Everdeep Aurora – Análise (Review)

Everdeep Aurora – Análise (Review)

13 de julho de 2025 Off Por Markus Norat

Por um instante, me vi de volta aos tempos em que os jogos não me davam a mão, mas o coração. E foi escavando lentamente cada pixel, cada linha de diálogo e cada camada escondida do subsolo de Everdeep Aurora que compreendi: há jogos que não se medem por complexidade técnica, mas por quanto conseguem nos tocar através do mistério, da beleza e da sugestão. E este é um deles.

Joguei Everdeep Aurora tanto no Nintendo Switch quanto no PC, alternando entre sessões portáteis e jogatinas mais imersivas no monitor. A experiência, embora essencialmente a mesma em termos narrativos e estruturais, me revelou duas faces do mesmo jogo, uma mais contida e íntima no portátil, e outra mais nítida e funcional no desktop.

É importante frisar desde logo que as duas versões (PC e Nintendo Switch) apresentam seus méritos e frustrações!

Mecânicas e Jogabilidade

A base de Everdeep Aurora é simples, quase espartana: você joga como Shell, uma gatinha em busca da mãe, e seu único meio de interação com o mundo é uma broca enferrujada. Nada de combate, nada de inimigos. A ação aqui está em escavar blocos, descobrir caminhos, resolver pequenos puzzles ambientais e conversar com criaturas excêntricas que vivem nas profundezas da terra.

A simplicidade é, ao mesmo tempo, o charme e o desafio. O jogo não tem tutoriais formais, não explica suas mecânicas com clareza e raramente fornece direções. Grande parte da minha jornada foi guiada por tentativas e erros, especialmente na primeira metade, quando ainda não havia adquirido habilidades como pulo na parede ou impulsos aéreos. Muitas vezes fiquei andando em círculos, cavando em busca de algo que só depois percebi que já estava comigo, e que o jogo nunca me ensinou a usar.

O sistema de escavação é raso em complexidade, mas tem um feedback loop sensorial agradável. Escavar é lento, mesmo com melhorias, mas o som do motor e a vibração do controle tornam o ato quase terapêutico. O uso da energia da broca adiciona um leve elemento de gestão de recursos, mas nunca me senti realmente punido por ficar sem carga, apenas frustrado pela lentidão.

Os minigames e missões secundárias funcionam mais como variações de ritmo do que sistemas robustos. O jogo de dados com a cobra mercadora, por exemplo, me tomou mais tempo do que gostaria, mas ainda assim arrancou um sorriso. Já os objetivos secundários mais complexos, como caçar itens para NPCs ou encontrar passagens escondidas, exigem memória fotográfica, intuição e, às vezes, sorte.

Gráficos

Visualmente, Everdeep Aurora é um deleite em pixel art. A estética 16-bit inspirada nos tempos do Game Boy Color é executada com modernidade, fluidez e uma coesão artística rara. A paleta de cores muda de área para área, criando ambientações distintas e emocionalmente carregadas, desde jardins suaves e floridos até cavernas opressivas e laboratórios esquecidos pelo tempo.

No PC, jogando em tela cheia, pude apreciar com mais clareza os detalhes de cada sprite e ambiente. No Nintendo Switch, embora o charme permaneça, o aspecto quadrado da área de jogo e o tamanho reduzido dos ícones do inventário me causaram certo desconforto visual. A falta de opção de redimensionamento ou personalização da HUD nas duas versões é um problema persistente.

Os personagens são outro ponto alto. Cada NPC, por menor que seja, tem um design distinto, memorável e expressivo. Me peguei tirando capturas de tela frequentemente, não por vaidade, mas porque cada novo personagem parecia digno de figurar em um quadro. A animação de Shell, especialmente quando ela carrega o cãozinho Cebolleta na cabeça, é puro carisma.

Som

A trilha sonora de Everdeep Aurora é um dos grandes triunfos da experiência. Em geral, é melancólica, atmosférica e sutil, mas sabe pontuar os momentos com energia quando necessário, como nas cenas de interação social ou nas visitas a locais como a Taverna Horseshoe, onde animais tocam instrumentos e trocam boatos sobre monstros cristalizados nas cavernas.

