Raidou Remastered: The Mystery of the Soulless Army – Análise (Review)
13 de julho de 2025Reviver Raidou Remastered: The Mystery of the Soulless Army foi, para mim, como abrir um livro antigo que havia sido cuidadosamente restaurado, página por página, mas sem jamais apagar as marcas do tempo, e isso, longe de ser um defeito, é o que mais me fascinou nesta experiência. Tive contato com inúmeros títulos da Atlus ao longo da vida, desde os momentos de tensão espiritual de Shin Megami Tensei III até as jornadas existenciais e escolares da série Persona. Mas Raidou Kuzunoha sempre foi aquele capítulo esquecido, uma peça lateral da antologia SMT que se distanciava propositalmente do “mainstream” para experimentar um híbrido entre RPG de ação, detetive noir e folclore japonês.
Foi com uma mistura de curiosidade e receio que mergulhei nesse remaster. A promessa era grande: combate retrabalhado, visuais aprimorados, demônios atualizados, e toda uma experiência remasterizada que equilibraria nostalgia com modernidade. Mas será que ele realmente entrega tudo isso? Será que consegue ser mais do que apenas uma cápsula do tempo com cara nova?
Após mais de trinta horas mergulhado nessa Tóquio alternativa da era Taishō, entre becos sujos, rituais ocultos, demônios tagarelas e uma trilha sonora digna de filme noir com pitadas de jazz sobrenatural, posso dizer com confiança: Raidou Remastered é um jogo que desafia expectativas. E é exatamente por isso que ele merece ser analisado com a atenção e profundidade que sua proposta exige.
Mecânicas e Jogabilidade
O primeiro impacto real vem com o sistema de combate. Esqueça o conforto estratégico do “press turn” característico da Atlus. Aqui, tudo é ação em tempo real. E não estou falando de uma simples adaptação, o jogo reformula completamente o que era antes um sistema criticado por sua rigidez e o transforma em algo ágil, dinâmico e até viciante.
Raidou pode executar ataques rápidos que restauram magnetite (MAG), o combustível para as ações de seus demônios, ataques pesados (agora mais diversificados com o uso de armas como espadas, lanças e machados), disparos com pistola e uma variedade de habilidades mágicas. O sistema é amarrado em uma lógica interessante: quanto mais você acerta, mais sua equipe fica forte. Há um verdadeiro ciclo de recompensa baseado na fluidez do combate, especialmente quando você explora as fraquezas dos inimigos, o que os deixa atordoados e permite ataques mais eficazes.
Duas mecânicas brilham com intensidade aqui: o Perfect Dodge, que libera contra-ataques poderosos, e a possibilidade de trocar de demônios em tempo real, o que me levou a montar formações específicas para certos chefes e áreas. E, falando em demônios, esse aspecto é um espetáculo à parte: são mais de 120 criaturas disponíveis, cada uma com sua personalidade, dublagem e até reações curiosas durante a exploração e combate. Recrutá-las exige o uso da técnica Art of Confinement, que substitui o clássico sistema de negociação, algo que, pessoalmente, achei mais direto e satisfatório neste contexto.
A exploração é dividida entre áreas urbanas e domínios espirituais. Nas cidades, a pegada investigativa é reforçada pelo uso de demônios com habilidades especiais, como ler mentes, manipular emoções ou acessar áreas bloqueadas. Já os dungeons são ricos em caminhos alternativos, passagens escondidas e puzzles leves. A introdução de fast travel e marcadores de missão agiliza o fluxo e evita frustrações, uma escolha acertada para o ritmo atual.
Se há algo a criticar aqui, talvez seja a repetição natural de algumas tarefas secundárias (como side quests de recado) e o uso limitado de certas habilidades de campo dos demônios. Mas no geral, Raidou Remastered oferece um gameplay estratégico, fluido e surpreendentemente moderno para um jogo com raízes tão profundas no PS2.
Gráficos
Visualmente, o salto é perceptível desde a primeira tela. Embora não se trate de um remake com gráficos de última geração, o que a Atlus fez aqui é notável: todas as texturas foram refinadas, os modelos de personagens, especialmente os demônios, ganharam novos detalhes, e os cenários ganharam vida com iluminação repensada, efeitos atmosféricos e uma paleta de cores que transmite muito bem o contraste entre o mundo “real” da Tóquio da era Taishō e as distorções do Reino das Trevas.
O trabalho artístico de Kazuma Kaneko permanece intacto e ainda mais impressionante em HD. Os traços dos demônios, suas expressões grotescas, olhares profundos e poses ritualísticas têm um peso simbólico que poucos jogos modernos capturam com tanta intensidade.
Os efeitos de combate também foram revitalizados. Explosões elementais, combos e finishers agora têm fluidez e impacto visual que lembram jogos contemporâneos como Tales of Arise ou até Final Fantasy XVI, sem descaracterizar a proposta do jogo original. Meu único incômodo ficou por conta de algumas expressões faciais excessivamente estilizadas ou caricatas demais em NPCs menores, os olhos e dentes, em particular, chamam atenção de forma estranha em determinados ângulos.
