A Vingança da Sony: Como a Nintendo Ajudou (Sem Querer) a Criar seu Maior Rival

A Vingança da Sony: Como a Nintendo Ajudou (Sem Querer) a Criar seu Maior Rival

23 de maio de 2025 Off Por Markus Norat

A quebra de contrato que mudou tudo

Nos bastidores da indústria dos videogames, algumas decisões mudam o curso da história de maneira tão profunda que se tornam verdadeiros mitos modernos. Uma delas é a surpreendente reviravolta no relacionamento entre Nintendo e Sony no início dos anos 1990. O que começou como uma promissora parceria entre duas gigantes japonesas acabou gerando um dos maiores atos de “acidente estratégico” de todos os tempos. Sem perceber, a Nintendo não apenas perdeu um aliado — ela criou, com as próprias mãos, o seu maior rival: o PlayStation.

A parceria promissora

No fim dos anos 80, a Nintendo dominava o mercado global de videogames com seu icônico Super Nintendo (Super Famicom no Japão). Buscando modernizar seu sistema e aproveitar o potencial emergente dos CDs, a empresa começou a trabalhar em uma expansão para o console baseada em mídia óptica. Para isso, firmou um acordo com a Sony, que desenvolveria um periférico de CD-ROM para ser acoplado ao SNES. O projeto foi provisoriamente chamado de “Play Station” (sim, separado) e teria capacidade para rodar tanto cartuchos quanto CDs.

A escolha da Sony parecia natural: a empresa já era uma potência em tecnologia de áudio e vídeo e havia ajudado no desenvolvimento do chip de som do próprio Super Nintendo. A ideia era unir forças para lançar uma plataforma híbrida, fundindo o domínio da Nintendo em jogos com a expertise tecnológica da Sony. Tudo caminhava para ser uma revolução. Até que tudo desandou.

A traição pública da Nintendo

Durante a Consumer Electronics Show (CES) de 1991, a Sony subiu ao palco para anunciar sua colaboração com a Nintendo e apresentar ao mundo o projeto do novo leitor de CD. A apresentação foi bem recebida, com entusiasmo do público e da imprensa. Mas no dia seguinte, veio o golpe que ninguém esperava.

A Nintendo, sem aviso prévio à Sony, anunciou no mesmo evento que havia fechado um novo acordo para desenvolvimento de seu leitor de CD com… a Philips — uma rival direta da Sony. A decisão foi comunicada publicamente, de forma fria e calculada, com a Sony ainda no evento e sem qualquer chance de reação. Foi uma humilhação sem precedentes no mundo corporativo japonês.

O ponto de virada

A mudança repentina da Nintendo foi motivada por preocupações com os termos do contrato anterior. A Sony, como co-desenvolvedora da nova mídia, teria controle sobre o licenciamento e distribuição dos jogos em CD. Para uma empresa que prezava pelo controle absoluto de seus produtos e parceiros, como era o caso da Nintendo, isso era inaceitável.

A decisão de romper o acordo parecia, à época, uma jogada estratégica para manter esse controle. Mas foi também uma aposta de alto risco que subestimou o orgulho ferido — e a capacidade técnica — da Sony. O que era para ser apenas um desacordo contratual virou combustível para uma vingança histórica.

A resposta da Sony: jogar para vencer

Humilhada, mas não derrotada, a Sony teve uma escolha difícil a fazer: abandonar o projeto e sair do mercado de jogos, ou seguir em frente sozinha, transformando a tecnologia que havia desenvolvido em um console independente. Foi aí que entrou em cena um nome essencial para essa história: Ken Kutaragi, o engenheiro responsável pelo chip de som do SNES e pela concepção técnica do projeto original do Play Station.

Com apoio direto da alta cúpula da empresa, a Sony decidiu seguir por conta própria. O projeto foi reformulado, renomeado e transformado no PlayStation, com lançamento marcado para 1994. O console usaria CDs, ofereceria poder gráfico inédito e uma abordagem de mercado completamente diferente da concorrência.

Filosofia aberta e abordagem moderna

Enquanto Nintendo e Sega impunham rígidas limitações aos estúdios que queriam desenvolver para seus consoles, a Sony adotou o caminho oposto: ofereceu ferramentas acessíveis, custos menores e total liberdade criativa aos desenvolvedores. Essa decisão atraiu rapidamente uma avalanche de apoio de estúdios terceirizados, muitos deles cansados da burocracia das concorrentes.

O resultado? Quando o PlayStation chegou às lojas, ele já contava com um catálogo robusto, incluindo jogos que se tornariam lendários: Ridge Racer, Tekken, Wipeout, Final Fantasy VII, Resident Evil e muitos outros.

A virada do jogo

Em pouco tempo, o PlayStation não apenas competiu — ele venceu. O console da Sony superou em vendas tanto o Nintendo 64 quanto o Sega Saturn, tornando-se o videogame mais vendido da quinta geração. A marca, até então novata no mercado, se transformou em sinônimo de inovação e liderança. E a Nintendo, que havia dominado o mercado por duas gerações seguidas, de repente se via em segundo plano, pela primeira vez.

A ironia disso tudo? Foi justamente sua tentativa de manter o controle absoluto que a fez perder o monopólio — e criar, indiretamente, o maior concorrente que a indústria dos games já viu.

Um erro que moldou o futuro

A quebra de contrato entre Nintendo e Sony é um exemplo clássico de como decisões estratégicas, quando mal calculadas, podem ter efeitos colaterais imprevisíveis. O PlayStation nasceu de uma ruptura, de um projeto abandonado e de um sentimento de revanche — e se transformou em um império de bilhões.

Desde então, a marca PlayStation se consolidou com múltiplas gerações de consoles bem-sucedidos, enquanto a Nintendo passou a trilhar um caminho mais independente e inovador, mas sem a hegemonia absoluta que teve nos anos 80 e início dos 90.


A história da origem do PlayStation não é apenas sobre tecnologia — é uma lição sobre orgulho, estratégia e subestimação. Quando a Nintendo descartou a Sony, achou que estava apenas corrigindo um acordo comercial. Mal sabia que estava acendendo a centelha de uma revolução.

Hoje, ao vermos a rivalidade entre PlayStation e Nintendo, poucos se lembram que tudo começou como uma aliança. E menos ainda sabem que, talvez, o maior erro da Nintendo foi ter dito “não” a quem estava prestes a mudar o jogo para sempre.

Gostou desta matéria? Compartilhe com seus amigos e continue acompanhando o Revolution Arena para mais histórias que marcaram o mundo dos games.

Deixe o seu comentário abaixo (via Facebook):