Os efeitos sonoros são simples, mas eficazes: o zumbido da broca, os “plins” ao coletar cristais, o som abafado dos passos de Shell no subsolo. Tudo é cuidadosamente mixado para criar um clima contemplativo, como se estivéssemos explorando um diário em forma de jogo.

A versão de PC apresenta áudio mais limpo e envolvente, especialmente com fones de ouvido de qualidade. No Switch, os sons são satisfatórios, mas há uma compressão perceptível, especialmente nos momentos com várias camadas musicais.

Diversão

A diversão em Everdeep Aurora não vem de adrenalina ou progressão rápida. Ela nasce da descoberta, da curiosidade e do prazer quase infantil de explorar um mundo que parece ter sido guardado para você.

Mas essa diversão exige paciência. A falta de mapa expandido, a ausência de diário de missões, e o design intencionalmente vago das interações fazem com que a linha entre contemplação e frustração seja tênue. Houve momentos em que me senti genuinamente tocado por uma linha de diálogo ou uma revelação narrativa sutil. Mas também houve trechos em que andei por 20 minutos sem saber o que fazer, apenas para descobrir que já tinha o item certo e não sabia.

É o tipo de jogo que recompensa jogadores atentos e persistentes, mas pode repelir quem prefere experiências mais lineares. Curiosamente, foi nos momentos de total desorientação que vivi as descobertas mais marcantes. Everdeep Aurora me fez querer jogar com papel e caneta ao lado, e isso não é algo que qualquer jogo moderno consegue.

Performance e Otimização

No PC, a performance foi excelente: carregamentos instantâneos, zero bugs perceptíveis e resposta precisa aos comandos. No Nintendo Switch, no entanto, a experiência foi um pouco mais instável.

Encontrei alguns bugs gráficos na versão de Switch, como pequenos congelamentos ao entrar em portas ou ao recarregar áreas. Um dos bugs me levou a uma área do final do jogo antes da hora, quebrando a ordem da narrativa. Outro me forçou a reiniciar o console após uma tela congelada. Pior: como o jogo não possui salvamento automático, perdi cerca de 30 minutos de progresso.

O inventário, tanto no PC quanto no Switch, é desorganizado. Os itens aparecem em ordem de coleta, sem categorização ou informações detalhadas. O minimapa, embora útil para localização de NPCs principais, não permite marcações, ampliações ou rastreio de objetivos secundários.

Conclusão

Everdeep Aurora é um jogo difícil de recomendar de forma genérica, mas fácil de amar quando você entende o que ele quer ser. Ele não tenta competir com gigantes do gênero metroidvania em termos de complexidade ou amplitude. Em vez disso, ele propõe algo mais íntimo, quase filosófico: escavar, descobrir, lembrar e refletir.

Joguei em dois sistemas diferentes e, em ambos, saí da experiência com sentimentos contraditórios, entre encantamento e frustração, êxtase visual e fadiga mecânica, surpresa narrativa e confusão funcional. E ainda assim, quando desliguei o console pela última vez, me peguei pensando em Shell, em Ribbert, nos segredos escondidos pelas paredes de terra. E desejei que mais jogos me provocassem esse tipo de pensamento.

Se você gosta de jogos que confiam no seu tempo, que não te dão todas as respostas, e que valorizam mais o caminho do que o destino, Everdeep Aurora pode se tornar uma pequena joia no seu coração. Mas se você busca clareza, direção ou objetivos precisos, talvez esse não seja o seu buraco para escavar.

Pontos Positivos:

  • Pixel art lindíssima com paletas dinâmicas;
  • Personagens memoráveis e bem animados;
  • Trilha sonora melancólica e envolvente;
  • Atmosfera de mistério bem construída;
  • Liberdade de exploração recompensadora.

Pontos Negativos:

  • Falta de rastreamento de missões ou objetivos;
  • Mapa limitado e não personalizável;
  • Inventário desorganizado;
  • Bugs graves na versão de Switch;
  • Progressão mal sinalizada e momentos de desorientação extrema.

Avaliação:
Gráficos: 9.0
Diversão: 7.5
Jogabilidade: 6.5
Som: 9.2
Performance e Otimização: (versão PC: 9.0) | (versão Switch: 6.0)

NOTA FINAL:
Versão para PC: 8.24 / 10.0
Versão para Nintendo Switch: 7.64 / 10.0

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