Ainda assim, o visual estilizado envelheceu bem, e essa nova roupagem não só preserva o charme da era PS2 como o eleva a um patamar que considero digno de um remaster de respeito.
Som
A trilha sonora é um dos pontos mais altos da experiência. Composta por Shoji Meguro, ela mistura jazz, música clássica japonesa, instrumentos de sopro com aura noir e batidas eletrônicas discretas que acentuam o mistério de cada novo caso.
É aquele tipo de trilha que funciona tanto como pano de fundo atmosférico quanto como elemento narrativo. Em momentos de investigação, o piano suave e os sopros sutilmente dissonantes te colocam no clima de detetive. Já nas batalhas, as músicas aceleram, ganham guitarras e sintetizadores agressivos, mas sem jamais soar genéricas.
O jogo também conta com dublagem completa em inglês e japonês, ambas de ótima qualidade, com destaque para a voz do Gouto (o gato-familiar de Raidou), que atua como uma espécie de narrador e conselheiro sarcástico. Os demônios falam, reagem, comentam o ambiente… e até contam piadas. Isso dá vida ao universo e torna cada criatura mais do que um “slot de habilidade”.
O único ponto que lamento, e que considero grave, é a ausência de localização para português do Brasil. Um jogo com tanto texto, nuances culturais e estilo narrativo tão específico merecia estar acessível para o público brasileiro, especialmente considerando que jogos recentes da Atlus vieram traduzidos.
Diversão
Confesso que não esperava me divertir tanto com Raidou Remastered. Eu achava que seria uma experiência mais histórica ou arqueológica do que envolvente, um daqueles jogos que respeitamos, mas não necessariamente aproveitamos. Felizmente, eu estava errado.
A mistura de investigação, ação, gerenciamento de demônios, personalização de armas, fusões e exploração me prendeu do início ao fim. Há um equilíbrio raro entre combate e narrativa, com missões episódicas que criam ritmo sem esticar demais a trama. O uso criativo dos demônios fora de combate adiciona uma camada de interatividade que me fez querer explorar cada canto dos mapas.
Claro, há momentos de repetição, como voltar a certos locais só para acionar um diálogo breve ou eliminar um inimigo específico. E os casos secundários, embora simpáticos, são um pouco superficiais. Mas tudo isso é compensado pela variedade nas batalhas, pela ambientação envolvente e pelo carisma do elenco.
Performance e Otimização
Joguei no PS5 e a performance foi praticamente impecável. O jogo roda a 60fps constantes, sem quedas nem stuttering, o que é fundamental para a fluidez dos combates. Os tempos de carregamento são mínimos, algo impensável na época do PS2, e a transição entre mapas, batalhas e menus é suave.
A interface foi redesenhada, mais limpa e funcional, e todas as funcionalidades modernas estão lá: salvamento rápido, menu de ajuda, troca de habilidades em tempo real, opção de ajustar a dificuldade (inclusive com quatro níveis distintos) e um mapa interativo decente.
Minha única reclamação aqui é a câmera em ambientes fechados, que às vezes ainda fica presa em ângulos desconfortáveis. Também notei que os menus de fusão e registro de demônios poderiam ter mais filtros e informações, como uma porcentagem de compêndio, algo básico em outros SMTs e ausente aqui.
Mas no geral, trata-se de uma remasterização muito bem executada, com atenção aos detalhes técnicos e respeito ao jogo original.
Conclusão
Raidou Remastered: The Mystery of the Soulless Army não apenas traz de volta uma joia obscura do catálogo da Atlus como a reinventa de forma respeitosa, moderna e ousada. Em um mercado saturado por jogos semelhantes, ele consegue se destacar por sua identidade própria, sua ambientação histórica singular, seu sistema de combate híbrido e seu charme soturno.
É verdade que o jogo não é perfeito: a história poderia ser mais emocional, algumas mecânicas poderiam ser melhor aproveitadas, e a falta de localização é um tropeço. Mas, ainda assim, é um dos melhores remasters que já joguei, e uma porta de entrada fascinante para um universo que merece continuar.
Se você gosta de RPGs de ação, de mitologia, de jogos com alma e personalidade, Raidou Remastered é obrigatório.
Pontos Positivos:
Sistema de combate renovado, fluido e viciante
Ambientação histórica rica e diferenciada
Demônios carismáticos com boa participação
Trilha sonora excepcional de Shoji Meguro
Remasterização com melhorias visuais e técnicas relevantes
Boa duração com missões bem ritmadas
Pontos Negativos:
Ausência de localização para PT-BR
Algumas side quests são entediantes
Interface de fusão poderia ser mais moderna
Câmera problemática em alguns ambientes fechados
Avaliação:
Gráficos: 8.5
Diversão: 9.0
Jogabilidade: 9.2
Som: 9.5
Performance e Otimização: 8.8
NOTA FINAL: 9.0 / 10.0
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