas ou o som sutil do vento, cria uma atmosfera densa que contribui para a imersão total na experiência do jogo. Muitas vezes, eu me peguei parado, simplesmente ouvindo os sons ao meu redor enquanto tentava entender o próximo desafio.

Os efeitos sonoros são igualmente bem executados. O som da tocha crepitando, o eco de uma porta se abrindo ao resolver um puzzle ou o som distante de armadilhas ativando-se dão vida ao mundo do jogo, reforçando o aspecto de perigo iminente que permeia cada esquina.

Se há uma crítica a ser feita, seria à falta de dublagem. Embora os diálogos sejam transmitidos por texto, acredito que uma dublagem de qualidade poderia ter elevado ainda mais o envolvimento com os personagens e a história. O jogo conta uma história rica e profunda, e senti que, em alguns momentos, o impacto emocional se perdeu um pouco pela falta de vozes.

Diversão

A diversão em Guayota vem, sem dúvida, da satisfação de resolver seus puzzles bem desenhados. A sensação de “eureka” que acompanha a solução de um puzzle mais difícil é sempre um dos momentos mais recompensadores do jogo. O ato de alternar entre dois reinos, utilizando os pontos fortes de cada um para avançar, mantém a experiência fresca e envolvente, e há uma verdadeira alegria em superar os desafios mais intrincados.

No entanto, nem tudo é perfeito nesse aspecto. A inclusão de armadilhas físicas em algumas áreas – que exigem reflexos rápidos e precisão – pode interromper o fluxo de resolução de quebra-cabeças. Eu me encontrei, em várias ocasiões, sendo jogado para o plano espiritual sem a chance de processar completamente o que estava acontecendo, o que prejudicou um pouco a imersão e me deixou um pouco frustrado. Para um jogo que é principalmente cerebral, essas seções de ação pareciam desnecessárias e um pouco fora de lugar.

Ainda assim, para aqueles que amam desafios intelectuais e a sensação de progresso constante, Guayota oferece uma experiência gratificante e, em grande parte, divertida.

Performance e Otimização

Em termos de desempenho, joguei Guayota tanto no Nintendo Switch quanto no PC, e a experiência foi estável em ambas as plataformas. No Switch, o jogo roda bem tanto no modo portátil quanto na TV, sem quedas significativas de taxa de quadros ou travamentos. O carregamento entre os reinos é quase instantâneo, o que é essencial para manter o ritmo dos puzzles.

No entanto, há alguns pequenos problemas que podem ser aprimorados. Em certos momentos, percebi que a câmera, mesmo com a opção de movimentá-la, não oferecia a melhor visão dos elementos cruciais do cenário. Isso levou a algumas mortes desnecessárias e à repetição de fases, o que poderia ter sido evitado com uma câmera mais fluida ou com ajustes nos ângulos de visão.

Além disso, a escuridão excessiva em algumas áreas, como mencionado anteriormente, pode dificultar a navegação, especialmente em momentos onde a precisão é essencial. Uma melhoria na iluminação, ou talvez a introdução de mais pontos de controle ao longo das fases, poderia melhorar muito a experiência e reduzir a frustração.

Conclusão

Guayota é um título único, com uma abordagem rica e imersiva à mitologia e aos quebra-cabeças. A transição entre reinos, os puzzles criativos e a atmosfera sombria criam uma experiência instigante e desafiadora. Embora as armadilhas físicas possam atrapalhar o ritmo e algumas áreas sejam excessivamente escuras, o jogo consegue se destacar pela originalidade de seu design e pelo nível de desafio proporcionado.

Recomendo Guayota para quem gosta de quebra-cabeças que exigem raciocínio lógico e uma narrativa envolvente, baseada em mitologia. Apesar dos pequenos tropeços, o jogo oferece uma experiência gratificante e inovadora que vale a pena explorar.


Pontos Positivos:

  • Puzzles inteligentes e bem desenhados.
  • Sistema de dois reinos que adiciona profundidade à jogabilidade.
  • Atmosfera imersiva e trilha sonora envolvente.
  • Narrativa baseada em mitologia menos conhecida.

Pontos Negativos:

  • Armadilhas frustrantes que atrapalham o fluxo.
  • Excessiva escuridão em alguns cenários.
  • Falta de dublagem que poderia melhorar o impacto emocional.

Avaliação:
Gráficos: 8.0
Diversão: 7.5
Jogabilidade: 8.0
Som: 8.5
Performance e Otimização: 7.0
NOTA FINAL: 7.8 / 10.0

  • Análise produzida a partir de uma cópia do jogo cedida pela Produtora do Jogo.

Deixe o seu comentário abaixo (via Facebook):