StarVaders – Análise (Review)

StarVaders – Análise (Review)

29 de abril de 2025 Off Por David Pontes

Sou um jogador exigente quando o assunto é roguelike. Já vi de tudo: desde clones preguiçosos de Slay the Spire até tentativas genéricas de misturar tática com aleatoriedade sem nenhuma alma. Então, quando ouvi falar de StarVaders, confesso que fui cético. Um jogo que se autodefine como um híbrido de roguelike, deckbuilding e estratégia em grid? Me pareceu ambicioso demais, e eu já estava com meu escudo levantado para uma possível decepção.

Mas não. StarVaders não só me surpreendeu: ele me conquistou de uma forma que poucos jogos desse gênero conseguiram. Eu vim por curiosidade e fiquei por paixão. Foram horas e mais horas de partidas intensas, desafiadoras, cheias de decisões táticas, explosões coloridas e aquela deliciosa sensação de “só mais uma run antes de dormir”.

É claro que StarVaders não é perfeito — e falaremos disso com calma —, mas ele acerta onde realmente importa: no coração da jogabilidade, na criatividade dos sistemas e na personalidade encantadora de um universo que parece simples à primeira vista, mas que revela camadas e mais camadas conforme você mergulha fundo.

Vamos juntos nessa jornada por todos os sistemas, sons, visuais e sentimentos que esse jogo conseguiu despertar.

1. Mecânicas e Jogabilidade

Vamos direto ao ponto: a jogabilidade de StarVaders é maravilhosa. O jogo é estruturado em turnos, em combates táticos sobre um grid onde controlamos um Mech pilotado por um personagem específico. Cada turno começa com a compra de cartas — movimentação, ataque, suporte, armadilhas, buffs, debuffs — e três pontos de “Heat”, que é o recurso gasto para jogar essas cartas. Simples? Nem tanto.

A genialidade aqui está em como essas cartas interagem com os elementos do campo, com os inimigos e com os artefatos passivos que vamos adquirindo ao longo da run. Há um sistema de sinergia fortíssimo, e mesmo jogando dezenas de partidas, nunca senti que estava repetindo a mesma estratégia. Tudo muda: a disposição dos inimigos, as cartas que vêm, os modificadores, os eventos, os chefes e, claro, as builds que você monta.

São três tipos principais de Mechs:

  • O Atirador, ideal para quem curte manter distância e explodir tudo de longe com bombas e lasers;
  • O Ferrão, que se joga no meio do campo como um ninja, puxando inimigos para armadilhas e usando ataques rápidos e posicionais;
  • O Sentinela, que invoca aliados temporários e conjura feitiços, quase como um invocador tático.

Cada Mech tem três pilotos diferentes, com habilidades únicas, decks iniciais distintos e personalidades carismáticas. Jogar com um piloto muda drasticamente o ritmo da partida — e a variedade que isso oferece é absurda. Estamos falando de 9 estilos de jogo já de cara, fora as combinações de cartas e artefatos.

Os inimigos também merecem aplausos: são criativos, com padrões de movimentação próprios e sinergias internas. Há inimigos que se protegem mutuamente, outros que enchem sua mão de cartas inúteis (os famosos “Junks”), alguns que causam efeitos negativos se não forem derrotados rapidamente. E os chefes? Um espetáculo à parte. Cada um tem sua própria “mecânica de puzzle”, como um Kraken cujos tentáculos precisam ser destruídos antes do núcleo, ou um inimigo que simula um jogo de xadrez com regras específicas.

A mecânica de Chrono Tokens (Cronofichas) também é brilhante: com elas, é possível reiniciar o turno, rerrolar recompensas ou alterar a loja. Isso permite corrigir erros, testar alternativas e dar uma camada extra de controle ao caos do roguelike — sem quebrar a dificuldade, o que é crucial.

2. Gráficos

O visual de StarVaders é um dos seus maiores encantos. A arte é vibrante, com traços que remetem ao estilo anime, cores saturadas e personagens expressivos. Não há excesso de partículas, nem aquela confusão visual comum em jogos táticos com muitos elementos em tela. Aqui, tudo é limpo e funcional, o que é importantíssimo quando se trata de decisões táticas milimétricas.

Os Mechs são estilizados, com designs bem distintos. Os inimigos alienígenas variam entre robóticos, orgânicos e absurdos — e todos eles são fáceis de identificar em meio ao caos. Os efeitos das cartas são bem animados, com feedbacks visuais claros para ataques, movimentação e combos. Adorei especialmente os efeitos em cadeia: explosões que atravessam o campo, lasers que ricocheteiam, armadilhas que puxam inimigos… Tudo brilha, sem poluir.

