
O dia em que o mundo acabou: como The Last of Us mostra os primeiros minutos do fim da humanidade
14 de maio de 2025Um mergulho angustiante no prólogo do jogo e no episódio 1 da série. Como a morte de Sarah moldou Joel – e o mundo!
Quando o fim não vem com um estrondo, mas com um sussurro trágico
Poucas obras da cultura pop conseguiram capturar o início do fim da humanidade com tanta intensidade quanto The Last of Us. Tanto no jogo de 2013 quanto na adaptação da HBO lançada em 2023, o prólogo da história é mais do que uma introdução: é um golpe emocional, um retrato visceral do colapso social em tempo real e o nascimento de um novo mundo, cruel, sem regras e sem esperança.
Nesta matéria especial do Revolution Arena, mergulhamos na narrativa poderosa e angustiante dos primeiros minutos de The Last of Us, explorando as sutilezas do roteiro, a simbologia da queda da civilização e o impacto psicológico da morte de Sarah — o evento que define tudo o que Joel se tornaria dali em diante. Prepare-se para reviver o dia em que o mundo, como conhecemos, acabou.
O dia comum que virou tragédia: 26 de setembro de 2013
É uma manhã como qualquer outra nos subúrbios de Austin, Texas. Joel está atrasado para o trabalho, e Sarah — sua filha de 12 anos — o surpreende com um presente de aniversário: um relógio. A cena, aparentemente banal, é um dos momentos mais sensíveis da narrativa, repleta de amor e humanidade. O que ninguém sabe é que esse seria o último aniversário que os dois passariam juntos.
O que se segue é uma construção tensa, milimetricamente planejada, em que sinais sutis de que algo está errado começam a aparecer: ambulâncias passando, sirenes ao fundo, uma reportagem interrompida por uma explosão. O terror se infiltra como um vírus invisível — e é exatamente isso que ele é. O fungo Cordyceps começou a infectar a população, e o mundo está desmoronando antes mesmo que as pessoas percebam.
O apocalipse visto pelos olhos de uma criança
Um dos maiores acertos do jogo original — e mantido com maestria na série da HBO — é mostrar o colapso da civilização sob a perspectiva de Sarah. Ao invés de tiros, explosões e caos, vemos confusão, medo e incredulidade. Essa escolha narrativa não é à toa: ela aumenta o impacto emocional e faz com que o jogador (ou espectador) se identifique com a impotência de alguém que não entende o que está acontecendo.
Na adaptação da HBO, esse efeito é ampliado: acompanhamos Sarah indo à escola, visitando vizinhos, assistindo TV. Pequenos detalhes mostram que algo está errado — mas ninguém quer aceitar. Quando tudo desaba, a transição é brutal: da vida cotidiana à luta pela sobrevivência, em questão de horas.
A estrada, a ponte e o inevitável
A sequência da fuga é um espetáculo cinematográfico. Joel, Sarah e Tommy (irmão de Joel) tentam sair da cidade enquanto ela se transforma em uma zona de guerra. Incêndios, colisões, pessoas correndo em pânico. A câmera, no jogo, permanece em primeira pessoa dentro do carro, e na série, segue o mesmo princípio: o público não assiste ao caos — ele vive o caos.
Mas é quando a ponte está bloqueada e eles precisam seguir a pé que a tragédia se aproxima. Sarah machuca a perna. Joel a carrega. Estão sendo perseguidos por infectados. Encontram um soldado. E, então, o momento que mudaria para sempre não apenas a vida de Joel, mas toda a atmosfera emocional de The Last of Us: o tiro.
O soldado recebe ordens de matar. Não infectados. Não monstros. Apenas pessoas tentando sobreviver. O disparo vem. Sarah é atingida. E morre nos braços do pai. O grito de Joel, desesperado, ressoa como o anúncio do novo mundo: a humanidade acabou. Só sobrou a dor.
O nascimento do homem quebrado
A partir daquele momento, Joel morre por dentro. Décadas se passam e ele emerge como um contrabandista frio, endurecido e alheio às emoções. É o mesmo homem, mas com um buraco que nunca mais será preenchido. The Last of Us não constrói seu protagonista como um herói — mas sim como um homem traumatizado, que perdeu tudo e se recusa a amar novamente.
A morte de Sarah não é apenas um artifício narrativo. É o marco zero de uma sociedade que deixou de acreditar em futuro. É o ponto em que a empatia desaparece e a sobrevivência se torna a única lei. Joel representa essa nova era. Um mundo onde perder alguém é inevitável — e se apegar é uma fraqueza perigosa.
O eco do fim: Joel, Ellie e a segunda chance
Anos depois, quando Joel conhece Ellie, o vínculo que ele tenta evitar começa a se formar. Mas a sombra de Sarah está presente em cada gesto, em cada momento de dúvida. Ellie é sua segunda chance — mas também seu maior medo. O medo de perder novamente. O medo de amar de novo.
Essa dualidade é o motor emocional de The Last of Us. E tudo começou naquele dia. Naquela noite em que Sarah caiu. Naquela ordem dada por rádio. Naquele disparo sem rosto. O apocalipse pode ter sido causado por um fungo, mas o que realmente destruiu a humanidade foi a quebra de tudo o que a tornava humana: empatia, compaixão, família, inocência.
O fim do mundo não veio com zumbis — veio com luto
O prólogo de The Last of Us é, talvez, o mais poderoso já criado em um jogo moderno. Ele não precisa de grandes explicações, não exige longas exposições científicas. Ele apenas mostra o mundo desmoronando através dos olhos de uma criança — e nos convida a lembrar que a ruína não começa com monstros, mas com decisões humanas, desespero e perda.
A genialidade da série e do jogo é fazer com que sintamos tudo aquilo — como se fosse real. Porque, no fundo, sabemos que poderia ser. E talvez, em algum lugar, já esteja sendo.
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