Os cenários mudam entre os atos e oferecem variações estéticas suficientes para não parecer repetitivo. E, claro, os menus, a interface e os textos são todos organizados, com ótimo uso de ícones e informações de fácil leitura — mesmo para quem está jogando pela primeira vez.

3. Som

A trilha sonora é mais do que competente: é empolgante, climática e extremamente bem encaixada no ritmo do jogo. As músicas dos chefes são intensas e geram aquela ansiedade boa de combate final. Já nos momentos de calmaria entre as lutas, a trilha assume um tom mais atmosférico, sem cair na monotonia.

Os efeitos sonoros também merecem destaque: cada carta jogada tem um som específico, e os impactos das ações no campo — explosões, tiros, teletransportes, movimentos — ajudam a manter o ritmo da partida envolvente. Um detalhe que me pegou de surpresa: até os menus têm um “click” satisfatório. Pode parecer bobo, mas são essas pequenas escolhas de design sonoro que fazem a experiência sensorial ser ainda melhor.

Ah, e os personagens têm trechos de voz ou expressões sonoras que reforçam suas personalidades, sem ser intrusivos.

4. Diversão

A diversão em StarVaders é viciante. O jogo consegue algo raro: ele é imediato e profundo ao mesmo tempo. Fácil de entender, difícil de dominar. As partidas são curtas o suficiente para caberem em uma pausa do dia, mas intensas o bastante para prender por horas a fio.

Há uma sensação constante de descoberta. Cada nova combinação de cartas, cada novo artefato, cada piloto desbloqueado parece abrir um novo leque de possibilidades. O sistema de progressão é justo: mesmo perdendo, você desbloqueia algo. E isso te incentiva a tentar de novo, com uma nova estratégia, um novo piloto, uma build diferente.

As missões e desafios extras dão propósito às runs além da vitória. Há modificadores, penalidades permanentes, chefes alternativos, eventos narrativos, caminhos ocultos… StarVaders respeita seu tempo, mas também o desafia constantemente.

5. Performance e Otimização

Joguei StarVaders em um PC intermediário com Windows 11, e o desempenho foi excelente na maior parte do tempo. O jogo carrega rápido, é leve e roda liso, mesmo com múltiplos inimigos e efeitos simultâneos na tela.

No entanto, notei alguns bugs ocasionais: um congelamento repentino após uma explosão em cadeia, um botão que travou no Steam Deck e me obrigou a reiniciar. Nada catastrófico — o sistema de autosave funciona muito bem, então nunca perdi progresso relevante —, mas são problemas que merecem ser corrigidos em atualizações futuras.

Outro ponto: a tradução para o português é funcional, mas em algumas partes senti que os termos podiam ser mais claros, especialmente em explicações de status e efeitos complexos. Ainda assim, é um esforço louvável de localização e ajuda muito na acessibilidade.

Conclusão

StarVaders é uma dessas surpresas que fazem valer a pena explorar o universo dos jogos independentes. Ele combina tudo que eu amo: estratégia em tempo real, construção de baralho, narrativa carismática, combate tático e um sistema de progressão instigante.

Mais do que um clone de Slay the Spire ou uma homenagem a Into the Breach, este jogo é uma identidade própria. Ele domina suas inspirações, brinca com elas e entrega uma experiência que é ao mesmo tempo familiar e refrescante.

Se você gosta de pensar em cada jogada, de testar estratégias malucas, de vencer o jogo com uma build improvável e de gritar de alegria ao derrotar um chefe por um triz… esse jogo é para você.

Eu recomendo fortemente StarVaders. É criativo, divertido, cheio de conteúdo e, acima de tudo, respeita sua inteligência como jogador. É daqueles jogos que você não quer parar de jogar — e, quando para, fica pensando na próxima run.

Pontos Positivos:

  • Jogabilidade tática profunda e viciante
  • Variedade imensa de builds, cartas, artefatos e estratégias
  • Personagens carismáticos com impacto real na jogabilidade
  • Estilo visual vibrante e bem executado
  • Trilha sonora marcante e efeitos sonoros polidos
  • Sistema de progresso recompensador
  • Runs curtas, mas densas, com muita rejogabilidade
  • Mecânica de Chrono Tokens oferece flexibilidade estratégica

Pontos Negativos:

  • Pequenos bugs e congelamentos eventuais
  • Tradução ao português pode ser refinada
  • Alguns chefes parecem punir certas builds específicas demais

Avaliação Final:
Gráficos: 9.0
Diversão: 9.5
Jogabilidade: 9.5
Som: 9.0
Performance e Otimização: 8.5
Nota Final: 9.1 / 10.0

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